O cantor e compositor Silvério Pessoa será o Secretário de Cultura de Pernambuco, conforme divulgado pelo governo de transição de Raquel Lyra (PSDB) nesta quinta-feira (29).
Repetindo o que ocorreu no terceiro governo Lula, que escolheu a cantora Margareth Menezes, o governo de transição de Lyra evitou nomes políticos para a pasta da Cultura, optando por um representante que tem boa relação com a cena artística local e que pode ampliar diálogos com setores culturais. Tudo isso dependerá, é claro, da autonomia que o secretário terá dentro da gestão.
Juntamente com a FUNDARPE, a pasta tem entre suas atribuições os editais do Funcultura, a realização de grandes eventos, como o Festival de Inverno de Garanhuns, além da manutenção de equipamentos culturais e do patrimônio artístico e histórico.
Silvério Pessoa é pesquisador em cultura popular e cotidiano escolar, religiosidade popular e música religiosa e diálogos entre culturas, com atividades também na área de formação docente.
O artista também é pedagogo, graduado pela Universidade Federal de Pernambuco. Tem pós-graduação em Psicopedagogia pela Fafire e em Moderna Educação: Metodologias, Tendências e Foco no Aluno pela Escola de Humanidades da PUCRS. Também é mestre e doutor em Ciências da Religião pela Universidade Católica de Pernambuco, onde leciona atualmente.
Natural de Carpina, Zona da Mata Norte de Pernambuco, Pessoa iniciou a sua carreira artística nos anos 1990, surfando na onda do movimento manguebeat com a banda Cascabulho. Na época, ele gravou o CD "Fome dá Dor de Cabeça", revisitando a obra do paraibano Jackson do Pandeiro.
Nos últimos anos, Silvério Pessoa tem dado declarações críticas sobre a desvalorização de tradições e da cultura popular. Em entrevista ao JC, em 2018, ele chegou a dizer que "não existe mais festa de São João".
"Existe um espetáculo público patrocinado por empresas, com interesses de vendas do seu produto. A prefeituras adotaram o mesmo formato no Carnaval e no São João. Porque existe toda uma situação midiática que lota as praças, que são os artistas importados, que são divulgados pela televisão e pelas rádios", disse, na época.
A crítica do novo secretário pode ser aplicada ao próprio São João de Caruaru, realizado por Raquel Lyra durante dois mandatos. Em 2022, o valor arrecadado da festa foi de R$ 558 milhões.
A arrecadação e a geração de empregos do São João de Caruaru estão alinhadas com a visão que o plano de governo de Raquel Lyra demonstra da cultura. No plano, o tópico da Cultura vem acompanhado da "Economia Criativa", trazendo um olhar econômico menos explorado nas gestões do PSB.
"As manifestações artísticas, culturais e festivas são fundamentais para garantir a nossa própria identidade, constituindo uma ampla cadeia de produtos e serviços de alto valor econômico na chamada Economia Criativa, capaz de gerar emprego e renda para milhares de pessoas".
Apesar do êxito econômico do São João de Caruaru, a gestão de Raquel na Prefeitura foi acusada de não valorizar tradições culturais - um dos principais papéis da Secult-PE e da Fundarpe.
O Polo do Pátio de Eventos Luiz Gonzaga, principal palco do do evento, trouxe poucas atrações ligadas ao forró mais tradicional nos últimos anos. A ausência de Jorge de Altinho na programação de 2022 foi um exemplo de como a pauta cultural foi capaz de impactar a pré-campanha da tucana.
Altinho, autor do sucesso "Capital do Forró" (que virou slogan da festa), se recusou a participar da festa após um convite feito após a controvérsia. Entre a vontade de dinamizar a economia da cultura e a necessidade de preservar a cultura popular, o futuro governo de Lyra terá diversos desafios na Cultura.