EVENTOS

Produtores de eventos apontam falta de diálogo após novas restrições do Governo de Pernambuco

O Estado fez um recuo nesta segunda-feira (9), ao anunciar que os eventos terão capacidade máxima para 3 mil pessoas

Bruno Vinicius
Cadastrado por
Bruno Vinicius
Publicado em 11/01/2022 às 18:32 | Atualizado em 13/01/2022 às 18:39
PEDRO PEREIRA/DIVULGAÇÃO
WeDo na Praia 2020, em Maracaípe - FOTO: PEDRO PEREIRA/DIVULGAÇÃO
Leitura:

Uma das áreas da economia mais prejudicadas por causa da pandemia, o setor de eventos culturais se vê, mais uma vez, em um momento delicado por causa dos crescentes casos de covid-19 e gripe H3N2 nas últimas semanas. Com a possibilidade de um novo pico de internações, com duas epidemias circulando a nível estadual, o Governo de Pernambuco recuou e fez novos protocolos em adaptação à situação sanitária. Os anúncios não forem bem vistos pelos produtores de eventos, tendo em vista que afirmam a falta de consulta ou anúncio prévio para adaptar shows, festas e espetáculos que estavam marcados anteriormente à decisão do Estado. 

Parados durante quase toda a pandemia de covid-19, desde março de 2020, os eventos tinham retornado aos poucos no segundo semestre de 2021. O momento marcou um avanço na vacinação contra a doença, que por sua vez, teve o número de casos graves e internações em leitos diminuindo. Menos de seis meses depois, o Estado fez um recuo nesta segunda-feira (9), ao anunciar que os eventos terão capacidade máxima para 3 mil pessoas. Além disso, só terão acesso a eles pessoas com passaporte vacinal com as duas doses, além da testagem com resultado negativo para a covid-19. A regra vale para qualquer concerto ou espetáculo cultural que envolva público acima de 300 pessoas. 

O sócio-diretor da Tampa Entretenimento, Henrique Figueira, explica que o setor não foi consultado para o desenvolvimento dos novos protocolos sanitários. "Ninguém foi consultado no setor. Nós temos duas festas no final do mês, menores para 2 mil pessoas. Vamos manter normalmente, temos uma com Academia da Berlinda no Armazém 14 e outra em Tamandaré. E tem o nosso Carnaval do Parador e a gente vai se adequar ao protocolo do governo, para 3 mil pessoas", explica o promotor de eventos.

O Parador tem uma capacidade 5 mil pessoas, fazendo uma redução de 2 mil pessoas de acordo com os novos protocolos. "A conversa que eu tenho com o setor é a falta de diálogo com o governo, que não chamou ninguém para conversar. Nós passamos dois anos parados, com a quantidade de mortes por causa pandemia, e nunca fizemos questão de nada. Ficamos calados o tempo todo", enfatiza Henrique, esclarecendo que o momento atual da crise sanitária é melhor do que no pico da doença.

Já de acordo com Waldner Barreto, que é diretor regional da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), o governo tem conversado com o setor, porém, desta vez, foi pego de surpresa com o anúncio feito nesta semana. "Não posso dizer que não houve diálogo. Participamos de todas as conversas na elaboração de protocolos com o governo, tivemos uma receptividade com o secretário de turismo. Mas desta vez não tivemos conhecimento da decisão", conta o diretor. 

Atuando junto ao governo estadual nos últimos protocolos, o setor cultural foi pego desprevenido com as novas autorizações. Alguns dos espetáculos, que estavam previstos para os dois próximos finais de semana, já tinham excedido a capacidade do estipulado com o novo plano de convivência com a doença respiratória. Com isso, produtoras decidiram cancelar ou adiar datas para a realização de shows no território estadual. 

"De acordo com o novo decreto do Governo do Estado de Pernambuco, se tornou inviável a realização do festival Verão Maria Farinha. Lamentamos a decisão, mas a cumpriremos. Os valores do ingressos serão válidos como crédito para os próximos eventos", disse o comunicado do festival Verão Maria Farinha, que estava realizando shows nos últimos finais de semana. Para o dia 16 de janeiro, a produtora havia confirmado shows de Jorge e Mateus, Dennis e Matheus Fernandes na estrutura localizada em Paulista, no Litoral Norte.

Marcada para acontecer apenas em 20 de fevereiro, a prévia carnavalesca Olinda Beer também decidiu a próxima edição. "De acordo com o novo decreto do Governo do Estado de Pernambuco, a realização do
festival Olinda Beer se tornou inviável. Lamentamos a decisão, mas a cumpriremos. Os valores dos ingressos serão válidos para a nova data que será divulgada em breve", diz o comunicado do evento, que tinha como atrações Ivete Sangalo, Claudia Leitte, Thiaguinho, Barões da Pisadinha, Leo Santana, Bell Marques, Wesley Safadão e Priscila Senna. 

A Ceroula, que completou 60 anos em 2022, também decidiu cancelar suas comemorações. Uma das agremiações mais tradicionais de Olinda, a troça realizaria uma festa com Diogo Nogueira, Art Popular e Fundo de Quintal. "De acordo com o novo decreto do Governo do Estado de Pernambuco,
se tornou inviável a realização da prévia de carnaval Ceroula. Lamentamos a decisão, mas a cumpriremos. O reembolso deverá ser unicamente solicitado através do e-mail: atendimento @bilheteriadigital.com", frisa a organização.

Algumas produtoras decidiram reduzir o público e esgotar os ingressos à venda, como o WeDo na Praia. "Fomos pegos de surpresa, mas em respeito ao nosso público a WE DO na Praia está confirmada e os ingressos a partir de agora estão esgotados! Mesmo amargando um enorme prejuízo financeiro, estamos confirmados em capacidade reduzida atendendo ao novo protocolo do Governo do Estado de Pernambuco", afirma o comunicado do evento, que vai acontecer neste sábado (15), em Maracaípe, Litoral Sul de Pernambuco.

PREJUÍZO

O momento é delicado para o setor cultural. Segundo uma pesquisa do IBGE, o número de trabalhadores da cultura caiu 11,2% em 2020, justamente no ano em que festas e eventos foram paralisados. Ao todo, a arte perdeu 600 mil trabalhadores, que envolvem técnicos, músicos, artistas e outras pessoas que ficam nos bastidores de eventos. O prejuízo chega, também, em meio à queda de investimentos por parte do governo federal com o setor. Em 2020, de tudo o que foi gasto pelo governo federal, apenas 0,08% foi destinado à cultura.

Comentários

Últimas notícias