CUSTO DE VIDA

Junho chegou e será o vilão na sua conta de luz. Entenda por que você vai pagar mais caro

Os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste estão com pouca água por causa de uma estiagem que está sendo a pior dos últimos 91 anos

Angela Fernanda Belfort
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Angela Fernanda Belfort
Publicado em 31/05/2021 às 18:58
MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL
GERAÇÃO Bandeira vermelha 2 é o mais alto patamar de taxa extra a ser cobrada aos consumidores brasileiros - FOTO: MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL
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O mês de junho chegou e a conta de energia vai ficar mais cara. Será cobrado R$ 6,24 a mais por cada 100 quilowatt-hora consumido. E a expectativa é de que continue assim pelos próximos meses. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu cobrar a bandeira vermelha 2 deixando a energia mais cara para todos os consumidores do País. Isso ocorre quando a geração deste bem fica mais cara, como o que está ocorrendo agora devido à falta de chuvas nos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste-Centro-Oeste responsáveis por mais de 70% da energia hidrelétrica gerada no Brasil. Os reservatórios do Centro-Oeste/Sudeste estão com 32,18% da sua capacidade de armazamento. É a pior seca para aquela região dos últimos 91 anos.

 >> Governo emite alerta de risco hídrico por causa das poucas chuvas no Sudeste/Centro-Oeste

A conta de luz dos brasileiros pode receber bandeiras que vão desde a verde, amarela, vermelha 1 e, por último, vermelha 2. A verde é aplicada quando as condições de geração estão normais e não implica em nenhuma cobrança a mais. Depois, vem a amarela e a vermelha. Neste mês de maio, foi cobrado a bandeira vermelha 1 que já acrescentou R$ 4,17 por cada 100 kWh consumido. A atual cobrança a mais não tem nada a ver com o reajuste da Companhia Energética de Pernambuco (Celpe) que entrou em vigor no último dia 29 de abril. O reajuste das distribuidoras ocorre uma vez por ano. 

A expectativa é de que seja cobrada a bandeira vermelha nos próximos meses, porque o período chuvoso dos reservatório das hidrelétricas do Centro-Oeste/Sudeste só deve começar em outubro. Com a pouca quantidade de água nos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste, o governo federal vai mandar as térmicas produzirem mais energia - que custa mais cara porque elas usam o gás natural ou o diesel como combustível - enquanto as hidrelétricas produzem a partir da água. Os brasileiros já estão pagando mais R$ 8,7 bilhões na conta de energia, segundo um estudo do Instituto Brasileiro do Consumidor (Idec) devido a 33 térmicas que começaram a fabricar energia por causa da atual estiagem. 

Caso a cobrança da bandeira vermelha não seja suficiente para pagar as térmicas, o reajuste da conta de energia de todos os consumidores brasileiros deve ser mais alto em 2022 pra pagar a energia produzida pelas térmicas. Na última grande estiagem em 2012, os gastos a mais com as térmicas impactaram o reajuste da conta de energia de todos os brasileiros por dois ou três anos. Ainda está sendo apreciado pelo Senado, a privatização da Eletrobrás que pode trazer um custo a mais de R$ 24 bilhões ao ano para serem bancados pelo consumidores brasileiros, caso o atual projeto de lei seja aprovado e sancionado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). 

RACIONAMENTO

Até agora, não existe risco de racionamento de energia, segundo o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires. Ele argumenta que o que pode acontecer são apagões pontuais na hora de pico, entre às 17 horas e 20 horas, quando ocorre o maior consumo de energia elétrica no País. Alguns especialistas estão defendendo que o governo federal deveria convencer alguns grandes clientes de energia a não consumirem neste horário para evitar os apagões.

As hidrelétricas são responsáveis por mais de 60% da energia consumida no País. O último racionamento que ocorreu no País foi em 2001, quando as empresas tiveram que parar por falta de energia. Vinte anos depois a estiagem (na mesma região) provoca um cenário parecido. Na época, a estiagem também atingiu a bacia do São Francisco. Agora, os reservatórios do Nordeste (que são praticamente os do Velho Chico) estão com 63,58% de armazenamento. Não é igual a 2001 porque hoje o País tem mais térmicas, um parque eólico que produz, em média, cerca de 10% do consumo do País, entre outros tipos de geração.

