Uma pesquisa sobre maternidade compulsória, expressão para discutir a pressão da sociedade para que mulheres sejam mães, foi o norte para a nova exposição da fotógrafa e artista visual Priscilla Buhr, em cartaz no Museu Murillo La Greca, no Parnamirim, Zona Norte do Recife, até o dia 10 de maio.
A mostra "Não Reagente" nasceu de uma experiência pessoal de Priscilla: o diagnóstico de possível infertilidade fez a artista se questionar sobre as imposições sociais sobre o corpo da mulher. As visitações podem ser realizadas das terças a sextas, das 9h às 12h e das 13h às 17h.
A exposição fotográfica dialoga com outras linguagens; são mais de 40 obras, entre fotografias, textos-obra, vídeo, imagens de arquivo e apropriadas, colagens e, inclusive, uma aquarela. A artista faz também intervenções plásticas nas fotos e sutura, literalmente, imagens em busca de respostas às dores e marcas que atravessam diversas mulheres em seus processos de gestar e parir. A expografia é assinada por Maíra Gamarra.
Etimologicamente, infértil quer dizer "improdutivo, infecundo, baldado, improfícuo; que não consegue produzir o resultado esperado; inútil". Priscilla, então, subverte e transformou o sentimento em arte: entrevistou 44 mulheres mães sobre como elas se imaginavam se não tivessem sido mães.
Foi a partir desse diálogo o trabalho começou a ganhar forma, com notas pessoais em cima das respostas das entrevista. A artista passou a produzir fotografias com forte apelo poético e metafórico sobre a ideia do vazio, do oco, da mulher "seca", que não pode gerar vida e as várias camadas sensíveis que atravessam o tema.
"Com a pesquisa, conheci o sofrimento e dor das mulheres que não conseguem engravidar e aquilo me despertou uma vontade de entender esse processo, muitas vezes opressivo, que toda mulher enfrenta pelo simples caminho que nos foi traçado: ser mãe", disse Priscilla.
"No meio da pesquisa, engravidei de Artur, meu filho que hoje tem 6 anos, e neste tempo consegui cruzar a linha da maternidade para entender como funciona a outra pressão social em ser mulher e dar conta de tudo. Não Reagente continuou evoluindo e chegou até esta exposição, que dialoga sobre a maternidade e seus atravessamentos", completa a artista.
"Priscilla lida com o seu processo artístico não muito diferente ou distante da vida mesma, suas experiências, vivências, desconfortos, incômodos ou perguntas se tornam obras. Por sorte, pude acompanhar os passos iniciais desses questionamentos e inquietações na primeira fase do projeto e esse acompanhamento, diálogo e troca seguiram ao longo dos anos e diferentes etapas do trabalho", diz a curadora Maíra Gamarra.
"Estar tão perto para vê-lo nascer e, ao mesmo tempo, longe o suficiente para vê-lo florescer foi fundamental para poder pensar junto com Pri a curadoria e expografia da exposição, que se utiliza de elementos do universo da maternidade e seus desafios dentro de um sistema patriarcal cruel e opressor com as mulheres, mães e cuidadoras, ao mesmo tempo que faz uma crítica contundente e, ainda assim, flerta e brinca com os altos, baixos e reviravoltas da condição de mãe artista solo", considera Maira.
Priscila Bhur fotógrafa da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco - Fundarpe e do Jornal do Commercio, atualmente sou repórter fotográfica do Ministério Público de Pernambuco. É uma das fundadoras do coletivo 7Fotografia, que desenvolve diversas atividades de produção, pesquisa e debate na área desde 2010. Foi ganhadora do Prêmio Brasil de Fotografia 2013 na categoria Revelação e integra o Clube de Colecionadores de Fotografia do MAMAM.
SERVIÇO
Não Reagente, de Priscilla Buhr
Onde: Museu Murillo La Greca (Rua Leonardo Bezerra Cavalcante, 366, Parnamirim)
Horário de visitação: Terça a sexta: 9h - 12h e 13h - 17h, em cartaz até 10/05
Quanto: Gratuito