Junto com as preocupações com a saúde, a pandemia da covid-19 trouxe um momento de grande incerteza para os negócios, fazendo de 2020 um ano com dificuldades suficientes para uma década inteira. Isso fez com que os profissionais autônomos e as pequenas empresas fossem os mais afetados. O isolamento social e o medo do contágio pelo coronavírus modificaram as formas de consumo e de venda.
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Estabelecimentos foram fechados, a receita caiu abruptamente e funcionários perderam seus empregos. Para tentar sobreviver à crise, os empreendedores foram atrás de microcrédito, principalmente do programa de financiamento do governo, o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), e enfrentaram muitas dificuldades.
“A massa das pequenas empresas sofreu muito com a pandemia. A restrição do movimento de pessoas afetou fortemente os negócios. A menor disponibilidade de renda do consumidor também afetou a propensão ao consumo. Portanto, para a maior parte das pequenas empresas o ano de 2020 foi muito ruim”, diz o economista e professor da Unicap, José Alexandre Ferreira.
Diante do momento difícil, um movimento de acolhimento se formou. Consumidores e empreendedores se uniram em campanhas nas redes sociais para estimular o apoio aos pequenos negócios. Esse movimento acabou sendo captado pelo Google, que viu a busca pelo termo “ajudar pequenas empresas” dobrar em 2020 globalmente em relação a 2019.
Para a diretora técnica do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Pernambuco (Sebrae-PE), Adriana Côrte Real, há uma tendência de que esse apoio aos negócios locais continue se fortalecendo em 2021, mesmo após o fim da pandemia. “Quando analisamos a situação, vemos que as pessoas entenderam a importância do comércio local e tendem a continuar incentivando os pequenos também no pós-pandemia”, afirma ela, ressaltando que há várias maneiras de ajudar as pequenas empresas, mas a mais importante delas é adicionar - e principalmente manter - os itens de produtores ou lojas locais na lista de compras.
“Compre alimentos no mercadinho do seu bairro. Seguindo os protocolos para evitar a contaminação pela covid-19, vá com sua família a lanchonetes e restaurantes próximos da sua casa. Enfim, fomente o negócio local”, pede Adriana, explicando que o mesmo vale para outros produtos além de alimentos, como roupas e itens de decoração.
Segundo Gabriel Farias, 33 anos, dono de uma barbearia no bairro do Ibura, na Zona Sul do Recife, o número de clientes aumentou consideravelmente desde quando passou a oferecer descontos aos sábados e para quem indicasse novos clientes. Feliz com a alta no movimento, ele diz que a ação não traz apenas novos clientes, mas importância para o setor.
“Os vizinhos acabaram valorizando mais o que fazemos e entenderam a nossa importância para a economia brasileira, ao assimilar que o mercado não é composto apenas de grandes empresas”, diz o jovem, que depois do apoio recebido pelos vizinhos do seu negócio, já enfrenta filas para atender aos fins de semana.
Economia aquecida e mais empregos
Há bons motivos para que a população concentre seu consumo nos pequenos negócios. O primeiro deles é a proximidade de casa ou do trabalho, o que evita perda de tempo com deslocamentos. Como consequência, o dinheiro fica no bairro e pode ser reinvestido em melhores instalações.
“Por estarem disseminados pelo Brasil, os pequenos negócios fortalecem a economia nacional e beneficiam toda a sociedade, já que podem se adaptar mais rapidamente a mudanças de rumo, principalmente em tempos de crise”, pontua Adriana Côrte Real, do Sebrae-PE.
Outro argumento está na geração de empregos, como lembra o economista José Alexandre Ferreira: “Valorize e compre do pequeno, porque assim você vai estar ajudando a economia da região. Vai estar gerando renda, que vai movimentar o comércio da cidade e gerar mais empregos. É muito comum que os jovens consigam seu primeiro emprego em estabelecimentos pequenos”.
A afirmação do economista está fundamentada em dados do Sebrae, que mostra que os mais de cinco milhões de pequenos negócios são responsáveis por aproximadamente 55% dos empregos formais no Brasil, além de representarem 44% da massa salarial do país.
Uma das beneficiadas pelo emprego em um pequeno estabelecimento foi Gabriela Cruz, 27 anos. Ela começou a trabalhar em meio à pandemia em um salão de beleza próximo à sua casa, no bairro do Prado, Zona Oeste do Recife. “Com mais gente buscando os serviços do salão, a dona precisou de ajuda para continuar atendendo todo mundo e abriu a vaga que hoje eu trabalho”, diz a jovem. “Eu espero que esse sentimento de ajudar os pequenos tenha futuro, porque muitas pessoas são beneficiadas por isso”, completa ela.
“Os comércios de bairro, as pequenas empresas, os MEIs, tudo isso representa o Brasil real, que continua gerando emprego e renda, mas precisa da ajuda das comunidades onde estão inseridos para continuar apostando na retomada da economia”, afirma José Alexandre Ferreira.
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