A relação da arte com a tecnologia sempre esteve no DNA do Oi Futuro, localizado no Flamengo, no Rio de Janeiro. Em tempos de isolamento social provocados pela pandemia do novo coronavírus, essa característica se torna não só uma missão, como também uma urgência para se pensar a produção artística. Por isso, em meio às comemorações de seus 15 anos, o centro cultural tem expandido ainda mais suas ações para o ambiente virtual, a exemplo da recém-lançada série Oi Futuro Agora, produzida e dirigida por Batman Zavareze, que discute o futuro da arte e aborda a relação de artistas com a instituição.
Instalado onde há cem anos funcionava a Estação Telefônica Beira-Mar e, nos anos 1980, o Museu do Telephone, o Oi Futuro passou por muitas transformações desde sua fundação, em 2005, quando abriu as portas com a exposição de arte contemporânea Corpos Virtuais, que reuniu artistas brasileiros que despontavam com trabalhos entre arte, ciência e tecnologia, como Arthur Omar, Simone Michelin, Lucas Bambozzi, Regina Silveira.
Além do espaço expositivo, no sexto nível do moderno prédio foi instalado o Museu das Telecomunicações, recentemente reformulado e rebatizado como Musehum – Museu das Comunicações e Humanidades. A edificação conta ainda com um espaço de teatro multiuso que já recebeu espetáculos de nomes como Gerald Thomas, Enrique Diaz, Antonio Abujamra, Denise Stoklos, Victor Garcia Peralta e Aderbal Freire.
“Da abertura, em 2005, até hoje, novos vocábulos e conceitos foram criados e o uso das tecnologias, bem como a sinergia da ciência e com outros saberes, operaram muitas transformações no fazer e consumir arte. Desde o ano um, apostamos na experimentação e na natureza múltipla das artes visuais, da música, do pensamento e das artes performáticas. Um espaço que se mostrou de cara como um ponto de referência para os realizadores que, de algum modo, investigam a mistura de meios e de suportes. Jovens ou profissionais com carreiras consolidadas, coletivos e curadores que veem no centro cultural o lugar mais adequado para exibirem aqueles trabalhos ‘difíceis de nomear’, de categorizar, que são híbridos por natureza”, explica o diretor do Oi Futuro, Roberto Guimarães.
Ele pontua que, diante da paralisação das atividades físicas, o espaço tem reforçado sua presença no mundo virtual, tentando encontrar soluções que ajudem a pensar o futuro. Roberto aponta ainda que, no campo das artes, despontam experimentações com postagens e lives que sugerem outras formas de “ver, ouvir, criar, interagir e ressignificar nossos novos tempos”. Ele acredita que, após a pandemia o centro cultural terá um caráter híbrido, com a presença física e o digital se comunicando cada vez mais.
Entre as ações, destaca-se ainda a série dirigida por Batman Zavareze. O artista visual conduz os 16 episódios, cada um deles com a participação de um nome de destaque da arte brasileira que fez parte da história do Oi Futuro. Ao longo de três meses, com um episódio por semana, participarão nomes como Gilberto Gil, Fernanda Montenegro, o cineasta britânico Peter Greenaway; os diretores teatrais Bia Lessa, Felipe Hirsch, Marcio Abreu e Rubens Velloso; o curador Marcello Dantas; os artistas visuais Luiz Zerbini, Roberta Carvalho e Raul Mourão. O primeiro episódio, com Arnaldo Antunes, já está disponível no canal do Oi Futuro no Youtube.
“No final de março, entendendo que estávamos vivendo uma grande ficção científica distópica, com as escolas, grande parte do comércio e os espaços culturais de arte fechados para o público, fiz um contato com a equipe de Cultura do Oi Futuro e lancei a seguinte provocação: como um centro cultural permanecerá vivo em tempos de isolamento social?”, lembra Zavareze.
O artista visual enfatiza que a série tem levantado perguntas na tentativa de entender como a arte pode ajudar a sociedade a encontrar saídas para a situação atual e que novos futuros são possíveis a partir da criação artística.
“O que vinha sendo construído no mundo não deu certo. Estávamos numa rotina sufocante. O pensamento artístico da forma mais ampla faz parte da educação e da formação de um povo autônomo. Num país cercado por realidades perversas e desigualdades descomunais não podemos neste momento desqualificar o papel libertador que a arte nos causa. Estamos diante de uma pandemia planetária gravíssima. Mas, como o Brasil não é para amadores, tudo isso vem junto com uma estúpida crise política. Em uma única expressão podemos falar em pandemia/pandemônio”, afirma. “Os artistas, independentes de suas ideologias, nos ajudam a construir pontes, para enxergar nessas mídias digitais, outras formas amorosas daquilo que estava diante de nós. A arte nestes tempos obscuros vai ter um papel de alento para nossas almas. Vai oxigenar nossos pensamentos para imaginarmos caminhos possíveis. Arte sempre foi e sempre será liberdade.”
Roberto Guimarães salienta ainda que, além da série, o Oi Futuro disponibiliza em seu site outros conteúdos culturais, como três peças teatrais, debates semanais transmitidos ao vivo, com especialistas em cultura, negócios e outros temas, pocket shows, entre outros.
Em breve, também será divulgado o resultado do edital Aceleração LabSonica, voltado para o fomento da produção musical de todo o país.
“O mundo chega a este maio de 2020 tendo que rever muitos paradigmas. Os espaços privados e públicos de ocupação e intervenção, os hábitos, as modalidades de diversão e informação, os prazeres, alegrias e tristezas estão sendo passados em revista. Mais que nunca, é importante lembrar o quanto a arte sensibiliza, nos leva adiante, constrói pontes entre pessoas e tempos. Esse é um grande desafio para os artistas, criadores, fazedores e também para as instituições”, diz Roberto.