Xande de Pilares admite receio de regravar Caetano: 'Claro que fiquei com medo'. Confira a entrevista
Sambista conversou com o JC sobre a carreira após o disco 'Xande canta Caetano': 'É muito bom ser homenageado, principalmente quando é ainda em vida'

Com mais de 30 anos de carreira, o sambista Xande de Pilares vive um momento singular desde o lançamento de Xande canta Caetano, álbum que apresenta releituras de clássicos do ícone da MPB.
O trabalho rendeu ao artista o seu primeiro Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba e o levou a palcos de diversos festivais pelo Brasil. "Vejo um público que eu nunca imaginei que iria me assistir", revela, em entrevista ao JC.
O projeto chega ao Recife pela primeira vez nesta sexta-feira (24), na prévia Baile da Macuca, que acontece no Parador, no Bairro do Recife, às 20h. "As pessoas vão encontrar um Xande mais sereno, mas sem abrir mão do meu jeito de ser", garante.
'Claro que fiquei com medo'
Durante a conversa, Xande detalhou como nasceu a ideia para o disco, fruto de uma sugestão do próprio Caetano Veloso.
"Ele me viu cantando uma música dele em ritmo de samba, achou interessante e perguntou se eu teria coragem de fazer um show em um teatro, com ele dirigindo, e eu sozinho no cavaquinho", relembra.
De início, Xande recusou: "Achei um absurdo! Não, cara, não tem como. Voz e piano, até tem. Voz e violão, vai. Mas cavaquinho? Não! Fiquei meio sumido depois dessa conversa. Quando voltei, ele perguntou se eu tinha ficado com medo. E claro que fiquei com medo!".
Assim, veio a proposta para um disco de releituras nos 80 anos de Veloso. "Por isso o disco abre com voz e cavaquinho, que foi o que não tive coragem de fazer no teatro", explica Xande.
'Caetano se emocionou'
O processo de seleção das músicas foi conduzido pela relação pessoal do artista. Todas carregam uma história e um motivo para estarem ali. Justamente por isso, ele costuma dizer que quem canta no álbum é Alexandre, não Xande.
"Caetano escutou todas as faixas par dar o 'ok' dele. Chamávamos ele para opinar se tinha alguma nota exagerada, por exemplo. Em uma dessas sessões, ele se emocionou", conta.
O momento foi registrado e comoveu todos os presentes, incluindo Paula Lavigne e Pretinho da Serrinha, produtor do álbum.
"É bom que outros artistas façam homenagens. É muito bom ser homenageado, principalmente quando é ainda em vida. Foi o que aconteceu nesse caso", diz.
"Já cantei Roberto, Djavan, Chico Buarque, Cartola... Não fiz discos, mas, quem procurar no meu acervo, vai escutar regravações. Só não canto Michael Jackson e Elton John porque não sei falar inglês. Prefiro música em português", diz.
'Música brasileira é mais ouvida'
Xande de Pilares acredita que existe cada vez menos separação entre gêneros musicais, como entre o samba e o MPB. "Os separatistas estão cada vez mais perdendo espaço", opina.
"Essa ideia de partido político não pode estar na música: que você só pode gostar de sertanejo e não de forró, ou que só gosta de rap e não de pagode. Isso está ficando cada vez mais distante da gente. Na verdade, isso é algo que nem deveria existir", continua.



Ele observa, ainda, que a música brasileira é mais valorizada hoje. "Quando eu tinha mais ou menos 10, 15 anos, você ligava o rádio e só ouvia música internacional. Acho que era uns 150% disso. A música brasileira não tinha esse espaço todo, principalmente nas FMs. Hoje, ouvimos música brasileira 24 horas por dia".
Por conta desse histórico de desvalorização de ritmos brasileiros populares, ele sentiu receio de tocar no Rock in Rio de 2024.
"Na primeira edição do festival teve muita vaia, porque havia uma forma radical de pensar. Tive até medo, mas, chegando lá, não queria ir embora mais. A música brasileira tem que prevalecer, porque, se não fosse ela, estaríamos ferrados".
'Cereja no bolo'
O cantor define a atual fase da carreira como a "cereja no bolo". "A música me batizou. Esse disco foi um presente de Deus e do Caetano, uma experiência que me levou a lugares que eu achava impossíveis de alcançar".
"Xande canta Caetano marcou muito a minha vida. As grandes coisas que aconteceram na minha jornada, da sociedade ao que ocorreu no meu íntimo, sempre tiveram a música no centro. Então, ser contemplado com um Grammy, após indicado várias vezes... Essa oportunidade para mim é sagrada".
Recife
Com o projeto chegando ao Recife, Xande brinca sobre sua conexão com a cidade: "Sou praticamente um carioca nordestino. Sou suspeito para falar, porque tenho um carinho enorme por essa cidade, pela cultura, pelo povo."
Também também promete surpreender o público: "Todos conhecem o Xande festeiro, que agita e coloca todo mundo para dançar. Desta vez, será um show mais tranquilo, mas sem perder minha essência. Vai ser especial."