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Empresas pernambucanas levam segurança digital para o mundo

Com a pandemia da covid-19, demanda por cibersegurança tem aumentado e agregado ainda mais valor a soluções que extrapolam as fronteiras do Brasil

Lucas Moraes
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Lucas Moraes
Publicado em 12/07/2020 às 6:00
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Estima-se que as empresas brasileiras percam US$ 10 bilhões por ano em crimes virtuais - FOTO: Foto: AFP/Arquivos

Em praticamente todo o planeta, a pandemia da covid-19 acelerou uma série de processos comportamentais. No Brasil, a necessidade do isolamento social impôs ritmo ao uso da tecnologia de forma ainda mais corriqueira no dia a dia. Fazer compras e pagamentos online, receber ou transmitir informações que precisam de confidencialidade são atividades que majoritariamente estão sendo feitas de dentro de casa, ao toque da tela de um smartphone. Mas por trás da comodidade, há riscos incontáveis. Se deixar de ir à rua pode te livrar de um assalto, fazer uso de uma plataforma de pagamentos insegura pode lhe custar rapidamente todo o saldo da conta bancária. No País, estima-se que as empresas perdem até US$ 10 bilhões por ano em crimes virtuais. O aumento do tráfego de informações online atrai ainda mais fraudadores, e são empresas pernambucanas que estão escalonando internacionalmente soluções em segurança digital para aplicação em todo o mundo.

Aos 54 anos, Marcelo Fernandes precisou fazer a compra online do presente de aniversário da sua filha. No mês passado, de casa, fez uma rápida pesquisa na internet, encontrou o produto que precisava por uma preço mais barato e não pensou duas vezes. “Parecia uma site seguro. Tinha tudo que os outros têm, assim, normal. Não me pareceu nada estranho. Mas poucas horas depois de ter feito a compra, não recebi nenhuma comprovação quanto ao pagamento ou prazo de entrega. Meu susto foi quando recebi mensagens do banco sobre tentativas de compra em outro estado que eu nunca nem estive. Só pude bloquear o cartão”, lamenta.

O caso não é isolado. Pelas contas do Aite Group, que trabalha com pesquisas independentes focadas no mercado financeiro, a projeção de 8% para fraudes bancárias previstas para este ano se inverteu para um expectativa de alta em torno dos 10%. E o problema não se concentra só nos bancos. Das compras online (e-commerce), o Nordeste concentra o segundo maior percentual de fraud share do País. São 18% de 175 milhões de pedidos analisados pelo Censo da Fraude 2020 da konduto. Pernambuco responde por 2,74%.

As instituições financeiras haviam previsto uma redução de 8% nas fraudes em 2020, mas projetam agora um aumento de 10% a 15% nas fraudes este ano

Fonte: Aite Group

Embora não se trata de um problema local, o País é um grande reduto de fraudadores. Algumas empresas brasileiras chegam a levar vantagem em relação ao desenvolvimento de soluções anti-fraudes no mundo pelo alto grau de tecnologia utilizado pelo sistema bancário no Brasil. Quanto mais sofisticado, mais ardilosas também são as tentativas de fraudes e, para evitá-las, entra em jogo o desenvolvimento de soluções que precisam estar à frente de tudo isso.

“O mercado brasileiro é muito evoluído, tratando-se da tecnologia agregada ao mercado financeiro. Como é avançado, a fraude por internet no mercado financeiro praticamente nasceu aqui. O que acontece no Brasil hoje, daqui a seis meses ou um ano vai acontecer lá fora”, diz um dos sócios-fundadores da Tempest, empresa pernambucana especializada em segurança digital, Evandro Hora.
No mercado desde 2000, a Tempest é hoje a maior empresa do segmento no País. Mantendo o ritmo médio de crescimento anualmente, a pandemia não é o que tem ditado a evolução dos negócios, mas não deixou de ter elevado a demanda.

Mapa das fraudes

Ao analisar 175 milhões de pedidos em comércios eletrônicos e pagamentos digitais no Brasil e dividir o total de tentativas de fraude nos Estados pelo total do País:

O Nordeste tem um Fraud Share de 18,74%
Sudeste = 55,3%
Sul = 14%
Centro-Oeste = 8%
Norte = 3,9%

Dentro do Nordeste a Fraud Share se divide em:
Bahia = 6,5%
Ceará = 3,6%
Pernambuco = 2,7%
Maranhão = 2,6%
Rio Grande do Norte = 0,9%
Alagoas = 0,7%
Paraíba = 0,6%
Sergipe e Piauí = 0,4%

Fonte: Konduto

 

“Nesse ambiente de pandemia, qualquer coisa que acontece as pessoas tendem a associar diretamente com a pandemia. Mas acredito que nem tudo é uma ligação direta. Os resultados do primeiro semestre deste ano foram até melhores do que o semestre do ano passado, quando não havia esse problema. Houve um incremento nas empresas que se utilizam de serviços para servir ao público e que já eram nosso clientes, como bancos, varejo, bolsa de valores, comércio eletrônico e mais alguns que apareceram por precisar ter a segurança reforçada. Agora, em função de todo o comércio ter mudado para a web, os riscos e a fraude também migraram, e de uma forma mais forte por conta da pandemia”, avalia.

