Crise com a China abre oportunidades para o Brasil, diz embaixador americano

O interesse, diz Todd Chapman, é alargar a parceria bilateral com o Brasil. "As empresas querem diversificar no mundo e o Brasil pode competir para isso"
Leonardo Spinelli
Publicado em 13/05/2020 às 21:55
O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, visita Pernambuco e demais estados do Nordeste. Foto: DIVULGAÇÃO


O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, disse que a crise do coronavírus, desencadeada pela China, abre uma grande oportunidade para o Brasil atrair mais empresas americanas que vão começar a sair do país asiático. A declaração foi dada nesta quarta-feira (13) em entrevista coletiva, por videoconferência, a jornalistas da região Nordeste.

“Estamos tendo diferenças com a China”, lembrou o embaixador. “Temos preocupações em relação à maneira que eles não transmitiram, com transparência e no tempo adequado, as informações (sobre o surto) para que o mundo pudesse reagir. Lamentavelmente, por falta de transparência, o mundo paga a conta”, criticou.

" Temos preocupações em relação à maneira que eles (China) não transmitiram, com transparência e no tempo adequado, as informações (sobre o surto) para que o mundo pudesse reagir. Lamentavelmente, por falta de transparência, o mundo paga a conta " - Todd Chapman, embaixador dos EUA no Brasil

Por isso, completa o diplomata, muitas empresas americanas, “e do mundo todo”, passaram a ver que é um problema ter tanta dependência de suas fábricas naquele país. “A China foi clara na sua resposta agressiva sobre a situação. Muitos antibióticos são produzidos lá e a imprensa oficial, comunista, falou que vão deixar os EUA se afogar no mar do coronavírus. Muito agressivo isso.”

Com essa mensagem hostil, diz Todd Chapman, as empresas começam a pensar em diversificar a produção e sair da China. “Vamos começar a ver isso e acho que o Brasil tem uma oportunidade, como aliado nosso, e que não vai tratar os EUA dessa maneira agressiva.” Segundo o embaixador americano, 400 das 500 maiores empresas dos EUA estão no Brasil. “Temos uma larga história e vamos crescer em cima dessa base”, acredita. O interesse, diz, é alargar a parceria bilateral com o Brasil. “As empresas querem diversificar no mundo e o Brasil pode competir para isso.”

Nesta quinta (14) o secretário de comércio dos EUA terá reunião com o Ministério da Economia. “A cada semana estamos trabalhando para expandir os mercados e, com investimento privado, teremos mais oportunidade comerciais. Vamos ver o crescimento na relação bilateral comercial entre os EUA e o Brasil”, disse.

No ano passado, os Estados Unidos foram o segundo principal parceiro comercial do Brasil, perdendo justamente para a China. O Brasil exportou US$ 29,7 bilhões para os americanos (13,2% de participação nas exportações), e importou US$ 30 bilhões (17% de participação), num saldo negativo de US$ 374,3 milhões na balança comercial para o Brasil.

 

THOMAS SAMSON / AFP - Amazon

Os principais produtos exportados pelos brasileiros são da indústria de transformação, principalmente formas primárias de ferro ou aço, aeronaves óleos combustíveis, entre outros. Da indústria extrativa, o principal produto é óleo bruto de petróleo e na agropecuária, o café não torrado é o principal item. Dos EUA o Brasil importa, principalmente, óleos combustíveis e equipamentos para engenharia, 40% da pauta.
A relação com a China é mais vantajosa para o Brasil, que teve um saldo positivo de US$ 28 bilhões no ano passado. Exportou R$ 63,3 bilhões (28,1% do total) e importou US$ 35,2 (19,9%). A soja é o principal produto de exportação brasileiro (40% da pauta) e plataformas, embarcações e equipamento de telecomunicações são os principais produtos comprados dos chineses.

Por outro lado, os Estados Unidos são um dos países que mais realizam investimento direto no País (IDP), que, segundo o Banco Central (BC), é a categoria de investimento de maior destaque no relacionamento econômico e financeiro do Brasil com o resto do mundo. Segundo os últimos dados disponíveis no Relatório de Investimento Direto 2019 do BC, as empresas americanas, através de seus controladores, investiram US$ 118 bilhões no Brasil em 2018, contra apenas US$ 21 bilhões dos chineses.

AUXÍLIO

Todd Chapman afirmou que o objetivo dos EUA com o Brasil é avançar numa aliança e, na região Nordeste, ajudar a fazer do País um lugar mais “mais próspero e seguro”. “O Nordeste é parte dessa configuração de como queremos avançar no País. As empresas americanas estão fazendo muita coisa na área de energia renovável eólica e solar. Temos muitos investimentos em Sergipe. Temos a Amcham (Câmara de Comércio) ativa e outros grupos de empresas americanas trabalhando de maneira importante.”

Chapman lembrou que seu país continua dando apoio a organismos internacionais como o FMI, BID, bancos de desenvolvimento em que o Brasil participa. “As pessoas esquecem, mas nós somos os maiores financiadores desses projetos.”

Sobre o momento de pandemia, Chapman disse os EUA têm alguns projetos em andamento, como o escritório de saúde pública junto ao Ministério da Saúde “desde 2011”. Na região Nordeste, ele destacou, principalmente, as iniciativas das empresas americanas na mitigação dos efeitos da epidemia na população local.

“As empresas americanas estão fazendo muita coisa. Microsoft, Owens Illinois (O-I), Coca-Cola... A Amazon doou R$ 2 milhões para o sistema de saúde público.” A Coca criou um fundo para combater os efeitos da crise do coronavírus em comunidades de baixa renda. A O-I, líder mundial na fabricação de embalagens de vidro, passou a produzir uma “caixa de intubação”, que isola os pacientes acamados infectados pela covid-19 dos médicos. A companhia monta essas caixas em suas unidades do Recife e Vitória de Santo Antão e distribui a hospitais da rede pública.

 

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