Principal atividade econômica de Pernambuco, com participação de 76% no PIB, o setor de serviços foi o mais afetado pela pandemia do novo coronavírus. De janeiro a agosto, 16.969 postos de trabalho com carteira assinada foram fechados, segundo o Caged. Comércio, turismo, alimentação, transporte, atividade imobiliária; quase nenhum segmento escapou. Com o fim do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e Renda (BEm), previsto para o final do ano, o setor já bastante sensível ficará ainda mais vulnerável.
- Volume de serviços de Pernambuco recua 0,5% em maio, quarta queda consecutiva do setor
- Veja como foi a reabertura dos serviços de alimentação presencial e academias no Grande Recife
- Proposta de reforma tributária recebe críticas do setor de serviços. Consumidor pode pagar a conta
- Após quatro meses de queda, serviços voltam a crescer em Pernambuco (5,6%) e no Brasil (5%)
O economista e sócio-diretor da PPK Consultoria, João Rogério Alves Filho, levanta uma questão preocupante. "Na última Pnad Contínua trimestral [encerrada em julho], o contingente de trabalhadores com carteira assinada no setor privado era de 31,5 milhões. O governo [federal] afirmou que o benefício [do BEm] alcançou 10,5 milhões de pessoas. Isso quer dizer que um terço dos empregos formais com carteira assinada está pendurado nessa medida. Então existe um universo muito grande numa situação de insegurança e incerteza de seu vínculo empregatício a partir de janeiro", observa.
O setor de serviços, que teve uma retomada econômica mais lenta, vive um momento de ainda mais insegurança em relação a um futuro próximo. "Vamos imaginar um dono de um restaurante com 30 mesas. Ele passou quatro meses fechado, depois foi autorizado a abrir com 15 mesas, mas só consegue uma ocupação média de dez mesas. A recuperação vai se redimensionar a partir do que acontecer de janeiro em diante", destaca João Rogério.
Recuperação
O tombo no mercado de trabalho também foi forte no comércio. Até agosto o setor perdeu 14.089 vagas. O economista da Federação do Comércio de Pernambuco (Fecomércio-PE), Rafael Ramos, pontua que embora as vendas tenham apresentado recuperação acima do esperado, após a reabertura do setor, o emprego não volta com a mesma velocidade.
"Ainda temos um mercado de trabalho extremamente deteriorado, que não vem respondendo tão rapidamente quanto outras variáveis macroeconômicas. Uma das apostas é o emprego temporário, que deverá compensar em parte o número de pessoas desligadas. Temos datas importantes como a BLack Friday (em novembro) e o Natal, com a expectativa de contratações. Nesta Black Friday, por exemplo, teremos mais pessoas treinadas a comprar pela internet, em função do tempo que passaram em casa e foram aprendendo", diz Ramos.
Na avaliação dele, nenhuma data comemorativa será suficiente para mudar o cenário do comércio este ano, que deverá fechar com queda em relação ao ano passado, mas as vendas estão crescendo ainda que seja sobre uma base reprimida dos meses mais críticos da pandemia em que os estabelecimentos estiveram fechados.
Outra atividade no setor de serviços que tenta se recuperar do baque da pandemia é o turismo. Levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), aponta que em Pernambuco foram fechados 1,2 mil estabelecimentos com vínculos empregatícios. Segundo o Caged, os segmentos de alojamento e alimentação, que compreendem o turismo, o saldo de empregos com carteira assinada foi negativo em 11.880 pessoas.
"Estamos vivendo um ano atípico, com a perspectiva de que o último trimestre é decisivo para o País se antecipar, sabendo dos efeitos que a ausência dessa rede de proteção [auxílio emergencial e BEm] vai nos trazer. O desemprego é uma das variáveis macroeconômicas que têm uma relação mais direta com o tecido social. Uma massa de desempregados desbalanceia esse tecido social. E hoje o Brasil tem 13 milhões de desempregados, quase 6 milhões de desalentados", alerta João Rogério, preocupado com o cenário.
Comentários