Suspensão do Carnaval atinge vários setores econômicos de Pernambuco

Enquanto a vacina não chega, suspender a festa foi a alternativa do governo do Estado para evitar escalada de contaminação
Adriana Guarda
Publicado em 23/12/2020 às 0:00
Emoção de ver o Galo da Madrugada sendo montado na Ponte Duarte Coelho não será sentida Foto: ARNALDO CARVALHO/ACERVO JC IMAGEM


Um ano sem Carnaval. Quem imaginaria que, um dia, Pernambuco deixaria de realizar sua maior festa popular? No Recife é difícil acreditar que o Galo da Madrugada não será erguido na Ponte Duarte Coelho, sob os olhares de foliões e curiosos, para seu majestoso desfile no sábado de Zé Pereira. Em Olinda, o Homem da Meia-Noite vai trocar o cortejo pelas ladeiras da Cidade Alta por uma live. Não se discute a decisão do governo do Estado de suspender o Carnaval 2021, em função da escalada dos casos no final de 2020, mas esse será mais um golpe da pandemia sobre a atividade econômica. A Folia de Momo movimenta várias cadeias produtivas, gerando emprego e renda. 

A suspensão da festa terá impacto arrasador sobre economia criativa (cantores, músicos, artistas plásticos, fotógrafos), turismo, informais, empresas e muitos outros. De acordo com a Secretaria de Turismo de Pernambuco (Setur-PE), o Carnaval 2020 movimentou R$ 2,3 bilhões na economia do Estado, superando em 17% o do ano anterior. Para efeito de comparação, o valor é equivalente a quase dois meses de arrecadação estadual de ICMS. 

"Sabemos do prejuízo por causa da suspensão do Carnaval, mas a nossa expectativa é que as pessoas não deixem de viajar para os litorais Norte, Sul e Interior, que terão uma boa ocupação hoteleira. A vacinação será o X da questão para que aconteça o resgate cultural após a vacina. Este ano não ocorreram os eventos turísticos ligados à Semana Santa e às Festas Juninas", observa o secretário de Turismo, Rodrigo Novaes. 

Existem tentativas de amortizar o impacto da suspensão, mas nada que se aproxime do gigantismo do Carnaval. Durante o balanço da festa deste ano, a Prefeitura do Recife informou que durante os cinco dias oficiais do evento, o público na cidade foi de 2,6 milhões de pessoas, superando em 400 mil o número de 2019.  

Ao todo, a festa teve 3.252 apresentações de artistas, orquestras, blocos e agremiações, nos 46 polos de folia, centralizados e descentralizados. No palco principal da festa, o Polo do Marco Zero, passaram cerca de 300 mil pessoas por noite, segundo dados da prefeitura.

“Foi o maior carnaval da história em quantidade de pessoas, em apresentações e em quantidade de blocos nas ruas. O destaque é que ficou muito visível a força da cultura da cidade. As pessoas e os artistas estavam muito felizes. E essa é a marca que fica do carnaval do Recife neste ano: um carnaval da cultura, da alegria e da paz. Quero agradecer a todo mundo que participou”, disse o prefeito, Geraldo Julio.

No turismo, a ocupação hoteleira média ficou em 96%, mas muitos estabelecimentos alcançaram 100%. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (ABIH-PE), o gasto médio do turista foi de R$ 265,60 por dia, a maior parte destinado ao consumo de bebidas ou comidas. 

Entre os dias 20 e 26 de fevereiro, o Terminal Integrado de Passageiros (TIP) registrou a circulação de 50 mil pessoas, segundo a Empresa Pernambucana de Transporte Integrado (EPTI). O número representa um aumento de 11% em relação ao ano passado. Já o Aeroporto Internacional do Recife registrou mais de 226 mil passageiros, entre os dias 17 e 25 de fevereiro. Além disso, foram realizados 100 voos extras para o período do Carnaval. 

CERVEJARIAS 

Há anos, as cervejarias assumiram a maior parte do patrocínio da Folia de Momo em Pernambuco e em várias cidades do País. De acordo com dados do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), o Carnaval responde por 10% do consumo do ano inteiro. É equivalente a um mês a mais de vendas de cerveja ao longo do ano. O calor da festa resulta no consumo de 1,5 bilhão de litros da bebida no período, daí é possível imaginar o prejuízo das empresas. 

Patrocinadora do Carnaval do Recife há mais de 10 anos, a Ambev não estima o valor do prejuízo. De acordo com a Secretaria de Turismo da Cidade, a Prefeitura tem um contrato bianual com a companhia, sendo R$ 12 milhões para 2020 e R$ 12 milhões para 2021, com correção pela inflação anual. Pelos valores dos patrocínios é possível imaginar a importância da festa para as cervejarias. 

"O cenário é duro e difícil para todos, com a realização de grandes eventos ainda distante tendo em vista o cronograma de vacinação que está se desenhando e os casos de Covid-19 voltando a crescer. Estamos em contato com as autoridades, agremiações, setor privado, consumidor - todos os atores que fazem o carnaval acontecer – para avaliar se trabalhamos com um cenário a médio ou longo prazo para a realização do Carnaval, mas entendemos e acreditamos que a prioridade deve ser a saúde das pessoas", diz a diretoria da Ambev, por meio de nota. 

Se não consegue bater a Ambev no patrocínio principal das festas, o Grupo Heineken mantém posição no Carnaval, patrocinando blocos e agremiações. Em 2020, a companhia seguiu com uma estratégia regional de investimento no período momesco, de acordo com o posicionamento das marcas. Sem festa em 2021, a companhia ressalta a importância do período momesco para o setor.

"O Carnaval é, sem dúvida, um grande momento no calendário da indústria cervejeira. No Grupo Heineken, marcas como Amstel e Devassa protagonizam grandes ações durante o período, em diferentes regiões do país. No entanto, a companhia entende que 2021 ainda será um ano desafiador, por conta da pandemia do covid-19 e manterá a preocupação de colocar a segurança das pessoas em primeiro lugar. Por este motivo, para celebrar a maior festa popular do País, o Grupo Heineken está buscando olhar por uma nova direção e formato de festejar, com o objetivo de inovar na comunicação com os consumidores e oferecer a experiência das marcas com base em uma nova realidade, proporcionando momentos únicos", afirma.  

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