Pesquisa Datafolha realizada entre os dias 18 e 20 de março indica que a maioria dos trabalhadores brasileiros temem que sua renda diminua por causa dos impactos econômicos causados pela propagação do novo coronavírus. Segundo a pesquisa, 79% dos entrevistados preveem que a economia brasileira será muito afetada pelo vírus, enquanto apenas 16% acham que ela será pouco afetada, e somente 3% dizem que ela não será prejudicada.
Entre eleitores do presidente da República, Jair Bolsonaro, o pessimismo é menor, mas segue como a opinião da maior parte dos entrevistados: 72% daqueles que disseram ter votado em Bolsonaro afirmam que a economia será muito afetada pelo coronavírus.
Os eleitores de Bolsonaro também consideram que a atuação do Ministério da Saúde diante da crise do coronavírus é melhor que a do presidente da República. Entre os que disseram ter votado em Bolsonaro, a aprovação do mandatário quanto ao andamento da crise é de 56%, 8 pontos porcentuais abaixo da aprovação do Ministério, de 64%.
Mesmo abaixo do Ministério, a aprovação de Bolsonaro entre seus eleitores ainda é bem maior que a avaliação positiva feita pela população em geral, de 35%.
O Datafolha ouviu 1.558 pessoas entre quarta, 18, e sexta, 20. Feita por telefone para evitar contato com o público, a pesquisa tem margem de erro de três pontos para mais ou para menos.
Para evitar um colapso na renda das famílias, grande parte dos países tem preferido adotar iniciativas de transferência direta de renda para socorrer trabalhadores, desempregados e cidadãos mais pobres, num momento de crise. Ao menos 30 países criaram novos programas de transferência de renda ou fortaleceram os já existentes para tentar evitar uma tragédia social. Onze países implementaram subsídios temporários nos salários dos trabalhadores e estão bancando até 80% das remunerações para conter dispensas. Também há medidas para complementar a renda de informais e reduzir o horário de trabalho - até por causa das recomendações sanitárias de isolamento.
Dez países estão investindo em licenças remuneradas para incentivar quem foi infectado a ficar em casa, isolado, evitando a ampliação do contágio.
Outras iniciativas incluem redução temporária das contribuições sociais de empregadores e trabalhadores, repasses para famílias com crianças e ampliação dos benefícios para desempregados. As medidas variam em alcance e magnitude conforme o poder de fogo do país. Além disso, o custo de vida pode ser mais elevado em países desenvolvidos, refletindo no valor do benefício.
Ao todo, 13 novos programas de transferência de renda foram lançados em meio à crise da covid-19, em países como Irã (US$ 400, cerca de R$ 2 mil, em quatro parcelas a três milhões de famílias).
Em Cingapura, os trabalhadores receberão um repasse único de até US$ 300 (R$ 1,5 mil), a depender de sua renda. Na Itália, que se tornou o epicentro da doença, trabalhadores com renda anual menor que ¤ 40 mil (R$ 218 mil ao ano) estão elegíveis a receber um benefício de ¤ 100 (cerca de R$ 545), no mês de março. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
O efeito devastador da pandemia do novo coronavírus sobre a economia mundial já levou pelo menos 45 países a agir para tentar conter o impacto sobre emprego e renda da população. O risco é que o estado de paralisia na atividade econômica, diante da necessidade de isolamento social como prevenção ao alastramento da infecção, resulte em demissões em massa e queda drástica na renda da população que já não tem quase nada para sobreviver.
O cardápio de medidas é variado e inclui transferências diretas de renda, subsídios temporários nos salários, licenças remuneradas para quem for contaminado, entre outras iniciativas voltadas para as empresas. Muitos países atuam em mais de uma frente, com uma combinação de diferentes políticas para amortecer o impacto da crise, que pode atingir os níveis observados na crise financeira de 2008 e 2009.
Os países têm calibrado o alcance das ações de acordo com seu poder de fogo: enquanto uns enfrentam a crise com situação mais confortável em suas contas, outros foram atingidos em meio a um processo de ajuste e precisam acomodar as medidas num orçamento já deficitário, como é o caso do Brasil.
O diretor global de Macroeconomia do Banco Mundial, Marcello Estevão, coordena parte importante do monitoramento que o organismo internacional tem feito sobre as iniciativas ao redor do mundo. Segundo ele, muitos países, principalmente os emergentes, enfrentam restrições fiscais ao mesmo tempo que há uma necessidade urgente de expansão dos gastos para debelar os efeitos da crise. Muitos perderam receitas com a queda nos preços do petróleo, outros têm o gasto engessado ou estão em processo de ajuste.
No entanto, a ampliação da proteção social e a adoção de medidas para incentivar empresas a reterem os trabalhadores num momento de baixa nas receitas são consideradas importantes não só para dar um alívio financeiro às companhias e às famílias, mas também para encorajar o isolamento sem que as pessoas temam ficar desempregadas ou sem dinheiro.
Para o diretor, a natureza da crise dificulta o sucesso de medidas tradicionais de política fiscal, e uma das razões é justamente a necessidade de isolamento. A prioridade agora deve estar em pacotes abrangentes com recursos para saúde e instrumentos para amenizar impactos no emprego e na renda das famílias.
A eficiência dessas iniciativas, segundo Estevão, pressupõe três características: foco na população mais necessitada e desassistida, velocidade de alcance de medidas e controle de correta aplicação. Nesse sentido, as medidas de transferência de renda e subsídios aos salários surtem efeito mais rápido do que uma elevação do investimento público.
Para Otaviano Canuto, que já foi vice-presidente do Banco Mundial e diretor executivo do FMI, o papel da política fiscal agora é mitigar o impacto socioeconômico. "Talvez a ideia do dinheiro de 'helicóptero', jogando dinheiro na conta."