Batalha pela queda de Palmares é resgatada em livro de ficção histórica
"Novo Mundo em Chamas - Uma Aventura Épica. A Batalha pelo Destino de uma Nação", do mineiro Viktor Waewell, traz tons épicos a um período tratado com superficialidade
A história de Pernambuco é como um tesouro sempre prestes a ser descoberto. O escritor mineiro Viktor Waewell soube explorar essa riqueza para criar um romance histórico de tons épicos tendo como pano de fundo uma das maiores revoltas escravas da história moderna, culminando na sua estreia na literatura. "Novo Mundo em Chamas - Uma Aventura Épica. A Batalha pelo Destino de uma Nação" foi a única publicação independente indicada ao prêmio Oceanos 2021, chegando a ser semifinalista. Também é finalista do Book Brasil na categoria "Melhor Romance".
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A obra é ambientada num contexto bastante específico do século 17: depois que os portugueses conseguiram expulsar os holandeses das terras do estado, iniciou-se um esforço para acabar com a região de Palmares. Ocorre que, durante o período de guerras, os engenhos ficaram mais vulneráveis e perderam muitos escravos. A máquina de guerra dos senhores, então, se volta para recaptura desses.
A trama acompanha o sargento Ernesto, negro nascido livre, filho de uma ex-escrava e um português, é o enviado para traçar a rota de ataque do exército dos senhores, acompanhado de um índio como guia. Ao mesmo tempo, Tereza, escrava de um poderoso fidalgo, enfrenta inúmeras violências, mas apresenta uma força que desempenhará um papel decisivo na trama.
Narrado em terceira pessoa, cada capítulo se alterna com o ponto de vista de uns dos protagonistas. Sua escrita mescla referências de livros clássicos e novos, mas sempre prezando pela clareza e por uma narrativa instigante. O autor sempre mescla personagens fictícios com figuras históricas, ambientando a história nas cidades do Recife, Maceió, Porto Calvo e União dos Palmares.
Também dá detalhes do impacto da recente ocupação dos holandeses, que deixou marcas em diversos sentidos, e o novo momento social vivido na região. O que torna a obra mais interessante é que Palmares é um tema muitas vezes tratado com superficialidade nas escolas. Poucos sabem, por exemplo, que o quilombo durou um século, agregou mais de três gerações de negros e era composto por dezenas de cidades. Essa grandiosidade é explorada na obra.
O autor Viktor Waewell trabalha como roteirista no ramo publicitário, sendo dono de uma produtora de vídeo. "Sempre gostei muito de literatura, desde criança. Com o tempo, passei a me interessar por histórias ambientadas no passado. Percebi que temos poucos conteúdos de ficção histórica que se passam no Brasil. Assim, conseguimos ter mais noção da vida em lugares distantes”, diz o escritor, em entrevista ao JC.
"Eu decidi que poderia tentar contribuir de alguma forma. As pessoas não sabem o que aconteceu. Palmares foi a nossa maior revolta negra, mas é falada de forma superficial. Estamos falando de uma sociedade construída por ex-escravos ao lado de outra sociedade cuja força de trabalho era baseada na escravidão. As duas coisas não teriam possibilidade coexistir", continua.
Por trabalhar com base em muitos detalhes, personagens e acontecimentos reais, o livro foi revistado pelas historiadoras Mayara Melo e Náuplia Lopes. "A história é uma janela interessantíssima para refletir sobre o ser humano, sobre a questão humana. Nesse livro, mergulhei em historiadores clássicos e modernos, uma série de relatos, cartas dos jesuítas e também teses acadêmicas. Mas não entendo o meu trabalho como o de pesquisador, acho que estou fazendo uma ponte entre o acadêmico e o público. Pelo o que tenho percebido, o leitor vai percebendo que aquilo dali é algo bem próximo e que poderia ter ocorrido dentro do que podemos saber hoje", diz Waewell.
Por ser independente, a circulação do livro ocorreu de forma bastante orgânica. "Novo Mundo em Chamas" chegou ao posto de mais vendido no gênero de Ficção Histórica da Amazon. Ele pode ser adquirido em e-book ou edição física. "Eu fico muito feliz pelo carinho dos leitores. Nem nos meus sonhos otimistas eu achava que iria lançar um livro de forma independente e que ele teria essa repercussão tão grande. Eu sempre achava a literatura algo inalcançável, e é um motivo de alegria ver esse livro hoje", diz o escritor, que pretende continuar independente.
Viktor ainda diz considerar Pernambuco, que ambienta o seu romance de estreia, um "país incrível". "É uma honra começar contando a história desse estado. Existem muitas outras que eu pretendo trabalhar, de outros estados também, como Rio de Janeiro, São Paulo e Amazonas". O seu segundo romance deve ser lançado no segundo semestre. "Guerra dos Mil Povos" se passará no Rio e em São Paulo, com pano de fundo na Confederação dos Tamoios, uma revolta indígena ocorrida entre 1554 e 1567 e também muito pouco falada.