Mesmo sem o palco montado no Cais da Alfândega, tradicional ponto da música alternativa e do ecleticismo de sonoridades, o Rec-Beat estará, ainda que virtualmente, na rua. O festival recifense chega à 26ª edição adaptado aos tempos de pandemia e realiza sua primeira edição online hoje, a partir das 15h, com transmissão em seu canal no YouTube. Ao todo, o evento promove mais de cinco horas de programação, com shows de artistas pernambucanos e nacionais gravados em pontos icônicos do Recife e de São Paulo.
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Diante da impossibilidade de realizar uma edição presencial, a equipe do Rec-Beat começou articular esse novo formato ainda em setembro do ano passado. Para além dos ajustes naturais do festival, como a curadoria, foi necessário repensar toda a estrutura e dinâmica das apresentações, a fim de manter o espírito do evento.
"Costumo dizer que o Rec-Beat é uma experiência dentro de uma experiência, o Carnaval. Nosso público está envolvido no ambiente carnavalesco e essa vivência é difícil de transpor para fora daquele contexto, ainda mais no online. Por isso, além da programação com a cara do festival - que mescla a tradição e o frescor das novidades - optamos por escolher locações com os quais as pessoas se contectassem afetivamente. Tivemos o cuidado de proporcionar também um apuro estético que resultou em produto audiovisual muito forte, entre o cinema e o videoclipe", afirma Antonio Gutierrez, fundador e diretor do festival.
A relação do Rec-Beat com o espaço urbano foi preservada na edição virtual na escolha das locações dos shows. No Recife, a SpokFrevo Orquestra e seus 17 músicos aparecem tocando no meio do Marco Zero, coração da folia na capital pernambucana. A imagem dos artistas na paisagem esvaziada cria um contraste que captura com exatidão o momento histórico que o Brasil e o mundo atravessam.
O mesmo pode se dizer do show de MC Troia na travessa ao lado do Paço Alfândega. No local, parte da memória afetiva do público do festival, o artista, um dos precursores do brega-funk, entoa seus grandes sucessos. O festival, inclusive, foi o primeiro a colocar o gênero musical, hoje um fenômeno no País, em sua programação, em 2019.
"Historicamente, quando a gente for avaliar esse conteúdo, o momento de isolamento social e a necessidade de evitar aglomeração estarão bem presentes nessas apresentações. A gente conseguiu fazer um recorte muito fiel do que o festival se propõe, que é oferecer experiências surpreendentes, diálogos entre gerações e estilos e instigar debates sobre temas atuais", reforça Gutierrez.
Em São Paulo, onde o festival firma raízes (devido aos apoios recebidos, este ano foi renomeado de Rec-Beat SP), foram registradas as performances de Mateus Aleluia, na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, com uma performance inédita; d'O Terno, em seu primeiro show desde a pandemia, no Viaduto Santa Ifigênia; e de Céu, que cantou músicas do recente Apká no topo de um edifício na capital paulista.
Completam a programação paulista Getúlio Abelha, que canta na Praça Antônio Prado; Luiza Lian, ao lado de Charles Tixier, nas escadarias do Theatro Municipal; e o grupo Ilú Obá de Min, referência na cultura negra do Brasil, com apresentação registrada no Largo do Paissandú, tradicional espaço do Carnaval de rua da cidade.
Além dos shows, performances compactas de poesia, dança e música, pontuarão os intervalos dos shows. Se apresentam nesta as poetas Kimani, Luna Vitrolira e Adelaide Santos, a cantora Alice Marcone, a violeira pernambucana Laís de Assis, o bailarino Rubens Oliveira. O poeta Miró da Muribeca também recebe homenagem. Todo o conteúdo ficará disponível no YouTube.
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