“Eu vou continuar a compor e cantar, mas prefiro estar morto do que cantando Satisfaction quando estiver com 45 anos”, o comentário é de Mick Jagger (que completa 77 anos em julho). O comentário foi feito à revista People, coincidentemente, há 45 anos. “Espero estar morto antes de ficar velho”, versos de My Generation, do The Who, música de 1965. O autor, Peter Townshend completa 75 anos em maio. “Não confie em ninguém com mais 30 anos”, versos iniciais de Com Mais de 30, parceria de Marcos e Paulo Sérgio Valle, de 1971. Marcos Valle chega aos 77 anos em 2020. “Time waits for no one” (O tempo não espera por ninguém”), a canção homônima que os Rolling Stones gravaram em 1974, ressaltava que o tempo era implacável. Neste ano de 2020, ele se prova ainda mais implacável. Ídolos do rock dos anos 60 chegam à idade emblemática de 80 anos.
Músicos de jazz com oito décadas de vida há dezenas deles, sem que resultem em comentários sobre a provecta idade. Wayne Shorter tem 81 anos, Quincy Jones, 82, Sony Rollins, 90 anos e Jimy Cobb, 91. Enquanto o jazz quase sempre foi considerado música para faixa etária definida, o rock and roll é tido ainda hoje como gênero para jovens, embora, contando-se do sucesso, em 1955, de Rock Around the Clock, de Bill Halley and His Comets. Ou seja, o rock and roll já um macróbio de 65 anos. Wanderléa, a “Maninha “ da Jovem Guarda, em junho, completa 74 anos. Há 56 anos seu grande sucesso foi: “Nós somos jovens/jovens, jovens/somos o exército/exército do surf” ((Iller Pattacini/Mogol/versão de Neusa de Souza). Já os “maninhos” Roberto e Erasmo Carlos estão a um ano da emblemática idade. RC faz 79 anos abril de 2021, o Tremendão em junho. Nilton César um dos ídolo do ié-ié-ié, de Professor Apaixonado, alcançou a data redonda de 80 anos em 2019.
PODER JOVEM
O jovem foi inventado nos anos 60. Até a revolução dos costumes daquela data, quando surgiu a expressão “generation gap”, que colocava o jovem e o coroa em posições opostas. O mercado logo investiu no jovem, um novo consumidor, que não mais se vestia igual aos pais, nem escutava a mesma música (até hoje há quem chame rock androll de “música jovem). Considerava-se a geração acima dos 30 como obsoleta (a frase Não confie em ninguém com mais de 30 anos, veio dos grafites nos muros de Paris na quase revolução estudantil de 1968). A juventude passava a impressão de que seria para sempre. O Mundo era dos jovens. Millor Fernandes, um idoso de 45 anos, quando o “poder jovem” ameaçava fomentava rebeliões ao redor do globo, foi um críticos mais ácidos à bajulação mercadológica em relação à juventude: “Qualquer idiota consegue ser jovem. É preciso muito talento pra envelhecer”
Nada nem ninguém simbolizava mais o poder jovem do que os Beatles. Dos cabelos longos, à identidade visual, à música, nada no quarteto de Liverpool poderia estar mais distante dos padrões estabelecidos pelos coroas. Tornaram-se símbolos e catalisadores da juventude do planeta. Por volta de 1967, juventude passou a não designar mais um limite de faixa etária, mas uma filosofia de vida. O nós contra ele suscitou movimentos de rebeldia, mudanças comportamentais. Jovem, uma marca comercial. O Dodge Dart amarelo, vistoso, nas páginas da revista Manchete em 1968. O mínimo de texto: 1800 SE - A Força Jovem. “Jovem” era uma palavra chave para a sociedade de consumo, a partir de meados dos anos 60,.
Neste ano de 2020, quem diria, o mais velho dos Beatles, Ringo Starr, no dia 7 de julho, celebra os emblemáticos 80 anos, idade a que John Lennon chegaria em 9 de outubro. O baixista original do grupo, Stu Sutcliffe (que morreu com 21 anos), entraria nos 80, em 23 de junho. Com eles, outros contemporâneos tornam-se octogenários até o final do ano. O anárquico, transgressor, Frank Zappa (falecido em 1993, aos 53), faria 80 anos em 21 de dezembro. Intérprete preferida de Burt Bacharach (que já alcançou 92 anos), a cantora Dionne Warwick cruza o limite das oito décadas em 12 de dezembro, enquanto Nancy Sinatra do superhit proto-feminista These Boots Are Making For Walking, une-se ao clube dos oitenta em 8 de junho. Frankie Avalon. ídolo adolescente na era pré-Beatles está preste a ser mais um oitentão.
VIGOR
Mas ressaltar a chegada aos 80 anos dos jovens roqueiros que contribuíram para mudar o comportamento da sociedade nos anos 60 talvez seja avalizar a ideia de que rock and roll é música para jovens. Jerry Lee Lewis, um dos pais do rock está completando 85 anos (mesma idade que teria o Rei do Rock, Elvis Presley). Lewis continua gravando e fazendo turnês. Outro pai do gênero, Little Richard emplacou 88 anos, apresenta-se em público raramente. Mas não tanto pela idade. Em 1985, voltando de uma gravação da série Miami Vice, na Califórnia, bateu o carro num poste. Teve uma perna quebrada, costelas fraturadas, sofreu uma forte pancada na cabeça, e no rosto. O acidente lhe deixou sequelas, que se intensificaram com os anos. Little Richard, que se tornou Testemunha de Jeová, se locomove em cadeira de rodas.
Primeiro cantor de sucesso nacional do rock brasileiro, Carlos Gonzaga (mineiro de Paraisópolis), chegou a participar da Jovem Guarda. Gonzaga está com 94 anos, e fora dos palcos. Seus sucessos foram, em maioria, versões, Oh Carol, Diana, Cavaleiros do Céu (Ghost Riders in the Sky), Só Você (Only You).
Ano que vem Roberto Carlos no bloco do show em que abre um espaço para relembrar a Jovem Guarda, bem que poderia voltar a cantar a obscura Os Velhinhos (José Messias) que lançou no LP Canta Para a Juventude, há 55 anos: “Quando a velhice chegar/ eu não sei se terei tanto amor pra te dar/hoje venha amor/ amor vem amar/os meus lábios te esperam/te querendo beijar/amanhã estaremos velhinhos/ e contaremos juntinhos/ os segredos do amor/ para os nossos netinhos”.