EMPREGO

PIB, recessão e mercado de trabalho: entenda por que esses conceitos estão relacionados e como impactam sua vida

Segundo analistas, a fragilidade da economia coloca em xeque a incipiente melhora dos níveis de emprego no Brasil

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Marcelo Aprígio

Publicado em 05/12/2021 às 8:00
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Em um cenário de menos restrições a atividades econômicas, a taxa de desemprego no Brasil recuou para 12,6% no terceiro trimestre de 2021. O indicador estava em 14,2% no segundo trimestre deste ano e em 14,9% em igual período de 2020. Os dados foram divulgados na última terça-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Mesmo com a trégua na taxa, o Brasil ainda registrou 13,5 milhões de desempregados entre os últimos meses de julho e setembro. Os resultados integram a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

Pelas estatísticas oficiais, uma pessoa está desempregada quando não tem trabalho e segue à procura de novas oportunidades profissionais. O levantamento considera tanto trabalhadores formais quanto informais.

Os números que pareciam iniciar uma retomada, porém, tendem a ser impactados negativamente pelo resultado do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, divulgado na quinta-feira (2) também pelo IBGE. Isso porque o indicador recuou 0,1% no 3º trimestre de 2021, na comparação com o segundo trimestre. Assim, o país entrou na chamada recessão técnica, termo que define dois trimestres consecutivos de queda na atividade, mostrando que o caminho para a recuperação econômica será bem mais lento que o esperado.

Pleno emprego distante

Segundo analistas, a fragilidade da economia coloca em xeque a incipiente melhora do mercado de trabalho. Se o PIB não voltar a crescer, o cenário que se desenha é aquele no qual o Brasil corre o risco de amargar uma década com desemprego alto, voltando ao chamado pleno emprego só a partir de 2026. A conclusão é de uma análise do economista Bráulio Borges, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).

Pelos cálculos do economista, o chamado pleno emprego no Brasil considera que a taxa de desemprego deveria estar entre 8% e 10%. Esse ponto de equilíbrio, em que os salários reais crescem em linha com a produtividade, só deve ser alcançado a partir de 2026, quando a taxa de desocupação cairia para 10,1%.

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Economista Bráulio Borges, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) - DIVULGAÇÃO/CNT

"Para voltarmos ao pleno emprego em 2026, o PIB teria de crescer a 2,2% de 2022 em diante, na média. Mas já sabemos que o Brasil não vai crescer nem perto disso no ano que vem, e as expectativas se reduzem a cada semana, por conta do aperto de juros, dólar alto, ruído político e a incerteza em relação à próxima eleição", diz Borges.

Borges afirma que o Brasil ter uma década inteira de desemprego alto não é aceitável. "Dez anos com uma economia abaixo do pleno emprego leva ao aumento do empobrecimento e da precarização, o que vem ocorrendo desde antes da pandemia."

Ele ressalta que quando o mercado de trabalho fica tanto tempo em desequilíbrio, a tendência é que se comece a forçar para cima o limite do pleno emprego, e o país se acostume a conviver com desemprego cada vez mais alto. "Com o tempo, a gente vê os mais qualificados fugindo do país, pela falta de oportunidades melhores; na base, parte do capital humano também é prejudicada pela falta de experiência no mercado de trabalho."

Na mesma linha, o economista e professor do UniFBV Paulo Alencar, aponta que, infelizmente, a volta ao pleno emprego ainda está distante. "Não só o quadro é dramático do ponto de vista do desemprego e da precarização, mas a economia não tem musculatura para sair dessa crise desde 2015, com uma dinâmica muito abaixo do potencial. A pandemia só serviu para agravar esse contexto regressivo."

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Tiago Monteiro, economista e diretor do Cedepe Business School - DIVULGAÇÃO/CEDEPE BUSINESS SCHOOL

O economista Tiago Monteiro, diretor executivo do Cedepe Business School e consultor econômico-financeiro, concorda que a volta de um crescimento econômico sustentado será o fator decisivo para a recuperação do mercado de trabalho nos próximos anos. Este ano, a volta do emprego se dá com o mercado formal em um ritmo de geração de vagas abaixo do necessário para reverter os efeitos da pandemia, resume Sabóia.

"O brasileiro está voltando a conseguir trabalhar, mas sem recuperar o que foi perdido no ano passado. O crescimento se dá a partir de uma base muito fraca e já sentimos a chamada recessão técnica. É muito difícil esperar uma recuperação do trabalho além do medíocre", pontua.

O economista e professor do Unit-PE Edgard Leonardo Lima reforça que mesmo os últimos anos de crescimento econômico foram de desempenho baixo, o que adia a recuperação do emprego. "O modelo de crescimento da década passada se esgotou por volta de 2013 ou 2014, mas com a pandemia, além dos problemas anteriores, o nosso mercado de trabalho ainda vai sofrer por novos choques tecnológicos."

Mais qualificação e tecnologia

Os analistas lembram que os próximos anos vão exigir uma maior qualificação e mais investimentos em tecnologia, e que a entrada do Brasil na economia internacional depende de uma estratégia de aumento de produtividade por meio de políticas direcionadas.

Segundo Edgard Lima, o caminho para o retorno a um mercado de trabalho aquecido no pós-covid-19 passa por aproveitar as oportunidades que surgem com a transição energética que o mundo planeja e o investimento em capital humano para os novos empregos que irão surgir com a chamada economia verde.

"Para isso, a gente precisa de uma ação coordenada que torne a economia brasileira mais sustentável e que aproveite o potencial de geração de empregos a partir disso. É preciso ter liderança e planejamento, duas coisas que não temos hoje. Ou melhor, não tem há muito tempo."

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Economista Edgard Leonardo - Divulgação

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