Uma amostra dos ares modernistas ventilados em Pernambuco pode ser visitada, a partir desta terça-feira (23), às 16h, no Centro Cultural Benfica, na Madalena, Zona Norte do Recife. Cerca de 20 obras do acervo da Universidade Federal de Pernambuco vão a exposição em "Modernismo em Pernambuco: Recepção e Desdobramentos".
A exposição celebra o centenário da Semana de 22 e os 90 anos da Escola de Belas Artes do Recife, instituição fundada em 1932 e depois, em 1946, incorporada à UFPE, que ali surgia.
Entre pinturas e gravuras, sai da curva uma escultura, a obra "Mulher Rendeira", de Armando Lacerda. Ela tem como habitat os jardins do Centro de Artes e Comunicação da UFPE, mas ficará até o final do ano na exposição da Benfica. Carlos Newton Júnior, professor do Departamento de Artes Visuais da universidade e curador da mostra, comenta que, se nos jardins passa despercebida, na galeria causará impacto maior.
Armando Lacerda — situa Newton Jr. — "foi um escultor importante do modernismo em pernambucano, mas muito pouco falado".
De certa forma, assim como outra exposição em cartaz, SempreNunca Fomos Modernos, no Museu do Estado, esta da Benfica refresca a produção de pernambucanos modernistas, tirando os véus do tempo. A maior parte das pinturas e gravuras vem da reserva técnica do acervo artístico da UFPE, onde ficam guardadas, sendo a mostra "uma oportunidade para ver essas obras".
Os trabalhos estão divididos em duas salas do casarão ligado ao Instituto de Arte Contemporânea (IAC) da UFPE. Na primeira, obras de artistas que lecionaram na Escola de Belas Artes do Recife, como Vicente do Rego Monteiro — um dos nomes máximos do modernismo em Pernambuco, e que participou da Semana de 22 —, também sua irmã Fedora Monteiro Fernandes, além de Murillo La Greca, Mário Nunes e Laerte Baldini.
"São artistas que eram já maduros, adultos, quando da Semana de 22. Eles não receberam essas influências de imediato; foi algo diluído", contextualiza o curador.
"Numa segunda sala, temos artistas nascidos após os anos 1920, quando o modernismo já estava estabelecido." Neste espaço, há obras de Francisco Brennand, Reynaldo Fonseca, Tereza Costa Rêgo, Gilvan Samico, Aloisio Magalhães, Ladjane Bandeira, Eudes Mota e a escultura de Lacerda.
As duas salas, portanto, costuram gerações de artistas usando como linha a força das ideias e dos referenciais modernistas em suas obras: da recepção aos desdobramentos.
Sobre a crítica revisionista que se levanta neste centenário da Semana de 22, questionando o porquê de os modernistas pernambucanos não constarem na história do movimento tornada oficial, Carlos Newton Júnior considera "um equívoco" — "Um dos grandes nomes na exposição no Theatro Municipal de São Paulo foi Vicente do Rego Monteiro", arremata.
"Acontece que, depois, o modernismo se desdobrou, e a gente teve um regionalismo muito forte, numa tentativa de criar o universal através do regional. Indo para a literatura, se pegarmos o romance de 1930, o Nordeste ofuscou o resto do País, com José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos. Foi um modernismo feito a partir da região, o que é um grande diferencial."
A mostra "Modernismo em Pernambuco: Recepção e Desdobramentos" ficará em exibição até o final do ano com entrada gratuita, de segunda a sexta, das 9h às 18h, no Centro Cultural Benfica da UFPE (Rua
Benfica, nº 157, Madalena). Visitas em grupo com mediação, para escolas e demais instituições, poderão ser agendadas pelo e-mail iac.cultura@ufpe.br.