Representantes de diversas linguagens artísticas se reuniram em frente ao Teatro Valdemar de Oliveira, na Praça Oswaldo Cruz, Centro do Recife, na manhã desta quarta-feira (27). A manifestação pediu o tombamento e a reabertura do equipamento cultural privado, gerido pelo Teatro de Amadores de Pernambuco.
O "Movimento em Defesa do Teatro Valdemar de Oliveira" foi encabeçado por Oséas Borba, José Manoel Sobrinho e José Mário Austregésilo, ligados à comunidade teatral do Estado. Desde o fechamento na pandemia, em 2020, o espaço vem sendo alvo de invasões, furtos e depredações.
"Durante a minha vida, fiz muitos espetáculos aqui, como diretor e ator. Eu represento um grande grupo de artistas dessa cidade que está lutando para que o Teatro Valdemar de Oliveira continue sendo o Teatro Valdemar de Oliveira. Que continue sendo essa casa que acolhe a produção cultural do Brasil, de Pernambuco e do Brasil. Essa é a grande luta", disse José Manoel Sobrinho, que foi gerente de teatro do Sesc por décadas, em entrevista à Rádio Jornal.
"A gente não tá contra ninguém. Nós só não aceitamos que o teatro deixe de existir e que vire outra coisa. Esses escombros são resultado de esquecimento, de um abandono. Não dá pra negar isso", continuou.
Para ressaltar a importância do teatro, Sobrinho relembrou que Cinderela, personagem de Jeison Wallace que ficou famoso em todo o Estado pela TV Jornal, ganhou popularidade com a peça "Cinderela - A História Que a Sua Mãe Não Contou", um sucesso no Valdemar de Oliveira nos anos 1990.
"Foram temporadas gigantescas à meia-noite. Esse teatro tinha espetáculos de segunda a segunda. Tinha espetáculos no domingo de manhã, no sábado à tarde, e todos os dias à noite. Ele não pode fechar. Essa é a nossa luta para que ele seja tombado, para que o Estado assuma ou que o Teatro de Amadores de Pernambuco assuma de fato, restaurando. A gente está junto nessa luta".
Espaços para as cênicas
A necessidade de espaços para a classe teatral do estado também foi ressaltada por Cida Pedrosa, poeta e vereadora do Recife. "Não podemos perder mais um teatro. A cidade tem pouquíssimas casas de espetáculos. Quantas casas novas surgiram nos últimos 30 anos, tirando aquelas independentes, criadas a duras penas por aqueles que fazem arte na cidade?”, disse.
"Não é só tombar, é tombar e ter um plano de uso para este teatro. É construir uma gestão democrática com a turma que faz teatro, para que ele possa ser utilizado de forma real. Temos de discutir a reabertura para que a sociedade possa utilizá-lo da melhor forma possível. Este é um lugar político, de construção de saberes e de afeto".
TAP não tem interesse em tombamento
A diretoria do Teatro de Amadores de Pernambuco - TAP, responsável por gerir o Teatro Valdemar de Oliveira, se posicionou acerca dos recentes acontecimentos envolvendo o espaço em nota divulgada nesta terça-feira (26).
O TAP informou que "não tem interesse no tombamento nesse momento de busca de alternativas". "O processo implica um ônus burocrático que pode prejudicar as tratativas em curso e retardar a almejada recuperação e reabertura do Teatro Valdemar de Oliveira", diz o texto.
Ao JC, o diretor adjunto Carlos Alberto informou que o TAP ainda não foi formalmente chamado para conhecer o teor do processo que foi publicado no Diário Oficial no dia 22 de setembro.
O ofício de solicitação do tombamento foi entregue à Secult-PE/Fundarpe pelo Grupo João Teimoso e o Movimento Guerrilha Cultural. Em nota, o Grupo João Teimoso e o Movimento Guerrilha Cultural informou que "está em defesa do prédio e não dos seus proprietários, que parecem já ter jogado a toalha, inclusive esquecendo toda história grandiosa do seu fundador". "Acreditamos na luta pela democratização da nossa cultura, por mais espaços e pela memória do nosso povo.”
Inaugurado em 1971 para ser sede do TAP, o Teatro Valdemar de Oliveira é um dos espaços teatrais mais tradicionais da capital pernambucana. Reinaldo de Oliveira, que encabeçou a administração do espaço por décadas, faleceu em 2022.