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Operadoras de telefonia se unem a fintechs e já oferecem até empréstimos

País tem cerca de 50 milhões de desbancarizados, porém mais da metade deles têm acesso a celulares com internet

Lucas Moraes
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Lucas Moraes
Publicado em 18/10/2020 às 7:00
MARCELLO CASAL JR./AGÊNCIA BRASIL
SMARTPHONE Conexão é possível a quem tem aparelhos compatíveis com o 5G - FOTO: MARCELLO CASAL JR./AGÊNCIA BRASIL
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A demanda por novas fontes de receita e acesso a uma base maior de clientes tem unido empresas de telefonia e fintechs num movimento de congruência para a oferta de serviços. O Brasil que conta com quase 50 milhões de desbancarizados é o mesmo País que possui mais de 230 milhões de telefones ativos. As companhias financeiras e de telecomunicações sabem disso e, com o processo de digitalização aprofundado na pandemia do novo coronavírus, aceleram seus projetos proporcionando pacotes com vantagens para abertura de contas, realização de pagamentos ou até acesso a empréstimos solicitados através das operadoras. A estimativa é de que cerca de 60% dos sem acesso a bancos, o equivalente a 27 milhões de pessoas, têm celular com a acesso à internet, e alcançar esse público é o objetivo.

Nas estimativas da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), R$ 817 bilhões são movimentados por ano pelos desbancarizados no País. Estar junto dessas pessoas é um bom negócio para as fintechs, mas chegar até eles é um desafio. Somando forças com as empresas de telefonia, abre-se um leque de capilaridade que alcança os 180 milhões de clientes entre as principais operadoras., segundo números da Anatel.

“Tem mais smartphones do que pessoas no Brasil. Praticamente todos têm telefone e ele está vinculado a alguma operadora. No final, a pessoa pode não ter conta em banco, mas tem o celular na mão. A operadora está buscando novas receitas, e ter a opção de bancarizar o cliente e oferecer produtos especiais é viável, com o dinheiro do cliente na mão então, isso faz muito sentido”, avalia o CEO do banco digital Zro Bank, Edisio Pereira Neto.

Mercado a ser explorado por teles e fintechs:

Com as fintechs, numa ponta, precisando alcançar um maior número de clientes e, na outra ponta, as operadoras de telefone do Brasil necessitando diversificar suas fontes de receita, união entre os dois segmentos têm garantido vantagens aos negócios e novo serviços aos clientes

Números que se complementam:

45 milhões de brasileiros são desbancarizados
27 milhões dos sem acesso a serviços bancários (o equivalente a 60%) têm acesso a telefones com internet
R$ 817 bilhões são movimentados por ano pelos desbancarizados no Brasil
O País tem pelo menos 234 milhões de telefones ativos
As principais operadoras do País atendem a um universo de 180 milhões de clientes

A fintech pernambucana, inclusive, tem propostas de duas operadoras para atuação em conjunto. “Estamos em conversa com duas delas (operadoras). Há dois caminhos, que um é se regulamentar para construir um banco, se não quiser fazer parceria direta com alguma empresa financeira, o que leva a operadora a fazer o serviço por conta própria. Mas tem a questão do know-how e de todo o custo, então um segundo caminho, mais fácil estar se juntando com alguma empresa que tenha o serviço financeiro como finalidade. Esse último me parece o caminho buscado pelas operadoras no Brasil, mantendo como principal o produto de telefonia e agregando receita sem necessariamente mudar de mercado”, complementa o CEO.

Das quatro principais operadoras do País (Claro, Oi, Tim e Vivo) todas já estão com projetos na rua ou pelo menos já deram o start em negociações com fintechs para a oferta de serviços financeiros em seus pacotes de telefonia e internet.

A Oi e a fintech Conta Zap estão firmando uma parceria para o desenvolvimento de um serviço de conta digital. A Claro já lançou o SmartCred, serviço de crédito pessoal de R$ 1,5 mil a R$ 10 mil, com taxas a partir de 2,85% ao mês e parcelamento em até três anos para clientes dos planos pós-pago e controle, em parceria com o banco mexicano Inbursa.
No mesmo esquema de parcerias, a Vivo lança um serviço de empréstimos a partir desta segunda-feira (19). O Vivo Money chega para clientes controle e pós da Vivo após uma fase piloto iniciada desde 2019.

“O Vivo Money é o primeiro passo da Vivo na área de serviços financeiros, que consideramos estratégica para reforçar o nosso posicionamento de hub de serviços digitais, oferecendo aos nossos clientes serviços em diferentes áreas, além de telecomunicações. o piloto trouxe resultados muito positivos em relação à aderência da marca Vivo para a oferta de serviços financeiros. À primeira vista, os clientes ficaram surpresos positivamente com a oferta de um serviço de crédito pessoal pela Vivo, pois estamos levando o serviço a lugares onde não há oferta de crédito, seja por canais digitais ou físicos”, diz o direto do Vivo Money, Sandro Sinhorigno.

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Sandro Sinhorigno, diretor de Vivo Money - Divulgação

Para oferecer o crédito, a tele atua em parceria com o Banco QI Sociedade de Crédito Direto S.A. O serviço, no entanto é o primeiro ecossistema dentro de uma empresa de telecomunicação onde o controle é 100% da companhia. O dinheiro para os empréstimos é da própria Vivo (mono cotista no fundig) mas a empresa não abre o investimento.

“Tudo é feito diretamente pelo site. O cliente indica o valor do crédito que deseja obter e a quantidade de parcelas para pagamento, além de enviar um documento de identificação (RG ou CNH), uma selfie e um comprovante de residência (se o endereço indicado por ele for diferente do que está cadastrado na Vivo), para análise de perfil de crédito. Esta análise é online e pode levar somente alguns minutos, e pelo próprio site e por SMS o cliente é informado sobre a aprovação”, detalha Sinhorigno.

As taxas vão de 1,99% a 9,99% ao mês, para empréstimos de até R$ 30 mil, com prazo de pagamento em até 24 meses. A estimativa é ter cerca de 10 milhões de clientes pessoa física elegíveis à tomada de crédito.

Já no caso da TIM, a opção foi virar sócia do C6 Bank. À medida que a operadora vai engordando a carteira de clientes do C6, a teleco vai ganhando em participação acionária. “No primeiro mês de parceria foram mais de 200 mil clientes novos no banco. Temos possibilidade de rentabilizar para as duas partes com essa sinergia entre telefonia e serviços financeiros. E no nosso caso temos um produto mais forte, com benefícios exclusivos”, afirma o diretor comercial Norte e Nordeste da TIM, Fábio Reis.

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Diretor Comercial Norte e Nordeste da Tim, Fábio Reis - Divulgação

Em conjunto com o C6 Bank, a Tim direciona os clientes para pagamentos de boletos e demais serviços no banco, com a abertura de conta, ganham adicionais de internet nos pacotes de telefonia, cartão de crédito sem anuidade, CDB com taxas diferenciadas e transferências entre contas C6 Bank utilizando o número de telefone TIM.

“Estamos estudando os próximos passos, mas estamos atentos a toda a conjuntura de serviços que essa parceria pode nos oferecer”, complementa Reis. A operadora tem hoje no Nordeste 25,1% do market share e 31% em Pernambuco, o que equivale a, respectivamente, 11,6 milhões e 2,5 milhões de clientes.

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Diretor Comercial Norte e Nordeste da Tim, Fábio Reis - FOTO:Divulgação
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Sandro Sinhorigno, diretor de Vivo Money - FOTO:Divulgação

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