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Manuela Dias sobre Amor de Mãe: 'Para mim, o Brasil é a Lurdes'

Na véspera do Dia Internacional da Mulher, autora reflete sobre o seu trabalho na novela das 21h da Globo

Robson Gomes
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Robson Gomes
Publicado em 07/03/2021 às 8:29
JORGE BISPO/TV GLOBO
Manuela Dias é a autora da novela 'Amor de Mãe', da TV Globo - FOTO: JORGE BISPO/TV GLOBO
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O ofício de escrever sua primeira novela solo, e logo no horário das nove da TV Globo, tem sido um desafio e tanto para Manuela Dias. A baiana de 43 anos, autora de Amor de Mãe, viu seu folhetim voltar ao ar nesta semana em formato compacto após ser interrompida em março de 2020 devido à pandemia do coronavírus. A partir do próximo dia 15, o público assiste aos 23 capítulos inéditos que encerram a trama e verá um enredo modificado, onde a covid-19 passou a fazer parte da história.

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Na entrevista coletiva remota para falar sobre a volta da novela — de qual o Jornal do Commercio participou —, Manuela contou como foi os bastidores desse processo: "Quando fomos 'tomando pé' da situação [da pandemia], claro que eu não parei de trabalhar, porque com roteiro é necessário correr. A princípio, em alguns dias, não quis colocar a covid na trama, porque quando paramos 'só ia durar 15 dias'. E logo ficou claro que não tinha como. A experiência seria muito mais longa e intensa, daí comecei a pensar como cada um desses personagens ia reagir a essa realidade a que todos nós fomos submetidos".

Manuela tem a exata noção do quanto trabalhou demais para este retorno. Segundo ela, Amor de Mãe foi praticamente escrita num formato de série. "Eu escrevi a novela em cinco temporadas. Um prólogo, um epílogo e três atos", descreveu ela, que trabalhou 12 horas por dia, sete dias por semana, mesmo na pandemia.

"Normalmente, uma novela tem umas 4.500 páginas. Isso são três Bíblias, é bastante. Em Amor de Mãe, eu ainda produzi mais 800 páginas que não usei. A gente estava adaptando tudo, incluindo o número de capítulos", enumerou a baiana em entrevista ao portal G1.

Após a criação do protocolo de segurança definido para a retomada das gravações, o elenco voltou aos estúdios em setembro do ano passado para concluir o folhetim.

"Com a definição dos protocolos, comecei a entender junto com o Zé [Villamarim, diretor artístico da novela] e o Ricardo [Waddington, diretor de Entretenimento da Globo] o que eu ia precisar fazer. Porque, assim como existiam as ilhas de convívio na vida real, eu também não poderia misturar alguns personagens. Na verdade, eu vi como eu poderia ajudar o protocolo, facilitar uma situação de guerra. Porque, obviamente, eu e o Zé queríamos muito voltar com a novela. Afinal, uma história sem fim é uma história que não existe nunca", confessou.

FORÇA

Intempéries à parte, Manuela Dias tem ciência do seu papel enquanto mulher e autora de uma novela naturalista, realista e de caráter documental como é Amor de Mãe. Mesmo assim, ela garante que, ao contrário do que pregam as redes sociais a respeito dela, sua trama não está no ar para "quebrar tabus".

"Eu conheço o meme do 'quebradora de tabus' (risos). Mas essa nunca é a minha intenção, na verdade. A minha busca é de conexão. Eu nunca escrevo da minha cabeça, sempre escrevo do meu coração. E nunca estou tentando explicar nada, provar nada para ninguém, nem tento quebrar tabu nenhum. Eu estou sempre tentando emocionar, basicamente. Acredito muito no poder do coração. Acho que o coração é muitas vezes mais forte do que a cabeça", definiu ela ao JC.

E caso a autora esteja fazendo a diferença com sua novela, talvez seja a partir do momento em que ela humaniza, dá profundidade e real importância à sua principal protagonista: Dona Lurdes, vivida por Regina Casé.

"Acho que ter uma protagonista que é uma mãe solteira, trabalhadora — porque, para mim, o Brasil é a Lurdes; o Brasil é uma mãe solteira que cria os seus filhos sozinha —, e não uma mocinha que quer casar — sem nenhum demérito a todas as histórias de mocinhas com que a gente já se divertiu e se diverte vendo —, mas dar importância a essa mulher, a ponto dela ser a nossa protagonista, e não ser a pessoa que está passando no fundo levando a criança, isso é importante", detalha a baiana.

"Temos que respeitar mais a complexidade e profundidade dos outros, e não só a nossa", refletiu Manuela.

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