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Favorito no Oscar, 'Conclave' transforma eleição do Papa em thriller político e incomoda ala católica

Filme de Edward Berger subverte a expectativa de um drama eclesiástico convencional, imprimindo um ritmo envolvente e carregado de suspense

Publicado em 06/02/2025 às 14:42 | Atualizado em 10/02/2025 às 13:37
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Quando a fumaça branca sai da chaminé, anunciando a liderança de um novo Papa, a atenção do mundo se volta à Capela Sistina, na Itália. Mas o que acontece entre a morte de um pontífice e esse momento solene? "Conclave", novo longa de Edward Berger, transforma um dos processos mais enigmáticos da Igreja em um thriller político eletrizante.

Indicado a oito categorias no Oscar 2025, incluindo Melhor Filme, o longa desponta como um forte concorrente, impulsionado pelos recentes desdobramentos na temporada de premiações.

"Emília Perez", líder em indicações, se viu cercado por controvérsias e recepção dividida, e “O Brutalista” perdeu força após polêmicas sobre o uso de Inteligência Artificial. A torcida brasileira segue com “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, mas é inegável como o filme de Berger se fortalece.

O diretor já levou o Oscar de Melhor Filme Internacional com “Nada de Novo no Front”, em 2023, e retornou com uma narrativa que combina tensão, política e reflexões sobre o próprio rumo social do ocidente em um contexto intrigante do mundo.

Enredo

Adaptado do romance de Robert Harris, o filme, também indicado a Melhor Roteiro Adaptado, acompanha Thomas Lawrence (Ralph Fiennes), cardeal encarregado de conduzir o conclave que definirá o sucessor do Papa recém-falecido.

Desde os primeiros minutos, Berger subverte a expectativa de um drama eclesiástico convencional, imprimindo um ritmo envolvente e carregado de suspense.

Isso se dá em grande parte por conta da trilha sonora também indicada no Oscar, dominada por acordes graves de violino, inserindo uma atmosfera sombria logo na cena inicial, quando o corpo do Papa jaz em seu quarto.

A fotografia, assinada pelo francês Stéphane Fontaine, amplifica essa tensão com enquadramentos meticulosamente compostos, alternando entre a grandiosidade da Capela Sistina e os seus corredores escuros e claustrofóbicos.

O filme se vale da perspectiva de Lawrence para imergir o público nos bastidores do conclave, revelando a intimidade e os jogos de poder que se desenrolam sob os olhos atentos dos cardeais. Tudo isso, é claro, com boas doses ficcionais, já que não se sabe completamente como ocorre esse processo.

Disputa

No centro da disputa estão quatro cardeais, cada um representando grupos ideológicos distintos. O americano Bellini (Stanley Tucci), aliado de Lawrence, é um progressista que defende a inclusão de mulheres e LGBTQ+ na Igreja, contrapondo-se a Tedesco (Sergio Castellitto), um italiano ultraconservador.

Adeyemi (Lucian Msamati) também segue uma linha tradicionalista, mas sua candidatura ganha força pelo potencial histórico de se tornar o primeiro Papa africano. Já Tremblay (John Lithgow), um canadense moderado, busca equilibrar os extremos, mas não esconde sua ambição.

A disputa torna-se ainda mais misteriosa com a chegada do cardeal mexicano Benítez (Carlos Diehz) no conclave. Ele foi secretamente nomeado pelo papa anterior para ocupar o posto em Cabul, no Afeganistão.

No olho desse furacão está Lawrence, magistralmente interpretado por Fiennes, indicado a Melhor Ator. O cardeal media conflitos, mas também se envolve neles de forma crescente.

Em meio a manobras veladas, ele descobre segredos comprometedores: um dos favoritos esconde um escândalo sexual, enquanto outro cardeal compra votos com dinheiro.

Conforme a trama avança, Lawrence adota atitudes questionáveis, aproximando o longa de um thriller de espionagem. Mesmo afirmando não ter ambição pelo cargo, ele manipula e investiga, justificando suas ações sob o pretexto de garantir a integridade do conclave.

Controvérsias

Essa abordagem crítica à dinâmica de poder na Igreja levou “Conclave” a ser alvo de rechaço por setores religiosos. A Liga Católica pelos Direitos Religiosos e Civis nos EUA o classificou como “peça de propaganda anticatólica”.

O bispo Robert Barron, da diocese de Winona-Rochester, acusou o filme de reforçar uma dicotomia simplista entre conservadores fanáticos e liberais conspiradores.

Porém, o que realmente tem gerado discussão é o desfecho do filme. O climax ganha contornos de ação e envolve uma surpresa em torno do cardeal escolhido para ser Papa, contradizendo totalmente a doutrina da Igreja Católica Romana.

Essa surpresa é de fato extenuante, e gera muitas conversas após a sessão. Contudo, também deixa uma certa sensação de exagero, destoante do restante do filme.

No entanto, "Conclave" não busca a sobriedade que aparenta. E talvez aí resida sua maior virtude: revelar que, por trás das vestes eclesiásticas, o poder segue sendo um jogo de estratégias, guiado por ambições incertas e, por vezes, insondáveis. "Representamos um ideal, mas ainda somos homens comuns", admite um dos personagens.

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