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Depois do vendaval, vem a falta de energia. Saiba por que, em alguns locais, o serviço demora mais de 40 horas para ser reestabelecido

Em alguns locais, os consumidores chegaram a passar mais de 40 horas sem energia depois do vendaval que ocorreu na noite da sexta-feira (28).

Angela Fernanda Belfort
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Angela Fernanda Belfort
Publicado em 03/02/2022 às 16:01
FOTO: BERG ALVES
GUABIRABA Nutricionista Isabelly Nunes ficou sem energia da sexta-feira (28) até o domingo 30 - FOTO: FOTO: BERG ALVES
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*com informações da TV Jornal

Não foi a primeira vez e nem será a última que o fornecimento de energia é interrompido por causa de um vendaval, como o que ocorreu na sexta-feira (28) no Grande Recife. Mas o que chama a atenção é que, em alguns locais, os consumidores passaram um dia sem energia e em outros ficaram por mais de 40 horas sem este serviço tão essencial. A empresária Maria Helena Mota ficou sem energia na sua casa no Condomínio Rancho do Vale, Bairro de Guabiraba, em Recife, por 43 horas depois do vendaval. "Assim que começou a variação da energia, a TV deu um pipoco. Depois, veio a falta (de energia) que começou na sexta às 23 horas e só voltou às 18 horas do domingo", conta.

>> Após vendaval, bairros do Grande Recife já passam das 32 horas sem energia 

Além da televisão, que levou para o conserto, ela perdeu tudo que tinha dentro da geladeira inclusive uma medicação que custou R$ 600. Helena diz também que mais oito condomínios, localizados próximos à Estrada da Mumbeca, ficaram sem energia por mais de 40 horas. "A falta de energia aqui é constante. Basta uma chuva mais forte que ficamos sem o serviço. Nesta terça-feira (02), não choveu, mas o fornecimento foi suspenso das 9 horas até perto das 14h30m", argumenta a empresária. Ela sugere que uma poda das árvores feita, regularmente, na Estrada da Mumbeca poderia minimizar o problema, reduzindo a quantidade de árvores que cai durante as chuvas fortes por cima da rede elétrica. Quando isso ocorre, o serviço é interrompido. 

 

Também moradora de um condomínio no Bairro de Guabiraba, a nutricionista Isabelly Nunes, disse a reportagem da TV Jornal, que ficou sem energia da sexta-feira (28) até o domingo. "Aqui, a falta de energia provocou também a falta de água. Jogamos fora todos os resfriados e congelados que estavam na geladeira", lamenta.

Ainda na área de Aldeia, na comunidade do Engenho Rodrizio, localizado no km 14 da Estrada de Aldeia, os moradores ficaram sem energia das 20h da sexta-feira (28) até as 16 h do domingo (30), passando 44 horas sem energia. "O prejuízo foi grande. Muitas famílias perderam tudo que tinha nas suas geladeiras", lamenta o representante da comunidade Jose Gomes. Ele alega que a situação foi angustiante e muitas pessoas ficaram lhe ligando para ter notícias sobre o retorno do serviço. 

"Os apagões passaram a ser uma rotina no cotidiano de Aldeia desde a pandemia. Antes era complicado, depois ficou ainda mais. A região está abandonada pela Neoenergia Pernambuco, que diz fazer investimentos na rede, mas continuamos vendo - e cada vez mais - os problemas de falta de energia elétrica aqui", diz a vice-presidente do Fórum Socioambiental de Aldeia, Ludmila Portela. Depois da pandemia, muitas pessoas passaram a gastar mais energia residencial, porque passaram a trabalhar nas suas casas. 

Ludmila menciona que "os moradores sofrem com os prejuízos gerados pela ineficiência dos serviços da empresa, principalmente nos dias de chuva, já que como está em área de mata, a vegetação costuma ser a causa de rompimento de cabos". E lembra que seria necessária uma manutenção preventiva e uso dos cabos isolados adequados à este tipo de distribuição. "Isso sem falar no perigo que esse tipo de acidente representa para as pessoas. É preciso adequar a oferta à nova demanda e atualizar os equipamentos", acrescenta.

