A previsão para o feriadão de 7 de Setembro que começa neste sábado é de tempo muito bom. Mas, não se trata de meteorologia. O prognóstico é da movimentação de clientes esperada pelos comerciantes de praia e hoteleiros do Recife e de Porto de Galinhas. Este será o primeiro final de semana após o retorno do comércio nas praias, com boas expectativas de faturamento e cuidados redobrados com os protocolos de higiene e distanciamento social impostos pela pandemia do novo coronavírus.
Marcelo Silva de Lima tira o sustento dos seis filhos de uma barraca que mantém na Praia de Boa Viagem, no Recife. Há 30 anos ele comercializa bebidas e pratos simples em frente ao Edifício Acaiaca. Sem medo de exagerar, diz que esse verão será melhor do que o do ano passado. "Aqui onde fica o meu ponto o movimento era muito fraco durante a semana. Agora, desde que a gente voltou, todo dia tem movimento. Meu Whatsapp não para de cliente perguntando se eu vou armar a barraca no final de semana", diz Marcelo com entusiasmo.
Para ele não há dificuldade em seguir os protocolos de segurança determinados pelo governo para que os comerciantes pudessem voltar a trabalhar. "Eu faço questão de fazer tudo direitinho, né? Até pra não perder os direitos. Agora, que o cliente reclama, reclama", diz Marcelo se referindo à limitação máxima de quatro pessoas por cada guarda sol. Marcelo também diz que ainda precisa se acostumar a trabalhar com menos lugares para os banhistas. "Antes eu botava até 100 cadeiras aqui, agora vou trabalhar com, no máximo, 40".
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Nas regras definidas pelo governo do Estado, o uso de máscara é obrigatório, pelos clientes e atendentes. Cada guarda-sol estará resguardando um espaço denominado "box" com quatro cadeiras e uma mesa. Entre os boxes é preciso respeitar a distância mínima de 4 metros e as pessoas devem respeitar o distanciamento de 1,5 metros para interagir com as demais que não estejam sob o mesmo guarda-sol. Reunião com mais de 10 pessoas continua proibida. A higienização com álcool das superfícies de uso frequente, bem como a disponibilização do produto a clientes e funcionários também precisa ser feita. A fiscalização das regras fica a cargo das prefeituras.
PROTOCOLOS
O casal Luciana Lima e Júnior Poeta, também não escondem o alívio por poderem voltar a trabalhar com a barraca de praia em Boa Viagem, depois de cinco meses “sem cair uma moeda no bolso”, como definiu Júnior Poeta. O casal conseguiu se manter graças ao auxílio emergencial do governo e alguns trabalhos avulsos. Júnior acha estranho ter que trabalhar com metade das 120 cadeiras que costumava armar na praia para os banhistas. “Mas é melhor do que nada, né?”, e tem o raciocínio complementado pela esposa, Luciana: “Eu tenho certeza de que o movimento esse verão vai compensar, vai ser muito grande. Começando na sexta [hoje]”, diz Luciana.
Severino da Silva, o Biu do Gelo, é presidente da associação que representa 476 comerciantes que trabalham nas areias de Boa Viagem. “Nós temos uma expectativa muito boa em relação a esse verão. Vamos ver como o banhista vai chegar e se comportar, mas acho que não vai ter problema, porque o protocolo permite quatro pessoas sentada nas cadeiras e até mais seis no chão, vai dar para a família toda vir”, explicou Biu. Para o presidente da associação, o verão 2020 deve ficar dentro da média de todos os anos. “Esse domingo vai servir para avaliar se o banhista vai vir pra valer. Mas verão em Boa Viagem sempre foi bom e vai continuar sendo”, resume.
Na Praia de Porto de Galinhas, no município de Ipojuca, litoral Sul do Estado, o movimento de jangadeiros, barraqueiros e comerciantes ambulantes já era efervescente durante a semana e, mesmo utilizando máscaras, era possível perceber o sorriso no rosto deles quando se indagava sobre a expectativa em relação ao verão que se aproxima. O presidente da Associação de Jangadeiros de Porto de Galinhas, Sávio Acioly, não economizou otimismo. “Quando a gente voltou a trabalhar, há cerca de um mês, havia uma incerteza muito grande como ia ficar o turismo aqui. Mas, vendo o movimento crescente de turistas a expectativa agora é alta demais. Acho que vai ser um dos melhores verões de todos os tempos porque o pessoal agora quer sair de casa. E estamos aqui para receber todo mundo, claro, com todos os protocolos de segurança”, diz Sávio. Na praia, bandeiras coloridas demarcam o distanciamento dos turistas que esperam a saída dos passeios e, entre outros cuidados, toda jangada que chega recebe uma limpeza feita com água sanitária diluída.
