Os trabalhadores por conta própria do Nordeste não estão nesta condição por escolha, mas por falta de opção. Sondagem inédita do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE) sobre o mercado de trabalho no Nordeste mostra que a maioria dos trabalhadores por conta própria gostaria de deixar a categoria e entraram nela porque estão desempregados ou precisam de um rendimento.
No Brasil, o trabalho por conta própria representa 25% das ocupações, chegando a mais de 30% em algumas regiões, segundo dados da PNADC do IBGE. A primeira pergunta da Sondagem tentou identificar se os trabalhadores dessa categoria gostariam de mudar de ocupação para uma que fosse ligada a uma empresa pública ou privada.
Do total, 69,6% dos trabalhadores por conta própria disseram que gostariam de ter algum vínculo formal com uma empresa e 30,4% prefeririam manter-se na situação atual. O número de pessoas querendo mudar de condição foi expressivo em todas as regiões, mas se destacou no Nordeste.
A região Nordeste foi a que encontrou o maior percentual por conta própria que gostariam de estar ligados a uma empresa: 76,7%. As principais motivações para esta preferência apontados na pesquisa foram a vontade de ter rendimentos fixos (38,4%) e ter acesso ao conjunto de benefícios que uma empresa pode oferecer (36,5%).
No extremo oposto, na região Sul ocorreu o maior percentual de trabalhadores afirmando que gostariam de se manter nessa ocupação (40,0%), tendo como principais razões apontadas, a possibilidade de se ter
flexibilidade de horários (16,5%) ou por acreditarem que nessa maneira os rendimentos são maiores (13,6%).
A pesquisa também questionou os trabalhadores sobre o que eles faziam antes de se tornarem por conta própria e a principal motivação para que eles tivessem entrado para esta categoria de trabalho. A principal
ocupação anterior, em todas as regiões do País, era a do trabalhador empregado com carteira assinada, sugerindo que essas pessoas perderam seus empregos e migraram para a categoria dos conta própria.
Nas regiões Norte e Nordeste, são registrados os maiores percentuais de pessoas que estavam desempregadas anteriormente. Também na região Nordeste, onde seencontra uma alta informalidade nas ocupações, é possível notar que a segunda ocupação de origem eram os trabalhadores sem carteira assinada.
Outro ponto interessante, é que na região Sul, a soma da categoria empregadores (com ou sem CNPJ) é a maior, chegando a 11,4%, dando a entender que já eram empresários, apenas mudaram o tipo do negócio.
DESEMPREGO, INFORMALIDADE E DESALENTO
Além do alto índice de trabalho por conta própria, o Nordeste também tem (historicamente) uma taxa de desemprego maior do que no restante do País. Na região, a taxa está em 12%, enquanto no Brasil fica em 8,7%, segundo informações referentes ao terceiro trimestre.
O desemprego não é o único problema. A região também tem ocupações mais precarizadas. Mais da metade dos trabalhadores do Nordeste (52,2%) está na informalidade, enquanto no Brasil essa fatia é de 39,4% e, no Sul, de 30%. Esse dado ajuda a explicar o fato de que o rendimento médio do trabalhador na região é 33% inferior à média nacional das ocupações.
A taxa de desalentados é outra preocupação no mercado de trabalho do Nordeste. As pessoas que desistiram de procurar emprego representam 9% da população que está fora da força de trabalho, um nível bastante acima do nacional, de 3,8%.