Familiares e amigos se despediram, neste domingo (5), da atriz e gestora cultural Leda Alves. A ex-secretária de Cultura do Recife, morreu de causas naturais na manhã do sábado, aos 92 anos.
O velório aconteceu na Capela de Santo Amaro, na área central do Recife, com homenagens de representantes de agremiações carnavalescas - que tanto receberam atenção de Leda Alves no período em que ela esteve à frente de cargos públicos.
Dom Fernando Saburido, arcebispo emérito de Olinda e Recife, presidiu uma missa de despedida. O atual secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello, participou da cerimônia. Ele reforçou que Leda será homenageada pela gestão municipal.
A ideia é criar o Prêmio Leda Alves da Cultura Popular, para, anualmente, homenagear aqueles que engrandecem o segmento na capital.
À tarde, o corpo de Leda seguiu para cremação no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, numa cerimônia reservada a familiares e pessoas mais próximas.
Trajetória
Na metade do século 20, Leda Alves foi testemunha ocular do desenvolvimento do Teatro Popular do Nordeste, um dos movimentos teatrais mais revolucionários do Brasil, que buscou uma maneira nordestina de interpretar e de encenar, além de oferecer ao Recife um teatro profissional e de qualidade artística.
Alves tinha uma vasta experiência no campo do teatro, tendo-se destacado como atriz na encenação de peças famosas do TPN, além da vivência como esposa do teatrólogo Hermilo Borba Filho (1917-1976), com quem trabalhou em várias produções.
Leda Alves ingressou nas artes cênicas em um período ainda bastante resistente à presença das mulheres. "Quando ela era pequena, gostava de encenar, o que era algo comum da infância. Para a mulher, esse espaço de atriz era praticamente o mesmo de prostituta", diz a jornalista Carolina Leão, autora do livro "Os Múltiplos Caminhos de Leda Alves".
"Ela representa essa quebra de padrão, junto com a Geninha Rosa Borges, que foi ingressar junto com esse grupo cosmopolita. No começo, ela era muito ligada ao almoxarifado, exercendo um papel mais administrativo. Ao longo da criação do TPN, ela vai recebendo papéis de protagonismo."
Posteriormente, passou a assumir representatividade na gestão pública, sempre em diálogo com fazedores da cultura popular e levando adiante o legado do marido.
"Sou muito grato de ter convivido um pouco com Leda. Uma mulher realmente admirável, que fez muito pela cultura pernambucana, pela cultura do Brasil, que enfrentou a ditadura, o preconceito", diz Luís Augusto Reis, professor do departamento de artes da UFPE que se dedicou ao legado artístico-intelectual de Hermilo Borba Filho.
"Uma força e uma capacidade vital incrível, então é um momento que lamentamos muito. Ela vai fazer muita falta. Temos a certeza que ela sabe tina cumprido a missão dela com muito brilhantismo, com muita dignidade."
Figura pública
Leda Alves também foi dirigente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e presidente da Companhia Editora de Pernambuco (2008-2012), antes de assumir a Secretaria de Cultura do Recife nas gestões de Geraldo Júlio (2013-2020). Também foi diretora do Teatro Santa Isabel e Assessora Especial de Cultura na gestão de Miguel Arraes.
Em agosto de 2022, Alves foi homenageada pelos Almir Fernando e Cida Pedrosa com a entrega da Medalha de Mérito Olegária Mariano, criada para homenagear mulheres que tenham prestado serviços à humanidade e à paz universal. "Eu me alimento disso: conviver com o meu povo de cultura popular. O que é isso que nos dá vontade de ficar junto? É o amor", disse, em discurso, na ocasião.