'Cássia Eller foi um divisor de águas no aprofundamento da minha sexualidade', diz Ana Carolina, que faz show de homenagem

"Ana Canta Cássia - Estranho Seria Se Eu não Me Apaixonasse por Você" chega ao Recife: "O mais importante pra mim é que tivesse a parte do DNA que conecta nós duas"
Emannuel Bento
Publicado em 27/10/2022 às 12:58
SHOW Ana Carolina apresenta turnê em homenagem a Cássia Eller Foto: PRISCILA PRADE/DIVULGAÇÃO


É fácil estabelecer paralelos entre Ana Carolina e Cássia Eller (1962-2001), apesar do falecimento precoce da segunda - um furacão que deixou estardalhaços ao passar pela música brasileira.

No ano em que Eller se tornaria sexagenária, tudo aquilo que aproxima as cantoras foi unificado no show "Ana Canta Cássia - Estranho Seria Se Eu não Me Apaixonasse por Você", que chega ao Teatro Guararapes, em Olinda, nesta sexta-feira (28), a partir das 21h. 

O espetáculo é totalmente dedicado ao repertório de Cássia, com um "esqueleto teatral" dividido em cinco atos. Ana Carolina estudou a extensa discografia por meses até chegar em algo que retratasse a grandeza da homenageada.

PRISCILA PRADE/DIVULGAÇÃO - SHOW Ana Carolina apresenta turnê em homenagem a Cássia Eller

"Foi muito difícil e ainda está sendo. Cássia tem uma discografia invejável repleta de hits. E como fã eu também tenho minhas preferências de alguns Lado B. Achar o equilíbrio disso talvez tenha sido a parte mais difícil", confessa a cantora, ao JC.

"Cartas" está logo na abertura do show, trazendo canções que se comunicam em estado de poesia pura; "Palavras" começa a investigar outros universos das duas cantoras, incluindo a paixão mútua pelo samba; "Sabotagem" é um momento da Cássia debochada e cheia de questionamentos, enquanto "Girassol" traz de volta a delicadeza para a coroar a celebração.

"Acho que há muito da Cássia na minha maneira de cantar, sobretudo nos primeiros trabalhos", diz Ana, ao pontuar como a artista lhe inspirou. Na conversa, ela conta uma história curiosa, embora nunca tenha confirmado a sua veracidade.

"Parece que alguém próximo dela ouviu 'Garganta', minha primeira música de sucesso, e achou que era a própria Cássia cantando. É uma tremenda honra ser confundida com a Cássia logo no meu primeiro trabalho, né?”.

Cantoras se conheceram na virada do milênio

Quando Ana despontava com "Garganta", em 1999, Eller teria apenas mais dois anos de vida. Apesar disso, deu tempo para os talentos se conhecerem. "A Cássia mudou minha vida quando abriu a porta da sua casa pra me hospedar, juntamente com uma amiga, no meu primeiro show no Rio de Janeiro", relembra Ana.

"Ela foi tão generosa, que até contratou o Batata, roadie dela, pra me acompanhar nesse show. E ela estava lá na plateia pra me ver. Tenho uma gratidão pela Cássia desde sempre, porque realmente ela foi uma das grandes incentivadoras do meu começo de carreira. E por isso que essa turnê hoje tem um lado tão emotivo pra mim."

O medo do 'show de covers'

PRISCILA PRADE/DIVULGAÇÃO - SHOW Ana Carolina apresenta turnê em homenagem a Cássia Eller

Tanto por ser fã quanto pela dimensão da obra, a intérprete de "Encostar na Tua" é bastante autocrítica. Existe um natural receio de soar como um "show de covers".

"Começamos nossa pesquisa justamente para não criar algo assim. Não é isso. Ouvimos o repertório da Cássia à exaustão para entender todos os detalhes, e aí finalmente trazer versões que falassem com o original, mas ao mesmo tempo tivesse meu DNA", diz.

"O mais importante pra mim é que tivesse a parte do DNA que conecta nós duas, porque, pra mim, essa turnê sempre foi pensada com muito respeito e amor pela Cássia. Queria uma homenagem à altura da artista superlativa que ela é".

Sexualidade e representatividade

Em dezembro de 2005, Ana Carolina estimulou a discussão sobre sexualidade ao ser capa da Veja - aquela, com o marcante título de "Sou bi. E daí?”. Dezessete anos depois, ela também reconhece que Cássia Eller foi uma representatividade importante sobre o tema.

"Importante, não, fundamental! E falo por experiência própria. A Cássia foi um divisor de águas também no aprofundamento da minha sexualidade”, confessa.

"Lá nos anos de 1990, ela agia com imensa naturalidade – sem banalizar a questão – e mostrando que ela podia ser quem ela quisesse e como quisesse. Me lembro de olhar essa postura libertária e pensar: ela me representa! Então não tenho a menor dúvida que Cássia é fundamental na conquista dos direitos LGBTQIA+, isso ainda nos anos 90".

60 anos de Cássia Eller

Além da turnê de Ana Carolina, as seis décadas do nascimento de Eller trará mais novidades para os fãs. Vários cantores se envolveram no projeto "Cássia Reggae", composto por dois discos com músicas da artista interpretadas por diferentes pessoas.

O primeiro desses discos foi lançado em julho, no Dia Internacional do Reggae, com participações de Nando Reis, Gilberto Gil, Chico Chico, Jorge Du Peixe, Lan Lanh, Marcio Mello, Toni Garrido, Margareth Menezes, Maestro Tiquinho e Zé Ricardo.

O projeto reprocessa as músicas dos nove álbuns lançados da cantora entre 1990 e 2021 para o ritmo jamaicano. Ele conta ainda com toques de Fernando Nunes (baixo), Caio Garcia (guitarra) e Guaraci Akani (bateria). A segunda parte está prevista para segundo semestre.

A Universal Music relançou, em outubro, o icônico disco homônimo de 1994 uma versão inédita em Vinil Duplo (12 polegadas / 33 rotações).

Ainda no final de 2021, a largada para as celebrações contaram com o single inédito "Espírito do Som", um blues de autoria de Chico Evangelista e Péricles Cavalcanti que Cássia gravou no formato voz e violão em 1985.

Outra obra póstuma recente foi “Todo veneno vivo” (2019), uma ampliação do álbum ao vivo de 1998. Em 2017, também foi lançada “Chocante”, canção que a cantora gravou em 1986 para um musical chamado “Gigolôs”.

SERVIÇO
Só restam ingressos para a plateia plateia B Silver - R$ 190 e R$ 95 (meia), à venda no Uhuu. O Teatro Guararapes fica no Centro de Convenções (Av. Prof. Andrade Bezerra, S/N - Salgadinho, Olinda).

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