Ave Sangria lança o primeiro videoclipe de sua longa história

'Vendavais', faixa-título do disco que marca a retomada das atividades da celebrada Ave Sangria, ganha videoclipe, o primeiro da banda
Rostand Tiago
Publicado em 07/08/2020 às 9:27
ATEMPORAL Grupo vem sempre abocanhando juventudes por décadas a fio. Registros visuais do Ave Sangria são muito raros Foto: HELDER TAVARES/DIVULGAÇÃO


A retomada do vôo da Ave Sangria continua a não só resgatar o tempo passado, mas também se abrir para o tempo presente, dialogando com o leque de gerações que seu trabalho alcançou. Em 2019, veio o lançamento de Vendavais, disco que carrega os desejos interrompidos da banda e as vontades de estar viva e ativa. A faixa-título do trabalho ganha, nesta sexta-feira, um videoclipe, o primeiro na história do grupo, dialogando com as narrativas de opressão/libertação carregadas na canção, assim como na própria trajetória da banda. O grupo se junta a performers em um fluxo de imagens que vão da inércia à festa, empurrados pelos novos ventos que prometem ser duradouros.

Não são muitos os registros audiovisuais da banda em sua primeira atividade na década de 1970. A música pode ter perdurado pelos LPs, CDs, MP3 e streamings, mas a imagem da Ave Sangria pulou o super-8, as fitas magnéticas e vem encontrar plenitude agora no formato digital de alta resolução - o vídeo estará disponível em 4k no YouTube - algo que reflete a complexa relação geracional da banda com seu público, sempre abocanhando juventudes por décadas a fio.

"A gente tem fotos esparsas, muito boas por sinal, e atualmente algumas gravações de shows. Chegamos a gravar um clipe de Geórgia, a Carniceira para o Fantástico, mas ele nunca foi ao ar. Desde quando gravamos o novo disco, tínhamos em mente fazer um clipe e decidimos fazer com essa música porque ela sintetiza o conceito geral do disco, o questionamento, a inconformidade e a afirmação de uma vontade própria", relata Marco Polo, membro-fundador do grupo.

A ideia inicial era de uma animação, descartada pelo tempo que levaria. Então, encontraram um nome que conciliava muito bem o conhecimento sobre a banda com experiência no setor audiovisual. A direção é de Pablo Polo, com currículo extenso de curtas e de produções publicitárias. Desde a retomada das atividades do Ave Sangria, Pablo já pensava em desenvolver uma série de vídeos para a banda. Ouvindo a canção, foi costurando ideias, apresentadas para os três membros membros da formação original, Almir de Oliveira, Paulo Rafael e Marco Polo, seu pai.

“Eu tenho essa conexão pessoal com a banda e já tinha um diálogo profissional com a Sunset (gravadora responsável pelo disco) e a gente falava em desenvolver uma série. Apresentei uma ideias, buscando a proposta de um clipe mais narrativo. Me debruçando sobre a música, eu queria sair de obviedades, sabendo que a poesia de Marco tem uma incitação visual muito forte, buscando o lado simbólico do vendaval, de energia de mudança”, relata Pablo.

A produção não gozava de grandes orçamentos, mas pôde contar com uma equipe que compartilhava laços afetivos e uma admiração pulsante pela banda. Contou com a parceria de nomes como o grupo de teatro Magiluth, que cedeu o seu casarão, localizado no bairro de São José, como locação para a empreitada.O clipe foi gravado em um dia e o ambiente era de festa.

"Havia esse afeto pela banda e todo mundo foi se soltando, moldando a produção com muita liberdade, até rolar uma catarse dessas relações afetivas e de geração com a banda”, relata Pablo. Foi montado um time de performers, atores e bailarinos com sólidos trabalhos na cena local, como Orun Santana, Kildery Iara, Anne Costa, Marta Guimarães, Maria Paula Costa Rêgo e Hermínia Mendes, todos colocando em seus corpos os ideais de luta e liberdade propostos pela música. Eles tiveram total liberdade nas criações de suas coreografias, além de conduzir um exercício corporal com os integrantes da banda.

São ideias que, para Marco Polo, conseguem dialogar tanto com o primeiro momento da banda, afinal a canção foi escrita ainda naquele período, como com as intempéries da nova fase, quando ela foi lançada de fato. "A maioria dessas músicas foram escritas naquela época, vivíamos em uma ditadura. Embora não vivemos uma ditadura hoje, vivemos um momento muito negativo para a cultura, política, para existência, sociedade, para tudo. Nossa proposta sempre foi reagir e por coincidência aconteceu essa desgraça no Brasil e estamos de novo reagindo", afirma Marco Polo. Tanto a banda como o diretor possuem planos de produzir outros videoclipes quando o momento permitir, incluindo revisitando canções do primeiro disco.

 

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