Com o avanço da pandemia do novo coronavírus, os bancos alegam ter aumentado a oferta de crédito, porém o volume ainda não acompanha a demanda. Não falta dinheiro na praça, mas sobram necessidade e burocracia. Conforme os números da Febraban, as contratações de operações de crédito somaram R$ 378 bilhões até o último dia 8 de maio. Desse total, menos de 10% (R$ 31,3 bilhões) chegaram aos micro e pequenos negócios. Para eles, o dinheiro rápido é crucial para a sobrevivência, mas a taxa de sucesso da resposta dos bancos não consegue alcançar nem 15% dos pedidos.
No momento, cerca de 28% dos empreendedores que demandaram crédito continuam à espera de resposta, o que frustra as possibilidades de preservação dos negócios até a volta da normalidade. Sócio da consultoria em gestão empresarial e turismo Aquarius, Caio Braga, 46 anos, abriu em 2006 seu negócio com foco na realização de casamentos no arquipélago de Fernando de Noronha. A empresa conta com mais dois sócios e sempre foi tocada com capital próprio. Agora, na iminência da captação de recursos de terceiros, vive uma frustração. “Procurei o Banco do Nordeste no dia 9 de abril. Começaram as exigências de informações, fiz o cadastro, mas estou há 40 dias sem resposta. Cadastrei todos os dados, tenho tudo certinho. Minha sócia, porém, vive em Noronha e as pessoas não estão podendo sair da ilha. Quando chegou a vez de cadastrar os dados dela, tive de apresentar como documento de identificação a habilitação, que venceu em dezembro. Não aceitaram, e começou o problema”, lamenta.
Por causa do impasse, está suspensa uma obra de R$ 80 mil que daria lugar a um espaço para realização de casamentos. “Nosso foco é basicamente uma agência de casamentos na ilha. Com o isolamento, as celebrações pararam e demos início à obra para ter o nosso próprio local de cerimônias. O atendimento do banco é todo pela internet, mas não tive resposta alguma. Já mandei três e-mails para um gerente, e nada”, reclama Braga.
A taxa de sucesso das operações nos bancos públicos, segundo o Sebrae, é atualmente a mais baixa entre as instituições do sistema financeiro. Embora 63% dos empresários de pequeno porte recorram a esses bancos para acessar o crédito, o percentual de sucesso das operações é de apenas 9%, tendo à frente os bancos privados (12%) e as cooperativas de crédito (31%). “Sou artista plástico e abri uma loja há pouco mais de cinco meses no Sítio Histórico, em Olinda. Fiz a solicitação na Caixa de R$ 12,5 mil. Não é muita coisa. Eles teriam 72 horas para me dar uma resposta quanto aos dados repassados. A minha solicitação foi feita na terça-feira da semana passada e ainda não tive nenhuma resposta. Quero dizer, é muito difícil. Você fica sem saber o que fazer”, conta o microempreendedor individual e artista plástico Henry Melo, 62 anos.
De acordo com a diretora técnica do Sebrae/PE, Adriana Côrte Real, o cumprimento da etapa de cadastro junto ao banco tem sido o principal gargalo para o dinheiro de fato não chegar à ponta. “Exige um envolvimento muito grande do empresário. Muitos deles não têm nem familiaridade, e depois disso ainda entra no processo de esteira dos bancos, com equipe reduzida, agências fechadas e a geração de um gargalo enorme no retorno aos clientes. O tempo de atendimento não está sendo compatível com a realidade”, aponta Adriana.
Em Pernambuco, o Sebrae também dispõe de 20 consultores habilitados para facilitar o preenchimento de formulários e organização de documentos para crédito no Banco do Nordeste. Já na Caixa, para acesso aos recursos com aval do Fampe, há uma trilha de atendimento de crédito orientado.
Desde o início da pandemia, em março de 2020, até o momento, a Caixa diz ter liberado em linhas de crédito para micro e pequenos empresários mais de R$ 5 bilhões. Estão disponíveis para MPEs linhas de capital de giro, aquisição de máquinas e recursos com aval do Fampe.
No Banco do Brasil, micro e pequenas empresas representaram desembolso de R$ 8,49 bilhões entre os dias 16 de março e 8 de maio, principalmente para linhas de antecipação de recebíveis e de capital de giro. Segundo o banco, mais de 120 mil micros e pequenas empresas foram atendidas. No BNDES, foi expandida a oferta de capital de giro para negócios ou grupos econômicos com faturamento anual de até R$ 300 milhões, com limite de financiamento de até R$ 70 milhões por ano. A modalidade BNDES Crédito Pequenas Empresas teve R$ 158,9 (6%) destinados a microempresas e R$ 738,8 (28%) repassados para pequenas empresas. A linha já aprovou, no geral, um total de R$ 2.6 bilhões.
Em Pernambuco, no período de 16 de março a 11 de maio, o Banco do Nordeste aplicou cerca de R$ 863 milhões, do pequeno ao grande negócio, totalizando 42 mil operações.
O Bradesco, assim como os demais, diz estar prorrogando as parcelas dos empréstimos e permitindo contratação de capital de giro com carência de até 90 dias. Para facilitar, o banco garante ter pré-aprovado R$ 1,5 bilhão para 103 mil CNPJs, que ao abrirem suas contas poderão acessar o crédito de imediato por meio dos canais digitais.
O Santander, por sua vez, oferta capital de giro com três meses de carência, usando como garantia vendas futuras na maquininha do cliente.