Levando em conta o total de fraudes pelo total de compras, o Nordeste passa a ter um fraud share de 4,8%. Percentual maior do que todas as regiões, exceto pelo Norte (4,9%)

Maranhão = 9,8%
Ceará = 6,5%
Bahia = 5,1%
Piauí = 4,4%
Rio Grande do Norte = 4,1%
Alagoas = 3,7%
Pernambuco =3,2%
Paraíba = 2,7%
Sergipe = 2,6%

Fonte: Konduto

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Evandro Hora, sócio-fundador da Tempest, em primeiro plano - Divulgação

"Maior transação da América Latina"

Coincidentemente, a Tempest fechou há alguns dias um contrato de investimento direto da Embraer. Os serviços de segurança utilizados por bancos, comércios e clientes atendidos pelo escritório em Londres, como as empresas de comunicação The Guardian e BBC, agora também serão pensados para a área de Defesa em novos países.

“Nunca na América Latina, na área de segurança da informação, houve transação desse tamanho, o que mostra o amadurecimento do setor”, afirma Hora, sem definir valores. “No ideário da Tempest não é possível a internet chegar em todos os lugares mas a segurança só (chegar) em alguns. A intenção é ter uma presença mais global possível. Com certeza ampliando para Defesa. A Embraer é um parceiro muito próximo, e é esse mercado que a gente pretende atingir tanto no Brasil quanto fora”. No planejamento da Tempest estão dobrar o tamanho da empresa (hoje com 315 pessoas), gerando novos empregos inclusive em Pernambuco nos próximos cinco anos, e uma expansão física para a Europa continental.

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CEO da In Loco, André Ferraz, de braços cruzados em primeiro plano - Divulgação

 

Autenticação invisível

A demanda por segurança digital é tamanha em todo o mundo que outra pernambucana tem encontrado uma vasto mercado nos Estados Unidos. A In Loco redirecionou seu foco das soluções de marketing por geolocalização para o pacote de soluções antifraude Incognia. Lançada há menos de um ano, a solução ganhou ainda mais fôlego durante a pandemia da covid-19 e já se iguala à base de clientes das soluções em marketing ( 30 milhões de clientes) alcançando até 90% dos investimentos da empresa.

“A gente já vem trabalhando em segurança há bem mais tempo do que parece. Na época da fundação da empresa, há pouco mais de 10 anos, tínhamos o objetivo de criar a plataforma da computação ubíqua. São duas grandes funcionalidades: usar a inteligência de dados para prover ao usuário experiência personalizada e capacidade de autenticar esse usuário nas aplicações de maneira invisível, sem senhas, biometria, códigos ou coisa do tipo. Só ser ele mesmo, se comportando da maneira comum e se autenticar de maneira invisível. De fato entendíamos que para poder entrar com força (na segurança) precisávamos de uma rede muito grande de apps e usuários, o que foi construído”, explica o CEO André Ferraz.

São consideráveis aumento de: 

Golpes de engenharia social

Fraude na abertura de conta

Fraude interna

Roubo de conta

Cartão não presente (CNP)

SIM swap ou troca de chip

Fraude no auxílio
emergencial da COVID-19

Roubo de identidade

Fonte: Incognia

A nova marca se alinha a outras funcionalidades como verificação de identidade de forma ampla, prevenção de fraude, contas falsas e parte de prevenção a roubo de contas. No Brasil, o serviço é oferecido pela In Loco de forma paralela aos produtos de marketing por geolocalização, mas nos EUA a bola da vez é apenas a Incognia.

“Clientes que a gente já vinha em longas negociações, durante a pandemia fecharam muito mais rápido (contrato). A fraude se tornou uma prioridade muito maior para eles. Isso foi bastante positivo e a gente tem recebido muita demanda. Anteriormente entrávamos com o produto de marketing e vendíamos o de segurança depois. Agora isso se inverteu”, comenta Ferraz.

De 25 pessoas que trabalhavam com os produtos de segurança, agora já são 100. A aceleração das vendas estimulou a volta da abertura de vagas, atualmente estão disponíveis oito oportunidades na empresa. Para manter a base de clientes, a solução em marketing ganhou uma versão gratuita. O desenvolvimento de tecnologia nesse sentido poderá integrar o Luiza Labs, da Magazine Luiza, que chegará em breve ao Recife para atuação conjunta com a empresa, que mantém 135 colaboradores.

 

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A geolocalização é uma das ferramentas mais poderosas para o marketing político. E pode ser utilizada, por exemplo, para fazer uma pesquisa, pegando de forma bem segmentada e distribuída a opinião das pessoas", resume o CEO da In Loco, André Ferraz - FOTO:DIVULGAÇÃO
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Evandro Hora, sócio-fundador da Tempest, em primeiro plano - FOTO:Divulgação

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