Floribella 15 Anos: a visão da autora Patrícia Moretzsohn

A principal roteirista da novela infantojuvenil da Band relembra o processo de adaptação da trama argentina para o JC
Robson Gomes
Publicado em 04/04/2020 às 10:15
A autora Patrícia Moretzsohn assinava a adaptação de 'Floribella', na Band, junto com Jaqueline Vargas. Foto: TV GLOBO/DIVULGAÇÃO


Para a magia de Floribella chegar ao Brasil há 15 anos, uma das responsáveis é a autora Patrícia Moretzsohn. Responsável pela redação final da trama da Band, esta autora carioca de 44 anos – filha da também novelista Ana Maria Moretzsohn – dividia a escrita com Jaqueline Vargas da adaptação da trama argentina criada por Cris Morena e roteirizada por Solange Keoleyan e Gabriela Fiore.

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Em entrevista ao Jornal do Commercio, ela conta como conheceu a novela Floricienta, o processo de adaptação da trama no Brasil, que incluiu leves mudanças de personalidade na Maria Flor (Juliana Silveira) em relação à obra original, e também explica a famosa “morte de Fred (Roger Gobeth)”, que decepcionou muito os fãs na época. Patrícia ainda revela que cedeu uma locação sua para parte das gravações de Floribella. Confira.

ENTREVISTA // PATRÍCIA MORETZSOHN

JORNAL DO COMMERCIO - Como a novela Floribella chegou para você? O que te fez "embarcar nesta viagem" como autora?

PATRÍCIA MORETZSOHN - É uma história interessante. Era 2003, eu tinha saído da TV Globo e, de volta de uma viagem pela Europa, onde aperfeiçoei meu espanhol, cursava meu Mestrado em Letras. Então, soube que na Band estavam procurando alguém que falasse espanhol e pudesse assistir a alguns episódios de uma novela argentina que eles estavam considerando adaptar. A ideia era fazer apenas um parecer, mas eu me apaixonei por Floricienta e saí falando pra todo mundo que não só valia a pena adaptar, como eu achava que eu tinha que ser a autora. Deu certo! (risos)

JC - Como era o processo de adaptação da novela? Era algo fácil?

PATRÍCIA - Tinha uma questão de desenho de produção, uma reformatação nesse sentido. Então, no começo fui seguindo os capítulos originais, mas logo passei a trabalhar em cima das escaletas e das linhas gerais da história da Floricienta para redimensionar ao que seria feito aqui. Fora essa questão técnica, não era uma adaptação complicada.

JC - Havia liberdades para improvisos seus no texto ou o roteiro, realmente, tinha que ser seguido à risca?

PATRÍCIA - Havia essa liberdade no sentido de que você caminha conforme a narrativa macro da novela, mas cada capítulo e cada cena acaba ganhando um ritmo próprio numa adaptação, isso é natural.

JC -  Na versão argentina, a Flor era um pouco mais rebelde: bebia, engravidava... No Brasil, a Flor ganhou um ar mais "angelical". Foi uma escolha sua compor a protagonista deste jeito?

PATRÍCIA - Uma adaptação envolve elementos para além da história. Por mais que o original seja muito forte, como é o caso de Floricienta, o ambiente que se cria aqui, o elenco com as idiossincrasias de cada novo ator no seu personagem, faz com que existam ajustes naturais. Nesse caso da Flor, estamos falando de duas atrizes diferentes, a Florencia (argentina) e a Juliana Silveira (brasileira), e a Juliana também traz sua contribuição como a atriz carismática que é. De certa maneira, fomos nos moldando ao ritmo dessa nova protagonista e o elenco ao seu redor. Pessoalmente, acho uma possibilidade muito rica.

JC - A morte do Frederico também foi bastante questionada na época pelos fãs, mas que só aconteceu devido ao roteiro original. Você gostaria de "não ter matado" o personagem? Na sua visão, como seria o arco do Fred na segunda temporada?

PATRÍCIA - Acho que nunca pensei num arco alternativo, porque a segunda temporada com o Conde era divertida, interessante e fomos embarcando nela. Mas, pessoalmente, eu preferia que o Fred não tivesse morrido, uma vez que nosso público gostava muito do casal.

JC - Qual sequência da novela você mais se orgulha de ter escrito?

PATRÍCIA - Não lembro, sinceramente. Eu gostava muito de tudo, e acho que o meu maior orgulho foi ter conseguido realizar esse desafio, o de levar ao ar duas temporadas de uma novela que passou a ser tão querida pelo público. Isso em uma emissora que não produz novelas com tanta regularidade.

JC - Para você, qual o segredo do sucesso de Floribella no Brasil?

PATRÍCIA - Acho que a novela era muito pop e a Flor trazia uma mensagem muito positiva, de que as pessoas podem vencer pelo amor, pelo trabalho, pela garra. O público brasileiro gosta desses bons exemplos e realmente se apaixonou por ela.

JC - Qual canção de Floribella é a mais especial para você e porquê?

PATRÍCIA - Eu gostava de todas e canto até hoje! Mas acho que as músicas de abertura [Floribella e É Pra Você Meu Coração] acabavam sendo mais especiais porque ficava aquela expectativa – “vai começar!”

JC - O que poucas pessoas sabem sobre os bastidores de Floribella e você gostaria de compartilhar conosco?

PATRÍCIA - Eu acho legal lembrar que chegamos a gravar cenas da novela na minha própria casa, porque eu queria-porque-queria fazer uma sequência numa cabana na montanha e, como o lugar em que moro tem esse clima, cedi a locação (risos).

JC - 15 anos depois, porque ainda vale a pena relembrar a novela Floribella?

PATRÍCIA - Porque continua atual, fofa, as músicas ainda divertem e o carinho do público é eterno. Você sabe que algumas atrizes do elenco de Malhação: Vidas Brasileiras [Patrícia foi autora desta temporada na TV Globo, exibida entre 2018/2019] eram super fãs de Floribella e fizeram questão de contar que acompanhavam meu trabalho desde então? Isso não tem preço! Sou muito grata por ter feito essa adaptação.

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