Bolsa sobe 0,88% e fecha aos 100 mil pontos pela primeira vez desde março

Esta foi a 6ª vez que o índice chegou à marca de 100 mil no fechamento
Estadão Conteúdo
Publicado em 11/07/2020 às 0:05
MOEDA E JUROS Caso o dólar continue a subir e a inflação não cesse, o Banco Central pode ter que subir a Selic Foto: SÉRGIO BERNARDO/JC IMAGEM


Alinhado ao dia positivo no exterior, o Ibovespa voltou a sentir o cheirinho de 100 mil pontos pela segunda vez na semana, renovando topos na reta final da sessão - e desta vez conseguindo sustentar a marca psicológica de seis dígitos no encerramento, algo que não ocorria desde 5 de março, então a 102.233,24 pontos. Ao final, o principal índice da B3 apontava nesta sexta-feira alta de 0,88%, aos 100.031,83 pontos. A máxima, de 100.100,98, ficou pouco abaixo da última quinta, quando chegara a 100.191,24 pontos, o melhor desempenho intradia desde 6 de março (102.230,50 pontos).
O índice acumulou ganho de 3,38% entre segunda e sexta-feira, semelhante ao da semana anterior (+3,12%), emendando segundo avanço semanal, o que coloca a alta no mês a 5,23%. O giro financeiro, em linha com o observado na semana, totalizou R$ 24,3 bilhões nesta sexta-feira. No ano, o Ibovespa cede 13,50%.
Foi a sexta vez que o índice chegou à marca de 100 mil no fechamento, vindo de baixo: as outras foram em 9 de outubro (101.248,78), 4 de setembro (101.200,89), 29 e 21 de agosto (100.524,43 e 101.201,90, respectivamente) e 19 de junho de 2019 (100.303,41 pontos), de acordo com o AE Dados.
O dia vinha morno na B3 com o Ibovespa oscilando pouco mais de 1.000 pontos entre a mínima e a máxima da sessão até que passou a renovar os topos da sessão após às 16h, enquanto NY se direcionava a fechamentos próximos às respectivas máximas desta sexta-feira. De acordo com o AE Dados, com o ganho de 5,23% acumulado no mês até o dia 10, o Ibovespa avança 36,99% desde a recuperação iniciada em abril, após o tombo de 29,90% em março - em abril, subiu 10,25%, com ganhos de 8,57% em maio e de 8,76% em junho. Ainda que julho esteja distante do fim, trata-se até aqui da melhor sequência de quatro meses desde a série entre fevereiro e maio de 2009, quando o Ibovespa teve avanço de 39,32% - e em nível de pontuação bem inferior ao atual, então entre 38.183 e 53,197 pontos.
No exterior, os investidores preferiram ver o copo meio cheio: embora persistam as preocupações quanto ao avanço do coronavírus nos EUA - e a casos ressurgindo na Ásia -, a atenção se voltou nesta sexta (10) para resultados animadores da farmacêutica Gilead sobre o tratamento com remdesivir, que tem reduzido o índice de mortalidade da doença. Assim, o Nasdaq (+0,66%) permaneceu em máxima de fechamento, com avanço mais tímido nesta sessão do que o observado em Wall Street, onde o Dow Jones encerrou em alta de 1,44% e o S&P 500, de 1,05%, nesta sexta-feira, 10.
Por aqui, a leitura sobre a atividade de serviços em maio esfriou parte do entusiasmo de anteontem com as vendas do varejo no mesmo mês - por outro lado, a forte retração em segmento vital para a economia brasileira ressuscita a expectativa por novo corte da Selic, ainda que marginal, no início de agosto.
"O mercado tem olhado mais para o que ajuda a subir - no caso, a liquidez - do que para fundamentos. Vamos ver se os resultados do segundo trimestre condizem - sabe-se que serão negativos, mas é preciso saber quão ruins serão, e o que haverá de indicação para frente. Pode ser que nem ocorra realização aí, se os balanços vierem melhor do que o consenso", observa Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença . "Com tantas variáveis indefinidas, especialmente em relação à pandemia no mundo, o longo prazo virou um horizonte de três meses. Fazer projeção para o Ibovespa é sempre difícil, e quem fez para o ano no início de 2020 já errou. Para este ano e o próximo ficou ainda mais desafiador", acrescenta.
No topo do Ibovespa nesta sexta-feira, CVC fechou em alta de 13,99%, seguida por Cogna (+11,05%). No lado oposto, Qualicorp cedeu 2,53% e Eletrobras PNB, uma das campeãs do dia anterior, caiu 2,01%. As ações de commodities e de bancos tiveram desempenho positivo na sessão, com destaque para alta de 1,67% em Petrobras PN e de 1,46% para Bradesco PN.

