Por Ubiratan Brasil, da Agência Estado
Antonio Fagundes liga pontualmente na hora marcada para conversar com a reportagem. Nenhum estranhamento, pois o ator se tornou conhecido pela rigidez com que controla o horário de seus compromissos, especialmente o do início de seus espetáculos. "O filósofo Roland Barthes já dizia que 'Fazer esperar é prerrogativa do Poder', o que não é o meu caso", diverte-se ele que, no entanto, se prepara para exibir personagens marcados justamente pela governança.
Em setembro, a partir do dia 7, Fagundes poderá ser visto na minissérie Independências, que terá 16 episódios e vai ser exibida pela TV Cultura. Já em novembro e dezembro, o ator vai gravar em Alagoas o longa Deus É Brasileiro 2, sequência do filme dirigido por Cacá Diegues em 2003 — Fagundes viverá novamente o Todo Poderoso.
"São papéis que dialogam muito com nosso tempo presente", comenta Fagundes. "D. João, por exemplo, era uma figura trágica, obrigada a tomar decisões para as quais não estava preparado, enquanto o mundo explodia à sua volta", observa ele, elogiando a condução do projeto por Luiz Fernando Carvalho, que recebeu carta-branca para criar uma reflexão sobre um momento histórico, a Independência do Brasil, marcado por uma sucessão de eventos trágicos. "É um diretor que valoriza a palavra e o trabalho dos atores, isso reforça a dramaticidade."
A minissérie, aliás, vai trazer um roteiro com informações atuais — como o do envenenamento de D. João VI, que só foi confirmado no início dos anos 2000, após a exumação de seu cadáver. É um fato que altera a história oficial e que vai impactar diretamente na 'nova dramaturgia histórica' proposta pela série.
Já Deus É Brasileiro 2 terá o alívio da comédia para retomar a história originalmente criada pelo escritor João Ubaldo Ribeiro ("O Santo que Não Acreditava em Deus"), em que o Todo Poderoso, cansado de tantos erros cometidos pela humanidade, decide tirar férias e busca no Brasil — afinal, uma nação tão religiosa — um substituto para esse período.
Fagundes retoma o papel do altíssimo, mas observa que a tarefa divina agora é mais árdua que a de 2003, quando o primeiro longa foi rodado. "Hoje, é mais difícil ser Deus e ainda brasileiro: é muito trabalhoso", brinca.