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Veja dicas de como ter o currículo certo para a vaga certa

Há modelo ideal de currículo? Segundo especialistas da área de recrutamento e seleção, a resposta é direita: não

Marcelo Aprígio
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Marcelo Aprígio
Publicado em 06/11/2020 às 16:39
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A Heach Recursos Humanos, empresa especializada em recrutamento e seleção de profissionais, divulgou uma pesquisa sobre as mentiras que os profissionais contam em seus currículos e mostrou que, em um universo de 750 currículos avaliados, 61% tinham alguma inconsistência em suas informações - FOTO: MARCELO APRÍGIO/JC
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Quase todo mundo já teve que apresentar um currículo para se candidatar a uma vaga de emprego ou estágio. Em síntese, esse documento tem o objetivo de mostrar para o empregador as aptidões, as experiências e os objetivos dos profissionais. Porém, é comum que as informações de um currículo tradicional sejam capazes de representar apenas uma parte de quem este candidato é, de forma limitada. É a partir daí que surge o questionamento se há modelo ideal de currículo. Segundo especialistas da área de recrutamento e seleção, a resposta é direita: não.

Na avaliação de Lauro Buarque, diretor da Consult Human, empresa especializada em consultoria e recrutamento, não basta ter só um, tem de adaptá-lo a cada vaga. “Não existe uma regra, certo ou errado. Na verdade, o currículo nada mais é do que um retrato da sua história: fala sobre presente, passado e futuro. Ele precisa construir uma narrativa. Para cada festa, um traje”, afirma ele.

Para se diferenciar da multidão e obter essa personalização do currículo, os estudantes precisam, primeiro, saber quem realmente são. “O estudante precisa se colocar em uma posição em que seja possível olhar para dentro e entender quais são os elementos críticos que diferenciam o perfil dele, para que, então, esse perfil possa ser comunicado para as pessoas”, destaca a diretora de pesquisa e aprendizagem da Workalove, Elziane Bouzada.

De acordo com um levantamento realizado pela Catho com mais de 400 recrutadores, 30% deles demoram em média de 6 a 10 segundos para descartar um currículo para uma entrevista, enquanto outros 27% levam de 11 a 29 segundos. Só 17% deles demoram entre 30 e 59 segundos para descartar ou não o texto, e apenas 21% levam mais de 1 minuto.

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CURRÍCULO Lauro Buarque, diretor da Consult Human - ACERVO PESSOAL

Por isso, o foco deve ser construir uma narrativa assertiva para aquela vaga. Lauro Buarque explica que para cada processo existe uma demanda e que, por isso, recomenda que os candidatos tenham dois currículos à mão, um no modelo tradicional e outro num modelo mais contemporâneo, com conteúdo que pode ser customizado. “É sobre se conectar com o seu interlocutor. Em algumas empresas mais disruptivas, pode não pegar bem o currículo tradicional. Não é que pega mal, mas fica no ‘normal’”, explica Buarque.

Em geral, o que diferencia os dois modelos é o layout. O formato tradicional é caracterizado por uma folha corrida, é feito em programas como Word, em apenas uma coluna. Não possui foto nem cores. Já o formato mais contemporâneo, que pode ser feito em sites ou programas de design, é diagramado com uma ou duas colunas, possui cores e até mesmo estampas e ilustrações.

Para Luana Cepellos, especialista em gestão de pessoas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o currículo tradicional continua funcionando e sendo um padrão no mercado, minimizando o risco de erro. “Eu ainda acredito que ter um currículo padrão é mais seguro, mas não necessariamente é o mais certo. O mundo online permite que você crie.”

Cepellos acredita que falar sobre currículo é falar sobre a identidade pessoal de cada um. “Hoje em dia, principalmente com a pandemia, a nossa marca pessoal ficou muito forte.”

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CURRÍCULO Luana Cepellos, especialista em gestão de pessoas pela Fundação Getulio Vargas (FGV) - ACERVO PESSOAL

A especialista também pondera que não existe um formato ideal. “O que se aplica, tanto para o formato tradicional quanto para o formato mais inovador, é ter informações claras. Os layouts mais inovadores não são necessariamente um diferencial no processo.”

Como forma de explicar a importância do conteúdo, Luana dá o exemplo do LinkedIn. “O perfil no LinkedIn hoje é essencial. Ele é uma ferramenta voltada para a colocação de todos os níveis e lá você se preocupa mais com o conteúdo.”

Contudo, existem áreas que tendem ao modelo mais moderno, é o que afirma Patricia Suzuki, diretora de gente e gestão da Catho. “O melhor formato tem a ver com a área de atuação. Por exemplo: áreas da comunicação tendem aos modelos mais modernos, enquanto áreas formais, como direito, ainda possuem currículos mais tradicionais”, afirma Suzuki. Para ela, o currículo tem que representar o candidato e a área em que ele está direcionado.

Além disso, mais do que representar o candidato e sua área, a construção do currículo deve dialogar com a empresa para a qual o profissional está se aplicando, afirma Carolina Utimura, CEO da Eureca, consultoria especializada em comportamento jovem e na conexão deste público com o mercado de trabalho.

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CURRÍCULO Carolina Utimura, CEO da Eureca - DIVULGAÇÃO

“Quando observo a questão sobre como se apresentar para a organização, é ideal estudar sobre a empresa. Ter uma boa leitura para onde você quer ir é uma lição de casa importante”, explica. “Assim, ao tentar uma vaga como gestor de UX (experiência do usuário) numa empresa de tecnologia, por exemplo, não é necessário destacar no currículo um curso técnico de fotografia que fez anos atrás”, completa.

CANDIDATOS E CURRÍCULOS DIFERENTES

Exatamente por ser um retrato pessoal das experiências profissionais de cada um, candidatos da mesma àrea possuem diferentes visões sobre o melhor modelo de currículo. É o caso de Giovanna Bertasi e de Rodrigo Souza, ambos formados em Publicidade e Propaganda.

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CURRÍCULO Júlia Linhares, 22, estagiária de Publicidade - ACERVO PESSOAL

“O currículo, na maioria das vezes, acaba sendo o primeiro ponto de contato com a empresa. É nossa primeira venda de nós mesmos, nos apresentando para uma vaga por meio de um papel ou arquivo”, diz Júlia Linhares, 22 anos.

Ela conta que optou pelo moderno mais moderno por acreditar que de certa forma ele ia se destacar em relação aos outros. “Tem mais cor, um layout diferente e deixa a visualização das informações específicas de maneira mais fácil”, aponta.

Júlia acredita que, por ser da área da comunicação, poderia ficar para trás se optasse pelo formato tradicional. Segundo ela, as empresas exigem que as “pessoas de comunicação sejam antenadas, adeptas a mudança, mais modernas mesmo”.

Em contrapartida, Paulo Gastal, 24, conta que tinha o currículo moderno que havia feito em um avançado programa de ilustração. “Ao longo do tempo e das minhas entrevistas, eu ia mudando, mesmo sem fazer um curso novo. Eu lia as dicas e ia ajustando.”

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CURRÍCULO Paulo Gastal, 24, publicitário - ACERVO PESSOAL

Ele diz que estava em grupo de trainees e decidiu pedir dicas de como melhorar o currículo lá. “Mandei meu currículo e falaram que valeria a pena apostar em um modelo menos moderno. Outras duas pessoas enviaram um modelo tradicional, quadradão, e eu resolvi mudar pra esse formato [mais tradicional]. E surtiu efeito.”

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O que se aplica, tanto para o formato tradicional quanto para o formato mais inovador, é ter clareza", avalia Luana Cepellos - FOTO:ACERVO PESSOAL
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CURRÍCULO Carolina Utimura, CEO da Eureca - FOTO:DIVULGAÇÃO
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CURRÍCULO Paulo Gastal, 24, publicitário - FOTO:ACERVO PESSOAL
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CURRÍCULO Júlia Linhares, 22, estagiária de Publicidade - FOTO:ACERVO PESSOAL
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O currículo nada mais é do que um retrato da sua história: fala sobre presente, passado e futuro. Precisa de narrativa", diz Lauro Buarque - FOTO:ACERVO PESSOAL

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