A alta do dólar e a queda no consumo - provocada pela pandemia do coronavírus - estão desenhando um cenário de redução da produção para os produtores de ovos em Pernambuco. A valorização da moeda norte-americana aumentou o preço de insumos, como o farelo de soja, o milho e outros nutrientes ofertados aos animais, como aminoácidos e vitaminas. Os dois últimos são importados.
Para o setor, os custos de produção aumentaram cerca de 40% este ano e a remuneração do produtor caiu em até 30% entre março e outubro, segundo informações da Associação Avícola de Pernambuco (Avipe). "Estamos pedindo para cada um dos produtores fazer uma cota de sacrifício e reduzir a sua produção em 20% até o consumo voltar ao normal", diz o presidente da Avipe, Giuliano Malta. O contraste é que isso ocorre com um dos setores mais vigorosos do Estado.
A alta no preço da soja e do milho ocorreram porque os grandes agricultores do País exportaram mais, a oferta interna ficou menor e o preço subiu. Na argumentação de Giuliano, dentro de 30 dias o setor pode começar a reduzir as vagas de trabalho, caso persistam os fatores que estão provocando a atual crise. "Uma parte do mercado interno perdeu poder de compra. E a produção de ovo é destinada a este público", comenta. Segundoa Avipe, o consumo de ovos recuou 10% entre abril e outubro.
Em Pernambuco, são aproximadamente 100 granjas produtoras de ovos, que empregam cerca de 30 mil pessoas e produzem 12 milhões de ovos diariamente. Para o leitor ter uma ideia do crescimento do setor, há três anos, eram produzidos 10 milhões de ovos por dia no Estado.
"A avicultura de postura se organiza dois anos antes. No começo da pandemia, houve um acréscimo do consumo. Depois, ocorreu uma acomodação. O produtor está pagando sozinho uma conta difícil de carregar", resume o vice-presidente da Avipe, Josimário Florêncio, sócio da empresa Ovo Novo, que produz 400 mil unidades por dia e emprega 250 pessoas em Caruaru.
A Ovo Novo pretende reduzir em 20% a quantidade de animais na granja. "Geralmente, uma galinha vive 100 semanas. Os custos subiram tanto que alguns produtores vão preferir vender as galinhas para o descarte do que continuar com a mesma quantidade de animais", revela Josimário. Até agora, a empresa não demitiu.
A aposta dos produtores é de que a diminuição da oferta de ovo, aumente o preço do produto. Ou seja, mais uma vez quem vai pagar a é o consumidor. Os produtores também criticam o fato do governo federal não ter mais estoques estratégicos de soja. A finalidade desses estoques era baixar o preço, quando ocorria um momento em que ocorria alta dos grãos para o consumo interno.
O diretor comercial da Mauricea, Marcondes Farias Filho, enfatiza que a atual crise ocorre pela falta de matéria-prima. A empresa já reduziu a produção de ovos e de frangos, respectivamente, em 5% e 15%, durante os meses mais agudos da pandemia (de abril a agosto) porque houve diminuição da mão de obra. "Estamos planejando em reduzir mais 10% a produção de ovos por causa do atual cenário de aumento de custos e queda no preço do produto que ficou em torno de 20%", resume Marcondes.
A parte de ovos da Mauricea tem a marca Da Gema e atualmente produz 450 mil ovos por dia.
Por enquanto, a Mauricea não vai demitir no setor de produção de ovos. "A nossa intenção é reduzir as horas trabalhadas, enxugar os custos com as horas extras. Caso não melhore, pode ter desligamentos", conta Marcondes. Cerca de 300 funcionários trabalham no setor de produção de ovos na empresa, que tem um total de 3,3 mil funcionários e 14 unidades fabris, sendo três em Pernambuco, três na Paraíba e nove na Bahia.