Cida Pedrosa se tornou a primeira escritora pernambucana a receber o Prêmio APCA - Associação Paulista de Críticos de Arte em cerimônia realizada na última segunda-feira (17), no Teatro Sergio Cardoso, em São Paulo. Criada em 1956, essa é considerada uma das premiações mais relevantes para a cultura no Brasil.
A poeta foi premiada na categoria Literatura pelo livro "Araras Vermelhas" (Companhia das Letras, 2022), seu mais recente trabalho, indicado e escolhido como Melhor Livro de Poesia de 2022.
O livro é um longo poema que conta a história da Guerrilha do Araguaia, movimento de resistência à Ditadura Militar organizado pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), nas décadas de 1960 e 70.
"Neste longo poema, escrito em 2022, ainda sobre a égide de um governo autoritário e golpista, eu traço, a partir de memórias coletivas de guerrilheiros e guerrilheiras, de minhas próprias memórias pessoais, um longo poema que vai de encontro a qualquer regime ditatorial", resumiu a escritora, durante o seu discurso na cerimônia.
"Eu quero primeiro fazer uma coisa que nunca fiz", começou Cida. "Quero agradecer ao meu pai que só fez o primeiro ano primário, a minha mãe que aprendeu a ler com uma tia, mas que na nossa casa nunca faltou um cordel porque eles acreditavam no saber como forma de mudar o mundo".
"Quero agradecer a APCA por sua longevidade e por sua capacidade de acompanhar a evolução das artes. E dizer que idade, embora a gente tenha preconceito etário permanentemente, idade conta e conta lindo", continuou.
A artista ainda agradeceu á Companhia das Letras "por ter acreditado" no livro e ao PCdoB, partido do qual é filiada e atualmente vereadora do Recife. "Quero encerrar minha fala dizendo o seguinte: a arte da palavra existe. Ela é necessária para a formação do pensamento crítico e feliz do país que lê. Feliz do país que tem a capacidade de fazer pensamento crítico a partir da arte. A cultura salva. A cultura transforma. E antes de qualquer coisa, dizer pra vocês, com o cheiro do mar do Recife, com o cheiro do meu sertão, de que o Brasil voltou pros seus trilhos e que, cada um de nós que está aqui, pode com sua arte ajudar a esta pátria."
O prêmio APCA chega como mais um reconhecimento a trajetória da poeta, que tem mais de 40 anos de carreira, 11 livros publicados e prepara novos lançamentos. Nos últimos anos, Cida Pedrosa vem vivendo uma boa fase de prêmios, indicações e homenagens. Em 2020, venceu o Prêmio Jabuti 2020, com o livro "Solo para Vialejo" (CEPE Editora, 2019), nas categorias Livro do Ano e Melhor Livro de Poesia.
Em 2022, o "Araras Vermelhas” figurou na lista de Melhores do Ano da Folha de São Paulo. Em 2017 o seu livro "Claranã" (Confraria do Vento) figurou entre os 50 Melhores do Prêmio Oceanos, fato que em 2010 havia acontecido com o livro "As Filhas de Lilith" (Calibán).