Formalização de empresas segue forte em Pernambuco apesar da crise provocada pela pandemia

De abril a junho deste ano foram abertas mais de 17 mil empresas no Estado, quase 90% delas do tipo MEI (Micro Empreendedor Individual)
Edilson Vieira
Publicado em 24/07/2020 às 16:24
A empresária Kaline Alcântara abriu uma loja de calçados infantis no mês de junho. "É preciso olhar por cima da crise para ver as oportunidades", afirma. Foto: Luiz Fabiano


O número de novas empresas abertas em Pernambuco vem surpreendendo. Isso, em pleno período de pandemia. Segundo a Junta Comercial do Estado (Jucepe), de abril a junho deste ano, foram abertas 17.562 novas empresas. Sendo 86% delas do tipo Micro Empreendedor Individual (MEI). Em 2019, neste mesmo período, quando não existia nem vestígio da covid-19, os números foram um pouco maiores, cerca de 20 mil empresas abertas, sendo 15 mil do tipo MEI. Neste mês de julho, os números seguem fortes. Até o último dia 18, a Jucepe havia feito o registro de 4.612 novos negócios.

O gerente do Sebrae para a Região Metropolitana do Recife, Alexandre Alves, explica que em momentos de crise sempre há um movimento em direção ao empreendedorismo. O que está chamando a atenção é a busca pela formalização. Para Alexandre Alves, as pessoas estão buscando os benefícios oferecidos para quem registra o seu negócio, que, no caso do MEI, tem um custo muito baixo. "Pagando entre R$ 55 e R$ 60 por mês, dependendo da atividade que exerce, é possível ter toda a cobertura previdenciária do INSS, como auxílio doença, auxílio maternidade, e aposentadoria". 

BENEFÍCIOS

Para ilustrar, Alves dá como exemplo uma pessoa que vendia pipoca na rua e, apesar dos poucos rendimentos, resolveu recolher o INSS por conta própria. Para este cidadão, sairia mais caro contribuir para o INSS sobre o salário mínimo, por volta de R$ 100 por mês, do que registrado como MEI. Foi o caso da técnica de enfermagem Ariana Ferreira Coimbra. Em plena pandemia, preferiu trocar seu trabalho na área de saúde por algo que não colocasse a família em risco de contaminação. Ariana começou então a pensar em uma papelaria virtual. "No começo a ideia era vender na base do boca a boca.

Foi quando uma colega falou das vantagens de ser MEI. Poderia vender com nota fiscal e ainda ter direitos, quase como uma pessoa de carteira assinada", argumentou. A Avinvan Papelaria está em fase de estruturação para, até o final deste ano, iniciar as vendas através das redes sociais. "O momento de fazer alguma coisa é agora. Nós já estamos vivendo esse novo mundo e temos que nos adaptar", disse.
Para a presidente da Junta Comercial de Pernambuco, Taciana Bravo, na pandemia as pessoas que precisavam prestar serviços para gerar renda viram que era melhor se regularizar. “Até uma atividade simples, como produzir máscaras, com CNPJ aumentam as chances de vender mais, com a emissão de nota fiscal”. Entre os tipos de atividade mais registrados estão farmácias, varejo de confecções e acessórios e mercadinhos.

FACILIDADES

A Jucepe trabalha com a abertura de empresas de maior porte, como as chamadas ME (micro empresas), ou de constituição por sócios (ltda). A digitalização de todo o processo de registro da empresa, dispensando a necessidade da ida presencial, já existia desde o ano passado, mas foi ampliada e aperfeiçoada na pandemia. "O empreendedor pode fazer tudo de casa. Assina o processo de abertura, digitaliza e anexa o testemunho de um advogado ou contador dando autenticidade ao documento original", explicou Taciana Bravo.

A presidente da Jucepe disse ainda que foi criado um chat online para consultas. "Foi uma forma para tornar o processo 100% digital. Pelo sucesso que tivemos, é um serviço que vai continuar", afirmou Taciana Bravo. No caso dos MEIs, registrar um CNPJ é ainda mais simples. Todo o processo é feito através do portaldoempreendedor.gov.br.

O empresário Anderson Alves tem uma pequena imobiliária e, com o início do isolamento social e da redução no movimento dos negócios, resolveu se preparar para o pós-pandemia atuando em um outro segmento. Com um amigo, está abrindo a Inova, uma pequena empresa de construção civil para atuar no ramo da construção a seco. "O steel frame é um processo que utiliza perfis de aço como estrutura e placas cimentícias no lugar dos tijolos. É um método de construção mais limpo, mais rápido e com menos desperdício", explicou Anderson.

VISÃO

O investimento foi de R$ 50 mil, com atuação no mercado de casas de praia e de campo. "A construção civil não parou por falta de clientes. Parou por imposição do decreto do governo e da necessidade de isolamento social. Mas os clientes estão por aí. Quando eles voltarem, terei um produto novo", argumentou Anderson, que está abrindo ainda uma fábrica de produção de polpa de frutas co a esposa.

A comerciante Kaline Alcântara também viu oportunidades no meio da crise. Ela tem a Bitsy, uma loja de roupas e calçados infantis no Shopping Recife. Durante o período em que o centro de compras teve de permanecer fechado, criou o "provador delivery", levando os artigos até a casa dos clientes para que fossem experimentados. “Foi uma maneira que encontramos de manter ao menos parte do movimento”, diz Kaline.
Com o shopping reaberto, ela investe em outras frentes. Viu a oportunidade de expansão do seu negócio em um ponto comercial fechado. "É um ponto muito bom, no Parnamirim, no Recife".

A proximidade com escolas e o valor do aluguel atrativo fizeram do ponto um local estratégico para o negócio que Kaline tinha em mente: uma loja de calçados infantis. “Estávamos com a ideia de abrir uma loja como essa só em 2021. Mas, com a pandemia, surgiu esse ponto perfeito e antecipamos”, diz a empresária, que investiu, entre reforma e composição de estoques, R$ 150 mil. A loja abriu no mesmo dia em que o governo de Pernambuco autorizou a reabertura do comércio: 15 de junho. "Muita gente fica presa ao problema. Mas é preciso olhar por cima para ver as oportunidades que surgem”, ensinou Kaline.

 

TAGS
Economia Assinante Empreendedorismo
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory