Assim como acontece com a hotelaria tradicional, os motéis também estão liberados para o funcionamento, e apesar de não dependerem do fluxo de turistas na cidade, vem amargando perdas consideráveis com a queda na movimentação de clientes desde as primeiras medidas restritivas à circulação de pessoas, impostas no final do mês de março. Em Pernambuco, a queda na clientela dos motéis é estimada pelo setor em 85%.
O empresário Carlos Melo está no ramo há 35 anos. Ele administra seis motéis, sendo quatro no Recife, um em Caruaru e outro em Jaboatão dos Guararapes. São estabelecimentos consolidados e de marcas conhecidas, como Eros e Nexos, mesmo assim, lamenta as consequências na baixa procura. “Eu tinha 250 funcionários, tive que demitir 150 e não sei como será até o final deste mês de maio. A queda começou no início da quarentena. Em abril ficou pior e eu acredito que não se recupere nem tão cedo”.
Marcos Queiroz, dono do grupo Fidji Motel, que envolve marcas como Crystal e Goa, diz que é o momento do empresário refletir. “O movimento em nossos motéis caiu cerca de 80% e o perfil do cliente também mudou, com a hospedagem por diárias prevalecendo. Chegamos a baixar o preço de R$ 200 para R$ 90, R$ 80 sem as refeições e, mesmo assim, é muito ruim, muito difícil. Mas a gente tem que se adaptar”, afirmou Queiroz.
O empresário Carlos Melo diz que a evasão de clientes tem a ver com “a cidade parada” porque aquele cliente passageiro, que utilizava o motel por 3 ou 4 horas, simplesmente sumiu. Hoje os motéis funcionam mais como a hotelaria tradicional, até mesmo porque, pela legislação, não há diferenças entre motelaria e hotelaria. O perfil desse novo tipo de cliente, dizem os empresários, muitas vezes é a pessoa solteira que não quer ficar isolado em casa fazendo trabalhos domésticos. Uma diária incluindo café-da-manhã, almoço e jantar fica em torno de R$ 240.
Enquanto o setor de hotéis procura novos protocolos de higienização e segurança sanitária para atrair clientes em tempos de pandemia, os motéis reforçam as medidas que já tomavam. Usam máquinas de ozônio, semelhante a utilizada nos hospitais, para desinfecção de ambientes. Locais como maçanetas, puxadores e telefones são protegidos por uma película descartável e há álcool em gel nas suítes à disposição dos clientes. Alguns motéis até entregam máscaras descartáveis na entrada.
“Treinamos os funcionários para procedimentos de segurança em relação a covid-19 e todos usam equipamentos de proteção individual. Acho que hoje um dos lugares mais seguros para alguém ir é em bom motel. Mesmo assim a frequência é pequena, não dá para cobrir os custos”, lamenta Carlos Melo.
A saída para garantir a sobrevivência das empresas tem sido o corte de custos. O empresário Marcos Queiroz disse que procurou a Celpe para negociar o pagamento das contas, embora o gasto com energia elétrica represente apenas 20% do custo total do empreendimento, e tomou outras providências para viabilizar a operação. “Praticamente não demitimos porque a gente já vinha com o quadro de funcionários reduzido, mas 70% do pessoal está em casa. Aproveitamos o adiamento por três meses do imposto Simples e a suspensão do contrato de trabalho por 60 dias”. Marcos Queiroz só não buscou ajuda das financeiras. Ele chegou a receber a proposta de um banco oferecendo empréstimo a 3,15% para pagar salários, mas a empresa teria que atrelar a folha de pagamento ao banco. Não houve acordo. “Estou negativo no banco e pagando juros de mais de 10% no cheque especial. Porque não transformar essa dívida em empréstimo para pagar 1,5% ao mês? Mas não, toda proposta do banco é para terminar de quebrar o comerciante”, protesta o empresário.
A última Pesquisa de Serviços de Hospedagem (PSH), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Ministério do Turismo, de 2016, aponta que 14,2% dos 31,3 mil estabelecimentos de hospedagem no País são motéis. O estudo mostra Pernambuco como o segundo Estado com maior proporção de motéis (22,9%), atrás do Amapá (26,4%). Segundo a Associação Brasileira de Motéis, ABMotéis, o setor gera 600 mil postos de trabalho no Brasil, diretos e indiretos, movimentando cerca de R$ 4 bilhões anualmente.
O dono de motéis Carlos Melo espera que no próximo mês comece a flexibilização do funcionamento do comércio. “Sem o comércio aberto não temos movimento. Se em junho a gente continuar com 15% de movimento eu devo fechar os motéis e botar o restante dos funcionários no plano do governo (que subsidia o salário de funcionários afastados)”. Já o empresário Marcos Queiroz afirma que apóia o endurecimento do isolamento social e não espera que o comércio volte antes de 15 de junho. “Se a gente fechar será pior porque eu teria que reforçar a vigilância 24 horas, o que também sairia muito caro. É hora de a gente fazer malabarismo”, conclui o empresário.
No sentido contrário dos motéis, os sex shops registram uma procura crescente nesta quarentena. Graças as vendas online. Stephanie Seitz, diretora da INTT, atua no atacado do setor. Ela é fabricante de cosméticos e importadora dos chamados sex toys, brinquedos sexuais. A empresa, com sede em São Paulo, tem cerca de 15 mil clientes em todo o País, e não tem do que reclamar. Sem loja física, as vendas online aumentaram 40% nos últimos dois meses.
“No início da quarentena os pedidos pararam, provavelmente porque o pessoal não sabia o que ia acontecer. Mas depois a nossa venda de brinquedos estourou e nesta última semana cresceu mais ainda. Os comerciantes entenderam que a saída está no e-commerce e também porque o Dias dos Namorados está chegando e é preciso refazer os estoques”. Stephanie afirma que a quarentena pode se tornar uma boa oportunidade de negócios. “Neste isolamento as pessoas estão permitindo se conhecer, por isso tem aumentado muito a venda de vibradores, por exemplo. Quem antes não comprava da gente agora está comprando, é um mercado em ascensão”, afirmou a empresária.
A comerciante Vanessa Pessoa tem um sex shop no bairro da Torre, Zona Norte do Recife e confirma que as vendas online cresceram. No caso dela, cerca de 80%, depois do isolamento social. Apesar de ter começado como e-commerce há 12 anos o foco das vendas era o atendimento presencial mas agora, diz ela, tudo mudou. “Tivemos que focar nas vendas pelo site e na entrega delivery. Muitos clientes também querem comprar pelas redes sociais então é preciso estar atento para responder a esse público”. O perfil do comprador também mudou, segundo Vanessa. Apesar de ter cerca de 300 tipos de produtos na loja, quase 70% das vendas tem sido de acessórios (vibradores e estimuladores). A clientela é, na grande maioria, formada por casais.
A empresária Camilla Vargas tem três lojas de artigos eróticos, duas no Recife e uma em Olinda. Ela tem outra ideia em relação as vendas online. “De fato, depois que as lojas fecharam por conta da pandemia, minhas vendas online cresceram 85% mas, nem de longe compensam o faturamento com as vendas presenciais”, diz a empresária. Camilla optou por um modelo de loja em bairros nobres e galerias, o que representa um custo elevado com aluguel. “Na compra física, na conversa com o vendedor, o cliente é melhor informado e compra a experiência, e não apenas o produto. Tanto isso é verdade que meu tíquete médio de vendas na loja era de R$ 400, R$ 500 por cliente, enquanto no online fica abaixo dos R$ 200. Na loja, o cliente é capaz de comprar um vibrador de R$ 1.000. Na internet isso não acontece”, diz Camilla.