CINEMA

'Zona de Interesse' traz o Holocausto pela perspectiva de família nazista

Filme mostra a vida de um influente oficial da SS vivendo em uma confortável casa vizinha ao campo de concentração de Auschwitz

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Estadão Conteúdo

Publicado em 22/02/2024 às 14:19
Cena do filme 'Zona de Interesse'
Cena do filme 'Zona de Interesse' - DIVULGAÇÃO

"Zona de Interesse" não é um filme sobre Holocausto como qualquer outro feito sobre o tema. O longa, que chega como um forte concorrente ao Oscar (com cinco indicações), colocou o diretor Jonathan Glazer em uma posição incômoda: retratar esse período de horror do ponto de vista dos nazistas.

O filme mostra a vida de um influente oficial da SS, Rudolf Höss, sua mulher e seus dois filhos vivendo em uma confortável casa vizinha ao campo de concentração de Auschwitz, onde milhares de judeus foram exterminados ao longo da Segunda Guerra Mundial.

Tudo é sugerido, principalmente com sons, mas nada é exposto. Nada abala a rotina da família: nem a fumaça que sobe das chaminés dos fornos crematórios, nem os gritos de desespero e o som de tiros, em uma assustadora banalização do mal.

Realismo

Em pesquisas para compor a produção, Jonathan Glazer percebeu que a realidade era muito mais chocante do que qualquer ficção. O cineasta procurou se afastar da fetichização e de uma possível glamourização, aproximando-se ao máximo do realismo.

A iluminação é quase totalmente natural - com exceção de uma cena -, ou seja, não há luzes de cinema. Os closes são evitados, para que não haja nenhuma empatia com Rudolf ou Hedwig, mulher do oficial.

As câmeras são todas fixas e estavam espalhadas em locais escondidos pela casa. Os atores não sabiam sua localização. É como se fosse um Big Brother, sempre espiando - e julgando - os moradores da casa.

'Fizemos um Big Brother na casa nazistas'

Cena do filme 'Zona de Interesse' - DIVULGAÇÃO

Em entrevista ao Deadline, o diretor de fotografia Lukasz Zal explicou sobre a decisão. Ao todo, as gravações duraram mais de 50 dias. "Não havia equipe no set, nem luzes ou equipamento de filmagem, apenas dez câmeras, às vezes escondidas em arbustos, paredes e armários", comentou.

Segundo ele, a ideia era fazer com que o público "não sentisse um autor por trás da câmera" e nem fosse manipulado por jogos de cena ou de luz: ele mesmo tira as próprias conclusões.

"Fizemos o Big Brother na casa nazista. Nos reality shows, as câmeras muitas vezes ficam sob o teto. Nós procurávamos mais a objetividade e a geometria do quadro, mas a abordagem era a mesma", disse.

A abordagem provocativa foi o que capturou a atenção no Festival de Cannes 2023, onde o filme recebeu o prêmio Grand Prix. Ao todo, o longa recebeu cinco indicações ao Oscar: melhor filme, melhor direção, melhor roteiro adaptado, melhor filme internacional e melhor som.

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