FATURAMENTO
Mesmo com a redução de seis para quatro passageiros que podem ser levados em cada passeio, e com a imposição de colocar no mar apenas 50% de todas as jangadas disponíveis (das 84 embarcações apenas 42 saem diariamente para o mar em escala de rodízio), os jangadeiros dizem que não estão tendo prejuízo. “Antes, a gente podia ganhar até R$ 180 por pessoa, em cada passeio de uma hora. Agora, levando quatro passageiros, a gente ganha R$ 120 reais. É menos, mas ficou mais fácil ocupar a lotação máxima da jangada”, explicou Hélio Vicente Ferreira, tesoureiro da associação de jangadeiros.
O secretário geral da Associação dos Ambulantes de Ipojuca, Tibiriçá Coutinho, o Bira, disse que a retomada das vendas no comércio popular está sendo “a melhor possível”. “A movimentação dos turistas em Porto está crescendo muito. A gente ainda está na pandemia, mas seguindo os protocolos direitinho está sendo bom para todo os lados, o turista que se sente mais confiante, e o comerciante que consegue vender. Eu tenho certeza de que Porto de Galinhas vai voltar a ser um destino muito procurado nesse verão”. Bira calcula que no litoral Sul, entre as praias de Camboa a Serrambi, cerca de 780 ambulantes e 120 barraqueiros já voltaram às suas atividades.
Um desses comerciantes é Wilker Travassos, barraqueiro há 10 anos em Porto de Galinhas, ele voltou disposto a recuperar o tempo perdido. “Precisamos reaprender tudo de novo. Agora, todas as guarnições, como azeite e sal são em embalagens individualizadas. Os garçons atendem com máscara, respeitando o distanciamento, e tem álcool em gel em todas as mesas.” Sobre a expectativa em relação ao movimento ele é só esperança. “Foram seis meses parados. Estou muito animado com essa volta. Não tem como não ficar otimista”, comemorou. No verão passado, Wilker faturava em torno de R$1.500 em um domingo ou dia feriado. Mesmo com a limitação em 50% de sua capacidade de atendimento, ele acredita que não perderá muito. “Acho que haverá um rodízio maior de clientes e o faturamento deve ficar entre 60% e 70% do que era antes, mas esse feriadão será o termômetro”, contabilizou.
PROJEÇÃO
Os hoteleiros de Porto de Galinhas estão confirmando aquilo que a pesquisas já previam. É o turismo de proximidade que está devolvendo a movimentação aos hotéis. Segundo o diretor comercial do Hotel Village, Eduardo Tiburtius, a ocupação média na rede hoteleira de Porto para este feriado estava em torno de 60% (na última quarta-feira, 2). “Em abril ou maio, a gente achava que não viria ninguém após a reabertura. Mas o hóspede tá vindo”. Tiburtius conta que acreditava que iria reabrir com 10%, mas em agosto já tinha 25% de ocupação média. “O turismo regional, de quem vem de perto, aumentou. A gente está vendo os números crescendo”. Curiosamente, o hotel já está com uma procura maior para o início de 2021, do que teve de reservas no início deste ano. “Estamos muito otimistas porque os números da pandemia estão estabilizados ou em queda há muito tempo aqui no estado. E quanto mais o tempo passa, mais confiança o turista vai adquirindo para voltar a viajar”, diz Tiburtius.
O gerente e proprietário da pousada 4 Estações, Daniel Portela, também em Porto, concorda que, enquanto o turismo aéreo não decola, é o turismo rodoviário que está recuperando o setor. “O hóspede que chega hoje na pousada vem de Alagoas, de Sergipe, do Rio Grande do Norte e muitos do interior de Pernambuco. Argentinos e chilenos que antes vinham regularmente, esses não voltarão tão cedo”. Portela conta que a ocupação do hotel está cravando os 100% nos finais de semana, caindo para 15% ou 20% nos dias úteis. “O público que ocupava a pousada ao longo da semana era aquele que vinha de longe, de avião. Eu espero que com a abertura dos negócios de praia a movimentação durante a semana também cresça, mas é a volta dos voos que vai fazer a diferença”. Ele acha que o cliente do mês de setembro será, em proporção, o mesmo deste mês de agosto, mas a partir de outubro o cenário deverá mudar. “Já estamos sabendo de um aumento nas reservas de voos mais próximos ao final do ano”, diz Portela.
Eduardo Cavalcanti, presidente da seção local da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira (ABIH-PE) já comemora a demanda de reservas para este feriadão e que serve como parâmetro para o que deve ser o verão. “A demanda por reserva de hospedagens está muito boa, pode-se dizer até excelente. Não só no litoral. Em Gravatá, por exemplo, a ocupação para este fim de semana está, até agora, em torno, de 90%. E para o verão, apesar de ainda ter muita gente receosa, há uma grande parcela louca para viajar. Eu acredito que será um verão muito bom”, estima Eduardo, lembrando que os hotéis estão trabalhando com a capacidade de hospedagem reduzida para 60% do total.
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