"Ao longo da história, o sexo é cercado de tabus e de censuras. Nem por isso deixa de construir um discurso atraente e tentador", resume Valmir Costa, autor do livro "Repórter Eros: a história do jornalismo erótico brasileiro" (696 páginas, Cepe Editora).
O jornalismo voltado aos temas carnais possui mais de meio século de trajetória do Brasil. Neste intervalo, da primeira revista ("O Badalo", de 1893) aos atuais portais, o gênero provocou muito além da libido nos leitores: gerou polêmicas e levantou debates sobre sexualidade, gênero, moralidade e tabus.
O livro será lançado neste sábado (10), às 16h, na Antiga Estação Ferroviária de Caruaru, durante o festival Pernambuco Meu País. Antes da sessão de autógrafos, haverá um bate-papo entre o autor e o professor Ricardo Sabóia, do Centro Acadêmico do Agreste da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
O lançamento no Recife ocorre no dia 24 de agosto, no Centro de Artesanato de Pernambuco, no Bairro do Recife. Em julho, a obra foi lançada em São Paulo (SP), onde o autor, que é pernambucano, era radicado.
Evolução do jornalismo erótico
Para mostrar a evolução do jornalismo erótico nacional, Valmir Costa divide o processo em 10 fases, que se estendem do surgimento da imprensa no país, no começo do século 19, ao declínio recente das revistas do gênero. Na publicação conta com mais de uma centena de fotos e ilustrações, principalmente capas e páginas de revistas e jornais.
Na análise, o autor mostra, por exemplo, que a imprensa erótica tem um recorte de gênero entre homens e mulheres. "Primeiramente para homens heterossexuais, numa relação de poder, e posteriormente para mulheres heterossexuais e homens e mulheres homossexuais", descreve o autor, que é jornalista pela UFPE e doutor em comunicação pela USP.
Publicações analisadas
Entre as publicações analisadas há títulos famosos e desconhecidos, indo da "Ba-Ta-Clan", de 1867, que se encaixa na fase embrionária da imprensa estudada, ao "O Badalo", de 1893, a primeira revista propriamente erótica.
A lista aborda também veículos do fim do século 20 e começo do 21. Entre eles, "Ele Ela", "Close", "Playboy", "Sexy", "Penthouse", "Sex Symbol", "G Magazine" e "Lolitos".
Ao tratar das publicações, Valmir Costa contextualiza com os acontecimentos e ideias vigentes de cada época. As revistas começam se reportando aos cabarés, ainda a forte influência da Igreja Católica e a censura imposta pelo Estado Novo de Getúlio Vargas.
O jornalismo erótico atravessou o golpe civil-militar de 1964 e o sucesso das dançarinas da Discoteca do Chacrinha na televisão. Todas estas abordagens aparecem em ordem cronológica.
Nudez
A nudez ocupa espaço na imprensa erótica aos poucos. Os corpos femininos são os primeiros expostos. Em 1906, a revista "O Rio Nu" inova e traz na capa a fotografia com três mulheres nuas. Até a liberação para se publicar o nu frontal se passam mais de sete décadas, indica o historiador. O primeiro nu frontal foi publicado na edição de março de 1980 da "Ele Ela".
A mudança estimula o crescimento das tiragens nos anos seguintes. Em março de 1999, a Playboy com a modelo Suzana Alves, a Tiazinha, vendeu 1.223.000 exemplares. Em dezembro, as vendas da edição em que o destaque é a modelo Joana Prado, A Feiticeira, alcançam 1.247.000 exemplares.
Mas "Repórter Eros" vai além de um estudo sobre o jornalismo erótico: os assuntos são trazidos à tona alinhados a questões como feminismo, machismo, homofobia e racismo.
SERVIÇO
Lançamento do livro Repórter Eros: a história do jornalismo erótico brasileiro (Cepe Editora, 2024), de Valmir Costa
Quando: sábado (10), a partir das 16h
Onde: Estande da Cepe Editora, na Antiga Estação Ferroviária de Caruaru, localizada na Rua Silva Filho, Maurício de Nassau, Caruaru (PE)