COMO ECONOMIZAR

O único jeito de tentar diminuir a conta de energia é economizar. "Em Pernambuco, temos cerca de 9 mil clientes que não nos procuraram para solicitar a tarifa social de energia elétrica. Essas pessoas podem ter um desconto de até 65% na conta de luz, dependendo da quantidade de energia consumida", explica o superintendente comercial da Celpe, Leonardo Moura. Para ter direito a tarifa social, o cidadão tem que estar inscrito num programa do governo federal - como por exemplo o bolsa família -, ter renda per capita de meio salário mínimo e estar cadastrado junto ao CRAS do seu município.

Para economizar, a primeira dica dada por Leonardo começa na hora de escolher os eletrodomésticos. "É importante comprar aqueles equipamentos que tem o selo A do Procel porque consomem menos energia", conta. Ele também aconselha a limpar os ventiladores e os filtros do aparelho de ar-condicionado que forçam o equipamento a gastar mais energia, quando estão sujos. "Escolha uma temperatura agradável em torno de 23 graus", diz.

Aquelas luzinhas pequenas da TV e de outros equipamentos que ficam stand by também consomem energia. "É melhor desligar da tomada", sugere Leonardo. "A máquina de lavar roupa deve ser usada com a carga máxima, porque esta é a situação que ela é mais eficiente", comenta. Ou seja, é melhor juntar muita roupa e colocar pra lavar de uma vez só. O mesmo vale para o ferro de passar, também sendo melhor, passar todas as roupas de uma vez só. "A pessoa pode até tirar o ferro da tomada e, passar por último, aquelas peças que não precisam de um ferro tão quente", revela.

E, por último, ele diz que o consumidor tem que ficar de olho na geladeira. "Coloque uma folha de papel na porta, se a folha se mexer com facilidade está na hora de ver se a borracha de vedação do equipamento está adequada", explica. Quando a borracha não está funcionando direito, a geladeira aciona o compressor do equipamento, que passa a precisar de mais energia para fazer o resfriamento e tudo isso impacta na conta. Um refrigerador ineficiente (e antigo) chega a ser responsável por até 70% do consumo de energia numa família de baixa renda.

Brasileiro pode estar pagando R$ 8,7 bi a mais por energia de térmicas, diz Idec

Estudo aponta que usinas térmicas podem não estar entregando os volumes de energia contratados

Brasileiro pode estar pagando R$ 8,7 bi a mais por energia de térmicas, diz Idec
Estudo do Instituto Brasileiro do Consumidor (Idec) aponta que o brasileiro pode estar pagando R$ 8,7 bilhões pela energia de usinas térmicas, que não estão entregando os volumes de energia contratados. O Idec identificou 33 usinas nessa situação, ou cerca de 6,5 mil megawatts.
Dentro deste grupo, segundo o instituto, existem térmicas a carvão mineral, óleo diesel, óleo combustível e gás natural.
"Os casos mais graves são os da Termorio, UTE Mauá 3 e Candiota 3, cujas receitas fixas anuais são de R$ 1,2 bilhão, R$ 1,06 bilhão, e R$ 734,5 milhões, respectivamente", explica o Idec, que realizou o estudo em parceria com o Instituto Clima e Sociedade e o apoio da consultoria Volt Robotics.
Mesmo sem operar, as térmicas garantem uma remuneração fixa, cujo custo é repassado aos consumidores via tarifa de energia (conta de luz). Somente após três anos consecutivos indisponíveis é possível rescindir o contrato entre distribuidoras e usinas geradoras.
A indisponibilidade de algumas usinas térmicas do País também é uma preocupação da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que fez um levantamento apontando que entre janeiro a março, de 2.500 a 4.500 megawatts de geração térmica ficaram fora do Sistema Interligado Nacional (SIN), seja por falta de combustível ou linhas de transmissão para escoar a energia, ou pela idade das unidades.
A EPE sugere que as penalidades para essa falta de disponibilidade de operação sejam elevadas, como forma de inibir a situação.
"Nós temos um parque térmico que aparentemente é suficiente, mas na prática tem uma parte que não tem condições de operar regularmente", disse em recente entrevista ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Adilson de Oliveira, especialista em energia.
O resultado do estudo foi encaminhado à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
 

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