Do outro lado da Região Metropolitana do Recife, no Bairro de Jardim Atlântico, em Olinda, moradores da localidade passaram quase 40 horas sem energia. "Aqui no prédio, foi terrível. Teve apartamento que ficou  o sábado quase todo sem energia. E, no domingo, veio chegar ao meio dia. Passamos a tarde do sábado e a manhã do domingo, ligando várias vezes pra Celpe, e cada vez , eles diziam um horário diferente de chegada de energia", relata a corretora Elbinha Torreão. 

DEMORA 

Algumas localidades da área extendida de Aldeia (que passa por Camaragibe, Paudalho e ainda uma parte do Recife), Olinda e Paulista estão entre as que mais demoraram para ter o serviço restabelecido depois da ventania, de acordo com informações da própria Neoenergia. "Os ventos da sexta-feira (28) foram uma condição atípica de até 60 km por hora. Foi um evento climático de alta intensidade só sendo comparado ao vórtice ciclônico que ocorreu no dia 29 de janeiro de 2016, que se concentrou mais em Recife. O da sexta-feira foi mais abrangente e se espalhou por vários municípios da Região Metropolitana do Recife", afirma o superintendente da Neoenergia Pernambuco, André Santos.

A primeira causa que leva a demora da religação do serviço, segundo André, é o volume de chamados que aumenta muito num curto espaço de tempo. A ventania do dia 28 fez a Neoenergia Pernambuco receber mais de 6 mil chamados com pedidos de religação do serviço. "Damos prioridades à falta de luz em sistemas de abastecimento de água e hospitais. Lamentamos, mais alguns clientes esperam mais nos locais em que o serviço só é restabelecido depois de serviços mais complexos", explica André.

O outro fator que faz a religação do serviço demorar é a complexidade do dano provocado pela intempérie, segundo André, quando a religação do serviço inclui a troca da rede elétrica (dos fios), substituição de postes, retirada das árvores que caíram por cima dos cabos etc. A retirada das árvores é feita em parceria com as prefeituras locais e a distribuidora tem que aguardar a ação do município, responsável por este tipo de remoção, de acordo com André.

Anualmente, a Celpe realiza investimentos na rede distribuidora e informa que estes investimentos vão deixar a rede mais robusta, percepção que não chega ao cidadão, principalmente depois de um vendaval.  "Seria pior senão ocorressem os investimentos. A solução para melhorar é continuar investindo na automação da rede e deixar a rede mais inteligente", comenta André.

A rede automatizada permite a religação do serviço de forma remota, mas só quando não acontecem ocorrências, como queda ou rompimento dos fios, queda de árvores ou postes. No caso da Neoenergia, 100% da rede possui algum grau de automação.

Ainda de acordo com André, o serviço foi religado, em média, uma hora depois que ocorreu o chamado na maioria dos caso. Ele também afirma que a Neoenergia Pernambuco registrou os melhores números que medem a qualidade do serviço no terceiro trimestre de 2021. Segundo dados da Agência Nacional de Energia  Elétrica (Aneel), a concessionária fechou o período com uma média 8,91 horas de interrupção do serviço, o melhor histórico acumulado para um terceiro trimestre.  Nos últimos 12 meses - contados até o terceiro trimestre do ano passado -, a concessionária registrou, na média, 12,06 horas de interrupções contra as 13,27 horas previstas na regulação. Estes números são fornecidos pela própria Neoenergia Pernambuco à Aneel e não passam por uma auditoria externa. A Aneel é o órgão que regula o setor elétrico brasileiro.  

Ainda com relação às previsões de retorno do serviço, André esclarece que muitas das previsões dadas aos consumidores são feitas por um sistema automatizado que usa uma referência sem a crise (como por exemplo, a provocada por um vendaval), e estabelece um prazo mais rápido do que o consegue fazer por não levar em conta a complexidade de certos serviços necessários depois de um intempérie. 

André também aconselha aos consumidores que têm tido problemas constantemente com o fornecimento do serviço a fazer uma reclamação formal em um dos canais de atendimento da empresa para que a distribuidora analise o caso de forma específica. Os canais estão disponíveis no site da distribuidora (www.neoenergiapernambuco.com.br).

 

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