O leite longa vida nunca esteve tão caro. Na prateleira do supermercado, o preço da caixinha supera o litro da gasolina (produto que fez explodir a inflação, graças aos seus constantes aumentos). Dependendo da marca e do canal de venda, o leite UHT varia de perto de R$ 6,00 até R$ 7,99. Com a redução do ICMS sobre os combustíveis, o litro da gasolina é encontrado com valores entre R$ 6,89 e R$ 7,14 em Pernambuco.
A pergunta que o consumidor se faz, diante do preço do leite nas alturas, é o que provocou uma alta tão grande em um curto espaço de tempo. Pelos dados do Dieese, entre dezembro de 2021 e fevereiro deste ano, o valor do produto estava em queda. A subida começou a partir de março e não parou mais. A alta no primeiro semestre chegou a 18,24% no Estado. Embora seja um fenômeno nacional, o reajuste do leite tem algumas peculiaridades em Pernambuco.
Variação no preço do leite em 2022 (%)
O presidente do Sindicato das Indústrias do Leite no Estado de Pernambuco (Sindleite-PE), Alex Costa, explica que vários fatores contribuíram para que o longa vida alcançasse valores nunca vistos pelo consumidor. "O dólar favorável elevou as exportações de commodities como milho, soja e algodão, que são utilizados na alimentação do gado. Isso aumentou a disputa no mercado interno por esses insumos e provocou uma alta nos preços da ordem de 100%", afirma.
Essa conjuntura afetou o preço do leite em todo o País, mas Pernambuco ainda contou com alguns agravantes. Em maio, o mercado de lácteos foi informado sobre a fusão da cearense Betania, com a mineira Embaré e o fundo de private equity Arlon LATAM. A união das três deu origem a Alvoar Lácteos, que passa a ser a quinta maior empresa de laticínios do Brasil.
"A Betania tem uma fábrica no município de Pedra (no Agreste) e a união das duas indústrias provocou um aumento na captação de produto na bacia leiteira de Pernambuco. O aumento da demanda reduziu a oferta e fez com que o preço do leite subisse", destaca Costa.
Com preços altos por todo o País, Pernambuco também sofreu uma redução da oferta de leite de outros Estados. "Quando os preços estão baixos, Estados exportadores como São Paulo e Minas Gerais costumam desovar suas produções no Nordeste. Com o litro vendido a R$ 10,00 em São Paulo e R$ 7,00 em Minas, esse leite será comercializado no mercado local para aproveitar o valor, ao invés de seguir para um mercado onde o preço de venda seria menor", observa.
De acordo com o Sindleite, Pernambuco importa cerca de 40% do leite que consome de outros estados. O sindicato diz que o volume de leite chegou a ser reduzido na prateleira dos supermercados, mas que não chegou a faltar. "As pessoas das classes A e B podem pagar o valor reajustado e continuam comprando, mas a população de baixa rende substituiu o longa vida pelo barriga mole (leite de saquinho) ou mesmo deixou de consumir", diz.
Para completar o cenário, Pernambuco sofre com chuvas acima da média desde maio, que atrapalharam a logística do leite. Em função da lama, dos buracos e dos atoleiros provocados pela enchente, os caminhões estão enfrentando dificuldade para fazer a coleta de leite nas propriedades e as empresas aumentaram o frete. Isso sem falar nos constantes reajustes no preço do diesel.
"As chuvas atrapalharam bastante. Um trajeto que era feito em meia hora está demorando duas horas para ser concluído. Isso fez com que o preço tivesse um reajuste de 40%. Se antes se pagava R$ 11 mil por um caminhão, agora o valor subiu para algo entre R$ 16 mil e R$ 18 mil", calcula Costa.
Essa dificuldade de escoar a produção também está trazendo prejuízo aos produtores. O presidente do Sindicato dos Produtores de Leite de Pernambuco (Sinproleite), Saulo Malta, revela que muitos pecuaristas já precisaram derramar o leite e perder a produção.
"Isso sem falar que nessa alta do leite não é o produtor quem está se beneficiando. Hoje esamos recebendo R$ 2,30 pelo litro; enquanto na mesma época do ano passado o valor estava em R$ 2,40", compara. Atualmente Pernambuco tem uma média de 100 mil produtores e é responsável por produzir 2,5 milhões de litros de leite por dia.
A exectativa é que a alta do leite não se transforme em uma tendência e que os preços voltem a cair e se acomodem em um patamar menor que o atual. O dólar arrefeceu em relação ao ano passado, as chuvas devem passar e os novos payers do mercado devem estabelecer um volume de compras.
"Esse preço (alto) não deverá se sustentar por muito tempo. A previsão é que caia e fique entre R$ 4,50 e R$ 6,00 até o final do ano", acredita Costa.