Considerado um clássico do cangaceirismo, o livro "Guerreiros do Sol: Violência e banditismo no Nordeste do Brasil", de Frederico Pernambucano de Mello, não pode faltar na estante dos interessados no tema. Publicado originalmente em 1985 e já esgotado, o estudo que aborda poder, estética e mística em volta do período ganha um nova edição pela Cepe Editora nesta quinta-feira (23), às 19h.
O evento de lançamento da sexta edição de "Guerreiros do Sol" ocorrerá na sede da Academia Pernambucana de Letras, localizada no bairro das Graças, Zona Norte do Recife. Com 544 páginas, a novidade chega ricamente ilustrado e ancorado numa extensa pesquisa realizada em jornais, na poesia sertaneja, em documentação histórica e em depoimentos escritos e orais.
Advogado de formação, Frederico Pernambucano de Mello é referência em estudos sobre o cangaço. De acordo com ele, a nova edição traz poucos acréscimos. “O que predomina é a purificação dos dados, dever interminável de quem escreve”, declara o escritor.
No livro, ele traça um panorama do homem sertanejo, descreve a violência instalada no país, analisa as formas de cangaço e ressalta a teoria do escudo ético, argumento da vingança usado por cangaceiros para exercer a bandidagem.
"Fazer-se cangaceiro era protagonizar uma tradição brasileira de insurgência coletiva, rural, armada e metarracial, essa última característica significando que se podia ascender na hierarquia dos bandos de cangaceiros independentemente do tipo racial a que se pertencesse", diz o escritor.
"Lampião era caboclo; Corisco, louro dos olhos claros; Luiz Pedro, Candeeiro e Elétrico, sararás; Zé Baiano, negro; Zé Sereno, negroide; Cobra Verde, moçárabe; Gato e Peitica, índios quase puros; Maria Bonita, alva; Dadá, mulata; Inacinha, índia".
Frederico Pernambucano analisa as figuras do cangaceiro, jagunço, pistoleiro, capanga, cabra e valentão. "O cangaceiro mostra não ter sido fenômeno homogêneo, divergindo segundo a motivação que levava o indivíduo a tomar armas, bem assim pela conduta adotada", destaca.
Ele identifica o cangaço como meio de vida (Lampião e Antônio Silvino são os principais representantes), o cangaço como instrumento de vingança (Jesuíno Brilhante e Sinhô Pereira são os grandes exemplos) e o cangaço como refúgio ( ngelo Roque é o mais expressivo).
Elogiado por pesquisadores nacionais e estrangeiros, como o sociólogo Gilberto Freyre e Billy Jaynes Chandler (escritor norte-americano com livros lançados sobre o cangaço brasileiro), “Guerreiros do Sol” é o resultado de uma vida dedicada à pesquisa.
"Seguindo Gilberto Freyre, com quem trabalhei por quinze anos na Fundação Joaquim Nabuco, do Recife, vali-me da mais aberta pluralidade de fontes, das mais carrancudas, cartório etc, às mais insuspeitadas, sem desprezar a poesia dos cantadores e os folhetos ditos de cordel, como os anúncios de jornal, sempre uma fonte purificando a outra", diz Frederico Pernambucano.
"O livro salienta a existência de dois Nordestes, o da agricultura de exportação, à frente a cana-de-açúcar, e o da pecuária, o ciclo do gado e do couro. Dois mundos, duas sociedades, dois homens, duas formas de motivação e exteriorização da violência, presente em ambos. Salienta, individualiza e conceitua os protagonistas dessa violência: o cabra, o capanga, o 'matador de pé de pau 'ou pistoleiro, o jagunço e o cangaceiro. Há ainda a salientar no livro uma teoria proposta e hoje adotada em geral, a do 'escudo ético'", continua o autor.
"Em essência, a narrativa adotada pelo fora da lei logo que vai ficando famoso, destinada a lhe justificar a conduta. Afinal, coragem, bravura e audácia produziam simpatia no universo rural, contudo, para a imortalização pela poesia de gesta era necessária uma justificativa moral compreensível."
Num texto publicado na 5ª edição (Selo A Girafa/SP, 2013), Evaldo Cabral de Mello, tido como um dos maiores historiadores do Brasil, define Guerreiros do Sol como "o mais abrangente e profundo estudo do cangaceirismo, tema sobre o qual muito já se escreveu, mas que só este livro aborda desde uma variedade de ângulos que vão do seu condicionamento socioeconômico pelo ciclo do gado à análise do arcaísmo cultural em que seus comportamentos deitam raízes, e ao acobertamento ético que habilita o cangaceiro a justificar o uso sistemático da violência perante si mesmo e perante a sociedade."
SERVIÇO
Lançamento do livro “Guerreiros do Sol: Violência e banditismo no Nordeste do Brasil", em evento aberto ao público
Onde: Academia Pernambucana de Letras (Avenida Rui Barbosa, 1596, Graças, Recife)
Quando: 23 de março, a partir das 19h
Quanto: R$ 80 (impresso) e R$ 32 (e-book)