Jonathas de Andrade explora contradições e efervescência do Recife em exposição retrospectiva, no MAMAM

Um dos principais nomes da arte contemporânea no Brasil realiza a mostra 'Na Cidade da Ressaca' Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães até 18 de junho
Emannuel Bento
Publicado em 23/03/2023 às 16:10
ARTES VISUAIS Jonathas de Andrade Foto: UHGO/DIVULGAÇÃO


Considerado um dos principais nomes da arte contemporânea no Brasil, Jonathas de Andrade traz ao Recife, cidade onde iniciou suas experiências artísticas, uma mostra comemorativa dos seus 15 anos de carreira. "Na Cidade da Ressaca" ocupa o MAMAM - Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães até 18 de junho, trazendo um panorama da poética plural do artista. A curadoria é de Moacir dos Anjos.

Natural de Alagoas, Andrade reside e produz no Recife, tendo representando o Brasil na 59ª Bienal de Arte de Veneza, na Itália. Também já participou das bienais de São Paulo (2016 e 2010), Istambul (2019 e 2011), Lyon (2013), Sharjah, nos Emirados Árabes (2017 e 2011), entre outras.

"Na Cidade da Ressaca" traz um apanhado de obras representativas em sua carreira, priorizando aquelas que possuem ligações com o Recife e Pernambuco - muitas delas inéditas na cidade. No ano passado, inclusive, outra mostra retrospectiva também foi realizada na Pinacoteca do Estado de São Paulo.

São trabalhos em fotografia, vídeos e instalações que convidam o visitante a uma imersão em temáticas como desigualdade, sensualidade e educação, sempre provocando questionamentos a alguns cânones das artes e críticas ao processo destruidor da modernização de capitais como o Recife.

Na cidade da ressaca

O título da obra é uma menção à instalação "Ressaca Tropical" (2009), que utiliza páginas de um diário amoroso encontrado no lixo para criar uma narrativa com imagens aéreas do Recife (de Alcir Lacerda) e de fragmentos do cotidiano íntimo da cidade.

O visitante também encontrará obras como "Recenseamento moral da cidade do Recife" (2008) e "O Levante" (2012-2014), um vídeo com imagens de uma corrida de cavalos organizada pelo artista no centro da capital pernambucana.

"Para mim, é uma emoção gigante montar essa exposição, pois muito da minha energia foi para fazer esses projetos serem possíveis. Pude aprender com essas colaborações, me manter experimentando materialmente e narrativamente com esses jogos de compor, construir, mostrar e ampliar", diz Jonathas de Andrade ao JC.

O artista chegou ao Recife em 2022 para estudar um curso de comunicação na Universidade Federal de Pernambuco. "Chegando aqui, tive relação com uma cidade cheia de contrastes, uma cidade efervescente, em ebulição, tanto para a abertura quanto para o desafio", diz, sobre a forma como a capital pernambucana inspirou sua obra.

“É uma cidade marcadamente construída e fincada pela experiência da exclusão do nosso país. Isso transparece na própria personalidade da cidade, onde expor-se às ruas é lindo, mas exige certo preparo, pois te forja. Existe uma provocação e uma exigência de como o seu corpo se comporta nessa cidade. Essa exposição é como um retorno, uma espécie de resposta ou presente de volta para um local que me acolheu - muito mais para a inspiração do que de fato um acolhimento.”

Ideia de 'Nordeste' e autorrepresentação

Em outras obras, Jonathas discute conceitos de identidade e pertencimento da região, sobretudo em Museu do Homem do Nordeste (2013), que mimetiza cartazes do museu da Zona Norte do Recife para questionar a idealização da memória colonial perpetuada pela coleção da instituição homônima, criada em 1979 por Gilberto Freyre.

Ele também toca em temas como insurreição e luta e se manifesta nas séries "Educação para Adultos" (2010) e "ABC da Cana" (2014), que, a partir do pensamento de Paulo Freire, entendem a emancipação do sujeito através da educação como um ato revolucionário.

Com forte interesse por processos colaborativos e as questões de autorrepresentação, Jonathas desenvolveu junto às integrantes do Teatro das Heroínas de Tejucupapo, de Goiana, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, que há 30 anos encenam a famosa batalha que resultou na derrota dos holandeses, no século 17, a partir dos esforços e organização das mulheres locais.

A permanência do episódio no imaginário pernambucano enquanto símbolo de força e resistência, mantém-se não só através da história oficial, mas também pelo engajamento das moradoras locais e sua relação com a arte, elementos que fomentaram os projetos "Teatro das Heroínas de Tejucupapo" e "A Batalha de Todo Dia de Tejucupapo" (2022), também presentes na exposição.

A exposição conta com incentivo do Funcultura, Fundarpe/Secretaria de Cultura e Governo do Estado de Pernambuco, e apoio da Galeria Nara Roesler e do MAMAM - Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães.

SERVIÇO
Exposição "Na Cidade da Ressaca", de Jonathas de Andrade
Abertura: 23 de março às 19h
Visitação: de 24 a 18 de junho, de quarta a sexta-feira, das 10h às 17h; sábados e domingos, das 10h às 16h, no MAMAM (Rua da Aurora, 265, Boa Vista, Recife)
Quanto: Entrada gratuita

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cultura Jonathas de Andrade
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