O avanço da fome no Brasil é ainda mais dramático no Nordeste. De uma população de 53 milhões de habitantes, 12 milhões não tem o que comer. Com um histórico de pobreza maior do que o País, junto com o Norte, a região assistiu a um crescimento exponencial da insegurança alimentar (quando uma pessoa não tem acesso regular e permanente a alimentos). O II Inquérito Nacional Sobre Segurança Alimentar no Contexto da Pandemia Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan) em parceria com mais seis entidades, mostra que triplicou o número de nordestinos que dormem sem saber se vão se alimentar no dia seguinte.
Isso quer dizer que além dos 12 milhões que passam fome (insegurança alimentar grave), outros 10 milhões estão em situação de insegurança alimentar moderada (quando a quantidade de alimento não é suficiente para atender as necessidades da família). Foi este reecorte que teve um crescimento espantoso no período de análise do inventário entre novembro de 2021 e abril de 2022. Neste intervalo, o número explodiu de 7,7 milhões para 22 milhões de pessoas sem saber se vão comer e alimentar a família.
GEOGRAFIA DA FOME É A MESMA
Quase 70 anos depois de Josué de Castro ter escrito o livro Geografia da Fome e demonstrado que o fenômeno não é um processo natural e, sim, provocado pelo homem, o mapa da fome no Brasil continua o mesmo. Os maiores índices de pobreza e desigualdade persistem nas regiões Norte e Nordeste.
Entre os nordestinos, em cada dez famílias, quatro enfrentam as formas mais severas de insegurança alimentar (moderada ou grave). Isso significa 38,4% da população e um número de 22 milhões de nordestinos. No Norte a situação é semelhante, com 45,2% das pessoas nesta condição. Nas outras regiões o percentual vai caindo. No Centro-Oeste é de 28,4%, no Sudeste de 27,4% e no Sul de 21,7%.
Outro recorte geográfico é a fome entre as populações rurais e urbanas. Os piores níveis de IA foram observados em domicílios rurais de agricultores familiares/produtores rurais onde houve perdas na produção, decorrentes da dificuldade de comercializar seus produtos, com IA grave em 25,6% dos domicílios de agricultores familiares/produtores rurais.
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