Duas recessões em apenas uma década (2011-2020) contribuíram para deixar o brasileiro mais pobre. Se confirmadas as projeções, só no período entre 2013 (quando do crescimento mais robusto) e 2020, a perda de renda da população deve chegar a 11%. Os números foram compilados pela consultoria LCA e apontam que o Produto Interno Bruto (PIB) per capita passará de R$ 8.519 para R$ 7.559 (estimativa). Levando em consideração a catastrófica divulgação do PIB no segundo semestre, na mesma direção aponta o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), que já espera uma retração de 6,1% da renda per capita somente este ano - pior desempenho desde 1981, caso confirmado.
O PIB per capita é basicamente o Produto Interno Bruto dividido pelo total da população. O indicador não consegue levar em conta os bolsões de desigualdade e acúmulo de riqueza, mas mesmo assim já traz um retrato do entrave na evolução de renda das pessoas.
PIB per capita variação
2011: +1,8%
2012: +0,1%
2013: +1,4%
2014: - 0,7%
2015: - 4,4%
2016: - 4,1%
2017: +0,5%
2018: +0,3%
“Ficamos patinando nos R$ 9 mil de renda per capita durante quatro anos, e agora estamos indo para o buraco. Evidentemente, isso é uma situação passageira, você deve retornar para o patamar anterior, mas o problema é que a economia não mostra um dinamismo de crescimento acima nem de 1% ao ano”, avalia o pesquisador associado do Ibre/FGV, Claudio Considera.
Na década, o melhor desempenho do PIB per capita veio em 2011 (+ 1,8%), tendo resultados negativos em 2014 (- 0,7%), 2015 (- 4,4%) e 2016 (- 4,1%), quando o País vivia uma recessão. Nos anos seguintes, houve um crescimento de 0,5% (2017), 0,3% (2018) e 0,3% em 2019. “O PIB per capita já vinha crescendo pouco. Estávamos crescendo 1% ao ano na conta do crescimento da população, o que é muito pouquinho, mas o crescimento per capita de fato deve ser considerado, porque terminar tendo mais gente com PIB não é o melhor dos mundos”, complementa Considera.
PIB per capita valores
2º trimestre:
2012: 9.409
2013: 9.703
2014: 9.579
2015: 9.238
2016: 8.865
2017: 8.870
2018: 8.892
2019: 8.782
2020: 7.839
A conta deficitária, antes mesmo de chegar a um resultado, é sentida no bolso pela população. Elisabeth Santos, 41 anos, foi mandada embora do emprego num escritório de advocacia em 2015. “Trabalhava no atendimento e de lá para cá só vim conseguir trabalhar com de carteira (assinada) no ano passado. Virei atendente numa loja. O salário era menor e, agora, na pandemia, a dona fechou as portas”, lamenta.
Sem recompor a renda, mesmo quando conseguiu um novo emprego, Elisabeth faz parte de um contingente de brasileiros reféns da instabilidade. Sem renda, não se consome e se não há demanda, a oferta também é impactada. O PIB brasileiro trouxe esse desenho ao apresentar queda de 9,7% no segundo trimestre de 2020, quando 8,9 milhões perderam o emprego, segundo o IBGE, colocando o País num quadro de recessão técnica ao somas dois trimestres negativos.
“No primeiro momento tem que ter aumento da demanda, depois da produção e aos poucos ir empregando gente. Vai demorar um pouco para retomada da produção em si. O investimento público precisará vir de alguma maneira. Obras públicas é uma possibilidade. Temos a questão fiscal, mas também temos um problema grave agora que é a pandemia. O governo teve de fazer transferência de recursos (auxílio emergencial) e isso foi remédio de manutenção da renda das pessoas mais pobres, mas não tem condições de ficar colocando R$ 50 bilhões todo mês. Melhor um investimento que gere emprego”, afirma Claudio Considera.