Futuro do sistema financeiro está na tecnologia e na palma da mão dos brasileiros

Banco Central e Facebook anunciaram novas tecnologias para transações, a fim de facilitar a vida dos brasileiros
Marcelo Aprígio
Publicado em 20/06/2020 às 8:00
Facebook anunciou a possibilidade de transferência de recursos entre pessoas físicas e pagamentos a empresas via WhatsApp Foto: MARCELO APRÍGIO/JC


A tecnologia se firma cada vez mais como o futuro do sistema financeiro. É o que apontam especialistas ouvidos pelo JC, após o Facebook anunciar a possibilidade de transferência de recursos entre pessoas físicas e pagamentos a empresas via WhatsApp. Desde o anúncio, o Banco Central afirmou que está de olho no novo recurso do aplicativo de mensagens para evitar concentração de mercado, no entanto, avalia que há potencial para integração da iniciativa ao PIX, programa de transações instantâneas por QR Code que está sendo desenvolvido pela instituição e deve ser lançado em novembro.

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O PIX vai permitir transações 24 horas por dia e com demora de apenas dois segundos em média. Atualmente em uma Transferência Eletrônica Disponível (TED), o dinheiro demora cerca de duas horas para ser transferido, de 6h30 às 16h59. Com o novo sistema, será possível, por exemplo, fazer compras sem a necessidade de cédulas de dinheiro ou cartões de crédito e débito.

Para o diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Storfer, fintechs, open banking, criptomoedas e facilitadores de pagamento criam um novo paradigma no sistema financeiro brasileiro. “Essas modernizações prometem revolucionar bancos e vão facilitar as transações para as pessoas que estão ou não ligadas diretamente a estas instituições”, afirma Storfer, lembrando que, diferente do que muita gente acredita, o Brasil é um país onde as pessoas estão muito ligadas à tecnologia, o que contribui para essa “revolução”.

De acordo com ele, o receio das grandes instituições financeiras com a chegada de empresas de tecnologia pode impulsionar recursos como o PIX. “Os grandes bancos se sentem muito mais ameaçados com a entrada no setor financeiro de grandes empresas de tecnologia, como Google, Facebook e Amazon, do que de fintechs”, afirma Andrew. “Acredito que a chegada do WhatsApp neste setor é um grande empurrão positivo para o PIX”, completa o diretor da Anefac.

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Na avaliação da advogada Gisela Burle, especialista em Tecnologia e Inovação do escritório Da Fonte Advogados, iniciativas como a do WhatsApp poderão representar uma ameaça maior apenas quando o open banking — recurso tecnológico que permitirá ao cliente autorizar acesso de diferentes instituições financeiras à sua conta — for totalmente implementado no Brasil. “Nesse caso, Google e Facebook, por exemplo, não precisariam de autorização do banco para a transferência de dados e recursos, mudando bastante esse cenário para elas”, explica a advogada, afirmando que, com o open banking, clientes poderão escolher os serviços específicos de vários bancos sem ter de contratá-los como um todo, gerando eficiência operacional aliada a redução de custos.

Na mesma linha, a economista Cristiane Quartaroli acredita que as novidades tecnológicas no sistema financeiro tendem a baratear custos para pessoas físicas e empresas, e têm potencial para aumentar a inclusão bancária. Segundo dados do Instituto Locomotiva, hoje o país tem 45 milhões de pessoas sem acesso a serviços financeiros. "Esses novos modelos de pagamentos e transações podem, ao menos, reduzir esse déficit", avalia ela, apontando que o auxílio emergencial do governo federal escancarou a realidade de muitos brasileiros que estão desbancarizados. “É preciso investir em tecnologia”, sentencia a economista.

Com a chegada dessas novidades, a advogada especialista em Proteção de Dados e Novas Tecnologias, Isabelle Rufino, observa que será necessário implementar mudanças nos protocolos de privacidade e segurança dos dados. “A exemplo do Facebook, parte dos novos recursos prevê o repasse de dados do usuário a terceiros fora da plataforma. Não há ilegalidade, mas é preciso haja garantia de segurança nisso”, pontua Rufino, ressaltando que se a Lei Geral de Proteção de Dados estivesse em vigor seria mais fácil prever novos protocolos diante da modernização do sistema financeiro.

 

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