Um problema crônico, a geração de empregos em Pernambuco continua sendo um desafio. Depois de ir do apogeu, em 2010, ao declínio, nos anos seguintes, com a crise econômica e desmobilização de grandes investimentos feitos no Estado, a resiliência do mercado de trabalho atravessa 2020 mais uma vez sendo colocada à prova. A pandemia do novo coronavírus tirou dos trilhos uma recuperação que vinha sendo desenhada a partir de 2018, contribuindo para manter por aqui o desemprego e a informalidade em níveis elevados. Até o mês de novembro, a projeção do governo do Estado é de que todas as atividades econômicas tenham sido retomadas, respeitados os novos protocolos e capacidades determinadas. Mesmo assim, ainda há incerteza quanto ao ritmo de recuperação da economia e assimetria em relação à evolução dos postos de trabalho. Ao fim deste ano, vão-se também os programas emergenciais do governo federal para transferência de renda e preservação do emprego. E 2021, que deverá começar ainda repleto de dúvidas quanto à imunização da população e proteção social dos que ainda sentem os efeitos dessa crise, traz consigo a certeza do necessário empenho para realização de investimentos públicos e privados que gerem emprego e renda para os pernambucanos.
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Iranildo Silva, 36 anos, é um retrato fiel das idas e vindas do mercado de trabalho no Estado. Durante seis anos, viu-se “num sonho”, com carteira assinada, plano de saúde e seguridade social para ele e sua família, encontrou na indústria naval o local ideal de trabalho. “Enquanto estive lá não tenho do que reclamar. Consegui reformar casa, dar de tudo aos meninos. Mas aí veio toda a confusão de crise e roubalheira (Lava Jato). Fui mandado embora vai fazer dois anos e, desde então, não sei nem o que é carteira assinada”, conta.
Desde 2018, a renda da família (dois filhos e esposa) vem do trabalho como motorista de aplicativo. “Todo dia eu saio do Cabo (de Santo Agostinho) e geralmente concentro as viagens pelo Recife. Tem dia que é bom, mas às vezes termino o mês contando dinheiro para pagar o aluguel do carro”, lamenta. No auge da pandemia, voltou a ter mais uma baque em relação ao trabalho.
“Desta vez, no período mais forte (entre abril e junho) foi mais difícil. A mulher ficou sem emprego e a minha renda caiu também. Como dependo do que faço no dia, foi um período até mais complicado, porque não tinha de onde tirar, nenhum amparo. O que salvou foi esse auxílio, que já não vai chegar mais, né?”, comenta.
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A indústria naval foi um dos investimento que trouxe grande euforia e inflou positivamente os números de empregos formais no Estado. Nos últimos anos, porém, tem decretado seu desfecho e, consequentemente, somado-se à inversão para a maré negativa na geração de vagas. Milhares de pernambucanos tiveram a mesma inconstância em relação ao trabalho, se já não na crise iniciada em 2015 e na indústria naval, vivenciaram esse sobe e desce em outras atividades e, por mais uma vez, agora confrontam-se com a falta de perspectiva na pandemia.
Para além da questão sanitária, a economia sentiu o peso das restrições necessárias para conter o avanço da doença. O PIB do Estado chegou ao pior resultado desde 2002, caindo 9,4% no trimestre encerrado em junho. Os números ainda chegaram a ser vistos com certo alívio, já que a queda no País foi de 9,7% em igual período e o resultado local levou a uma revisão da estimativa para -5% ao fim do ano.
“A demanda agregada, como um todo, no curto prazo, basicamente se igualou ao ano passado, principalmente a questão de produto, não de serviços. Aí está o efeito da renda adicional (auxílio emergencial), principalmente no Nordeste. Serviços é o setor que ainda está em patamares inferiores ao período da crise. Achamos que isso vai prejudicar o começo de 2021, sobretudo com o desemprego nesse segmento. Com o fim das medidas de amparo ao emprego e renda, vai ser difícil sustentar a suspensão de contratos”, adianta o presidente do movimento empresarial Pró-Pernambuco, Avelar Loureiro.