Dólar

O dólar terminou a sexta-feira em queda, fechando a semana marcada por fortes oscilações praticamente estável, com leve alta acumulada de 0,05%. Em julho, o dólar cai 2,1%. A moeda americana operou nos últimos dias ao redor dos R$ 5,30, em pregões marcados por baixo volume de negócios, o que acentuou o movimento de vaivém das cotações. O noticiário sobre o coronavírus foi monitorado de perto pelos mercados e, nesta sexta, a notícia de um tratamento mais eficaz para casos graves da covid da farmacêutica Gilead ajudou a estimular a busca por ativos de risco, enfraquecendo o dólar no mercado internacional. O Nasdaq bateu novo recorde histórico e o Ibovespa foi aos 100 mil pontos. O dólar à vista encerrou o dia em baixa de 0,31%, cotado em R$ 5,3218. O dólar futuro para agosto fechou em baixa de 0,35%, a R$ 5,3285.
A avaliação dos traders é quem sem um sinal mais claro sobre a intensidade da recuperação da economia brasileira e dos rumos dos casos de covid no Brasil e nos Estados Unidos, o câmbio deve seguir volátil, sem firmar tendência.
O estrategista da TAG Investimentos, Dan Kawa, observa que os mercados seguem respeitando "bandas" recentes, sem grandes sinais de "rompimento" ou grandes tendências, em meio a um cenário de baixa previsibilidade. No caso do dólar, a moeda ficou ao redor dos R$ 5,30. Para Kawa, ainda não é possível ter convicção sobre a velocidade ou intensidade da recuperação da atividade econômica no Brasil. "O cenário ainda é muito turvo." Se as vendas no varejo de maio surpreenderam positivamente, os dados desta sexta de serviços vieram fracos, ressalta ele.
Os estrategistas de moedas em Nova York do Citi avaliam que o real pode ser uma boa opção para ficar "vendido" entre as moedas de emergentes, ou seja, para apostar na queda. Eles destacam que a divisa brasileira tem sido usada para hedge, incluindo para operações de proteção em apostas nos outros ativos domésticos, enquanto as operações de carry trade tiveram queda significativa. Nesse tipo de estratégia, o investidor toma recurso em país de juro baixo e aplica em outro de taxa maior.
Para as moedas de emergentes, incluindo o real, o Citi alerta que um dos maiores temores é o aumento da dívida pública, por conta da elevação de gastos para lidar com a pandemia do coronavírus. O Brasil, que já tinha situação deteriorada antes da crise, será um dos mercados com os piores números pós-pandemia, ressalta o banco americano. A relação entre a dívida bruta e o Produto Interno Bruto (PIB) deve superar os 90% este ano e o déficit primário chegar a 11,5% do PIB, ambos nos níveis mais altos dos emergentes.

Juros

O IPCA de junho abaixo da mediana das estimativas e o bom desempenho dos mercados internacionais garantiram um dia de queda para os juros futuros nesta sexta-feira. As taxas fecharam de forma mais consistente nos vértices intermediários, que têm concentrado a liquidez nos últimos meses e onde o mercado considera que há mais conforto para se operar. A ponta curta recuou com o índice de inflação e também com a inesperada queda no volume de serviços prestados em maio, equilibrando novamente o quadro de apostas para a Selic.
O mercado recolocou fichas na previsão de corte de 0,25 ponto porcentual em agosto, estancando o processo de avanço da percepção de manutenção com base em declarações mais otimistas do Banco Central sobre a retomada da economia e em dados de atividade melhores que o previsto. Ainda assim, houve espaço para alívio na ponta longa, diante do apetite pelo risco no exterior traduzido pela força das Bolsas e avanço do rendimento da T-Note de dez anos.
O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou na mínima de 2,065%, ante 2,120% ontem no ajuste, e o DI para janeiro de 2022 encerrou com taxa em 3,02%, de 3,103% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa a 6,37%, de 6,433%.
O IPCA e a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) já definiram a rota de baixa para os juros desde o começo da sessão, mas as mínimas foram atingidas no período da tarde, na medida em que o mercado externo se firmava no modo "risk on" e quando as Bolsas ampliavam os ganhos, com o Ibovespa aqui alcançando novamente os 100 mil pontos.
De todo modo, a agenda da manhã foi o "que fez" preço realmente na curva, com mercado preparado para um IPCA mais forte do que os efetivos 0,26% - a mediana das previsões era de 0,30%. Segundo o economista-chefe da Parallaxis Investimentos, Rafael Leão, os dados melhores de atividade e o discursos de membros do BC vinham endossando a ideia de manutenção da Selic, mas o índice de inflação e a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) frearam um pouco tal percepção. O volume de serviços em maio caiu 0,9% ante abril, número abaixo do piso das estimativas (+2,9%).
Como o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, havia alertado que a decisão sobre mais um corte residual de juros depende de se entender o impacto da retomada econômica na inflação, esse mix de indicadores encorajou algumas apostas na queda nesta sexta-feira. Segundo cálculos do Haitong Banco de Investimentos, a curva projetava no fim do dia 44% de chance de queda da Selic em agosto para 2% e 56% de chance de manutenção nos 2,25%. Ontem, eram cerca de 70% de probabilidade de Selic estável contra 30% de probabilidade de queda.
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