Falar sobre energia renovável não é falar sobre futuro, mas sobre um presente cada vez mais presente. As matrizes energéticas, verdes ou fósseis, demonstram viabilidade todos os dias e, elas mesmas, direcionam o rumo que a geração de energia terá no planeta. A verde tem se sobressaído com vantagens espaciais, com responsabilidade socioambiental e com possibilidades infindáveis de produzir energia com impactos mínimos. E isso tem feito cada vez mais sentido.
No Brasil, a geração de energia via hidrelétricas corresponde a quase 70% do total, o que coloca o país como um forte consumidor de energias renováveis. Somando com outras fontes - eólica ou solar, produção a partir de biogás, biomassa, hidrogênio verde ou lixívia negra, por exemplo - o país tem mais de 80% de uso de energia verde.
Jullius Menino, consultor em Inovação e professor de Gestão Energética e Sustentabilidade, comenta que há necessidade crescente de migração para matrizes renováveis e que até 2050 a participação do Nordeste brasileiro na geração de energia renovável deverá superar 50% do total produzido.
Hoje, o abastecimento energético brasileiro é completado por usinas térmicas e incipientes instalações de usinas de energia nuclear. “O impacto ambiental da instalação de uma hidrelétrica entra em outra análise. Mas, além de esse tipo de construção não ocorrer há mais de 15 anos, devemos considerar que o impacto ambiental é menor que a construção de um gás natural”, pondera o professor de Engenharia do Centro Universitário UniFBV, Miguel Melo.
Melo explica ainda que o uso de biomassa - como casca de arroz e palha da cana-de-açúcar - vem ganhando espaço no Brasil nos últimos 30 anos. Há usinas de açúcar que se retroalimentam, usando o bagaço da cana para mover a produção. Há geração de energia, ainda, a partir de dejetos de animais, como galináceos, caprinos e ovinos. A energia renovável é considerada limpa - do outro lado estão as não renováveis, derivadas do petróleo (como a gasolina e o diesel), geradas por usinas térmicas movidas a gás natural e carvão. Seus rejeitos, como o CO², têm prejuízos progressivos. É um dos inimigos, como se sabe, da camada de ozônio terreste.
Segundo o biólogo Carlos Eduardo Oliveira, professor titular da Unit Pernambuco e doutor em tecnologias energéticas e nucleares, países europeus, basicamente, têm pouquíssimas hidrelétricas. “Então, a Europa se preocupou em buscar termelétricas, usinas nucleares. Mas também podemos citar a Holanda, que tem um parque de geração eólica em sua costa”, pontua. E ao se escolher a aposta energética, muito há de ser ponderado. Usinas nucleares, por exemplo, não jogam CO² na atmosfera, mas um eventual acidente tem repercussões graves. E, como reforça o professor Miguel Melo, quando se fala em consequência para o planeta, não existe “jogar fora” e o lixo atômico, resíduos como urânio e plutônio, são perigosos para o meio ambiente.
Além do mais, há o custo da produção de energia a partir de cada uma dessas matrizes. No caso da conta do brasileiro, as bandeiras tarifárias indicam se e quanto foi necessário complementar no sistema de abastecimento. Quando os reservatórios de água estão baixos, o que tem acontecido muito nos últimos anos, é preciso lançar mão da energia térmica. E isso tem jogado os preços para o alto.
Combustível do futuro
Segundo dados do Instituto Avançado de Tecnologia (IATI), o consumo global de energia deve crescer 50% até 2050, em média. Em países em desenvolvimento e economias emergentes, ainda mais: a alta projetada é de 70%. De acordo com o IATI, isso significa que alternativas como o hidrogênio verde (H2V) são absolutamente essenciais para uma transição energética bem sucedida, assim como para alcançar as metas climáticas internacionais. “A questão maior não é uma alarmada escassez das matrizes fósseis, mas a degradação que elas causam ao meio ambiente”, pontua Jullius Menino.
“Com o decorrer dos anos, para receber novos investimentos, vamos precisar de outras formas de geração de energia. A tendência é mundial e o Brasil não deve ficar de fora”, diz Carlos Eduardo de Oliveira. “Mesmo que haja lobby, o caminho não pode ser diferente. A população está mais atenta. Além disso, as questões ambientais também são lucrativas”, pontua Oliveira.
E as perspectivas para o H2V são prósperas. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), os métodos de obtenção do hidrogênio verde poderiam reduzir a emissão de gás carbônico (CO2) em 830 milhões de toneladas por ano. Pernambuco, aliás, está nesse caminho, com projetos de produção de H2V para o Complexo Industrial Portuário de Suape. “Estamos trabalhando efetivamente no desdobramento de sete memorandos de entendimento (MoU) firmados junto às empresas interessadas em desenvolver e implantar unidades de produção de hidrogênio verde”, diz o diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Suape, Carlos Cavalcanti.
“Além disso, 88% dos parques eólicos e solares que existem no país estão no Nordeste favorecendo uma alta competitividade para a região no suprimento de energia renovável no acionamento dos eletrolisadores para a produção do H2verde e amônia verde”, acrescenta Cavalcanti.