Ainda no segundo trimestre deste ano, os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio do IBGE (Pnad Contínua) apontam que o Estado passou a ser o nono do País com a maior taxa de desocupados (15%), ficando acima da taxa nacional (13%) e chegando ao número absoluto de 533 mil desempregados. Entre os meses de abril, maio e junho deste ano, Pernambuco alcançou recordes negativos no percentual da população ocupada em relação às pessoas em idade de trabalhar (38,5%) - menor porcentagem desde o início da série histórica, em 2012 - e também chegou a ter 45,3% das pessoas em idade de trabalhar (14 anos ou mais) em relação ao total de pessoas nessa faixa etária participando da força de trabalho, uma redução de 6,6% em relação ao 1º trimestre deste ano. O Estado tem 3 milhões de pessoas ocupadas, mas uma taxa de informalidade de 45,4%.
Desafio para geração de emprego
Se levado em conta apenas o mercado formal, nos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a sinalização é de que já há sinais de melhora. No último mês de agosto, o saldo (admissões menos demissões) foi o maior do Nordeste (12.714). Mas no ano, Pernambuco acumula o pior resultado da região e quinto pior em todo o País, com saldo negativo de 49.848 postos, pondo em dúvida o quão forte será a retomada econômica e sua relação com a geração de novos empregos.
“O mercado de trabalho em Pernambuco sempre foi um grande desafio. O desempenho da economia é assimétrico com a geração de emprego. Temos um mercado de trabalho com muita gente fora da rede de proteção social. Obviamente, tenta-se atrair investimentos privados que geram mais empregos, mas na indústria, por exemplo, os investimentos são cada vez mais intensivos de capital. As tecnologias não permitem ser muito intensivo em mão de obra. Tem de gerar emprego, e maior parte são pequenas e médias empresas, que dependem fundamentalmente do mercado”, avalia o doutor em economia e sócio da Ceplan, Jorge Jatobá.
A equação, na explicação do economista, é simples: “Não se gera emprego espontaneamente. Gera-se, quando tem atividade econômica. Se a economia não cresce ou cresce pouco, vai gerar pouco emprego. E se o pouco emprego que você gera tem capital alto ou muito baixo, você não consegue puxar o emprego no mesmo ritmo da economia”, resume.
O plano de convivência criado pelo governo do Estado para retomada das atividades econômicas já caminha para sua fase final, com 100% das atividades liberadas seguindo novos modelos de funcionamento. A volta já ajuda a dirimir um pouco o ônus arcado ao longo de todo o 2020, mas não deverá ser suficiente para reverter as perdas e garantir um ano novo mais aliviado.
“O auxílio foi muito importante. Nos três primeiros meses da pandemia (abril maio e junho) representou quase 36% massa de rendimento do Estado. A situação econômica não se agravou ainda mais. A suspensão temporária ajudou, mas bem menos do que no resto do País, porque o setor formal é maior em outros estados do que aqui. Mesmo assim, ainda sentiremos um impacto”, garante o economista.
Do auxílio emergencial, Pernambuco foi um dos estados que mais recebeu recursos. Ao todo, foram injetados mais de R$ 10,7 bilhões para 41% da população, até o mês de agosto. Já em relação ao programa de redução ou suspensão de jornada e salário, foram firmados 745,7 mil acordos. “Por mais que venha um ‘Renda Cidadã’ (possível novo programa social do governo), nunca vai ser perto do que foi o auxílio emergencial. Objetivamente, todos os entes federativos precisam agora diminuir as amarras aos investimentos privados, para que seja possível tomar esse lugar e continuar aquecendo o mercado, gerando emprego e mantendo a demanda”, pede o presidente do MPP.
No caso de Pernambuco, o investimento privado é justamente um dos caminhos viáveis, já que O Estado tem uma margem muito pequena para financiar investimentos. “Em função da crise fiscal do Estado, o investimento público estadual como percentual da receita corrente líquida vem caindo e como percentual do PIB também, porque algumas despesas vem subindo muito rapidamente. O déficit previdenciário já gira em torno dos R$ 13 bilhões ao passo que investimento está abaixo de R$ 1 bilhão ao ano. O investimento virou variável de ajuste, sobrando muito pouco espaço. Por isso é fundamental que o Estado equacione o seu problema previdenciário para liberar recursos para investimento. O investimento gera muito emprego”, recomenda Jorge Jatobá.
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