Um levantamento feito em maio pelos donos de postos de combustíveis da Bahia apontou drástico número de demissões no setor devido à pandemia de covid-19: quase 7 mil pessoas tiveram baixa na carteira de trabalho, segundo dados do Sindicombustíveis, entidade que representa os proprietários.
Com a recomendação de isolamento social para contenção do coronavírus, menos carros estão nas ruas, o que terminou impactando nas venda de gasolina, gás, diesel e mesmo de produtos das lojas de conveniência.
Conforme dados obtidos pelo CORREIO junto ao sindicato, já em março — mês de início das medidas de restrição no estado — houve queda de 25% no comércio de combustíveis em relação ao mesmo mês do ano passado. Em abril, o baque foi ainda maior, com redução de 50%.
A melhora veio em maio por causa do início da safra da soja no Oeste da Bahia, mas ainda com uma queda de 30%. Os dados de junho também indicam melhora no comparativo com abril, mas os números ainda não foram consolidados.
Presidente do Sindicombustíveis, Walter Tannus diz que a falta de perspectiva sobre o fim da pandemia fez muitos donos de postos optarem pela demissão de funcionários, mesmo com a recomendação do sindicato para segurar os empregos, tendo em vista o programa federal que permitiu reduções salariais e suspensão temporária de contratos.
“O nosso segmento se viu no fundo do poço em abril, foi uma queda muito acentuada. Tivemos uma pequena melhora em maio, mas nada que nos traga alento próximo ao que vendíamos nos anos anteriores. Sentimos falta de uma definição do que vai acontecer, do que abre, o que não abre”, diz o empresário.
Ainda segundo Tannus, junho é um mês historicamente bom para os postos do interior do estado por causa do São João. No entanto, com o cancelamento dos festejos, não houve o deslocamento tradicional. Ainda assim, os postos localizados em estradas conseguem se manter melhores do que os situados nas cidades.
Em Salvador, os postos de bairros ricos como Pituba, Graça e Barra tiveram maior retração nas bombas de abastecimento, já que muita gente conseguiu o direito de trabalhar em casa, dispensando a ida às empresas.
Sem movimento nos postos, as demissões no setor atingiram principalmente aqueles que trabalhavam nas lojas de conveniência, fechadas por decreto assim como restaurantes e lanchonetes. Também houve corte de frentistas, mas em menor número. As demissões foram em todas as regiões do estado, mas com indicação maior no Sul e Extremo Sul.
“Essa perda de trabalho assalariado é horrível para um estado como a Bahia, que já é marcada por desemprego e informalidade alta. Não temos nenhuma perspectiva. Falta consistência dos governos para um plano de enfrentamento da doença e de retomada do crescimento. Sabemos, por exemplo, que a Austrália é um caso positivo. Deviam tentar entender a Austrália, o que deu certo, sinto que as autoridades não estão mais se debruçando sobre os locais que tiveram sucesso”, opina Walter Tannus.
Proprietário de 28 postos de combustíveis distribuídos entre a Bahia, Pernambuco e Minas Gerais, Fábio Sobral conta que fechou todas as lojas de conveniência, que não conseguiram migrar para o delivery. Segundo ele, os seus 11 postos localizados em área urbana chegaram a ter perda de até 75% nas vendas e os de estrada em torno de 40%.
A venda de gás natural, por exemplo, caiu expressivamente com a baixa demanda do serviço de motoristas de aplicativos, principais consumidores do combustível. O único segmento de clientes que continua mantendo os negócios é mesmo os rodoviários da soja, que escoam a produção pelo país.
Apesar da queda no faturamento, Fábio diz que não chegou a fazer demissões e preferiu aderir ao programa do governo federal. Somente os contratos de experiência não foram efetivados. "Eu não quis demitir, ainda tenho esperança na melhora do cenário, a gente precisa ter dinheiro correndo", diz ele.
O Sindicato dos Trabalhadores em Postos de Combustíveis da Bahia (Sinposba) confirmou os dados repassados pelos patrões ao CORREIO: "Infelizmente, foi nessa proporção realmente, de 30% do quadro. Segundo a última pesquisa do Dieese, a Bahia tinha 23 mil trabalhadores. Incluindo não só frentistas, mas trocadores de óleo, funcionários de lojas de conveniência e da área administrativa", disse o presidente do órgão, Antônio Lago.
O sindicato culpou a demora do Governo Federal em lançar medidas de suporte ao setor: "Os postos estão com queda de movimento desde março. E só agora, em maio, o governo lançou linha de crédito e capital de giro a juros baixos. Isso afetou principalmente as empresas de médio porte, que não tinham uma 'gordura' para segurar os funcionários".
Segundo Lago, as demissões ocorreram em maior número no interior baiano, sobretudo nas regiões Nordeste e Norte. Na Região Metropolitana de Salvador, onde os postos estão sob controle de grandes redes, houve forte adesão ao programa do Governo Federal, o que evitou maiores demissões. De acordo com o sindicato, 20% dos trabalhadores da RMS tiveram jornada reduzida ou contratos suspensos.
O Sinposba disse que as demissões afetaram principalmente os profissionais de lojas de conveniência. "Infelizmente, foram as mais afetadas, porque boa parte do movimento é de gente que trabalha em deslocamento e precisa fazer um lanche, ou uma pequena reunião", disse Lago. O Sinposba garantiu ainda que as demissões ocorreram respeitando os direitos trabalhistas. E que, em raros casos, houve necessidade de procurar a Justiça.
Lago acredita que os postos de trabalho perdidos serão retomados em bom número assim que a pandemia passar: "Nós temos essa esperança, porque as lojas de conveniência vinham com um bom movimento. Elas são um ponto de apoio para muitos clientes. Assim que voltar a ter movimentação na rua, o consumo nas lojas retornará".
Com o cenário pandêmico, vários países foram atingidos pela covid-19 e o petróleo teve queda de preço, o que foi visto como positivo pelo Sindicombustíveis, já que o barril estava sendo negociado por US$ 10 a menos. No entanto, logo algumas nações se recuperaram e os valores voltaram a subir.
Em janeiro, antes do vírus trazer efeitos ao Brasil, o preço médio da gasolina era de R$ 4,57 no país. Em abril, caiu para R$ 4,07 e em maio chegou a R$ 3,81, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). No último levantamento semanal de preços, de 28 de junho a 4 de julho, a Bahia estava com um preço médio de R$ 4,32, terceiro maior do país, atrás apenas do Acre (R$ 4,71) e Rio de Janeiro (R$ 4,53). No mesmo período, Salvador estava com valor médio de R$ 4,28.