O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira (22), manter a taxa básica de juros, Selic, no atual patamar. Esta foi a segunda reunião do comitê no governo Lula e ocorre em meio às pressões sob o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pela redução da taxa de juros. No entanto, o Copom manteve, pela quinta vez, a taxa em 13,75% ao ano, patamar que está desde agosto de 2022, o maior nível desde dezembro de 2016.
"Os episódios envolvendo bancos nos EUA e na Europa elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento. Em paralelo, dados recentes de atividade e inflação globais se mantêm resilientes e a política monetária nas economias centrais segue avançando em trajetória contracionista", disse em comunicado.
De acordo com o BC, em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom.
"A inflação ao consumidor, assim como suas diversas medidas de inflação subjacente, segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus se elevaram desde a reunião anterior do Copom e encontram-se em torno de 6,0% e 4,1%, respectivamente".
As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* elevaram-se para 5,8% em 2023 e para 3,6% em 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 10,2% em 2023 e 5,3% em 2024.
"O Comitê optou novamente por dar ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, referente ao terceiro trimestre de 2024, cuja projeção de inflação acumulada em doze meses situa-se em 3,8%. Em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 5,7% para 2023, 3,3% para o terceiro trimestre de 2024 e 3,0% para 2024. O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual".
Para o economista Ulisses Ruiz de Gamboa, do IEGV da ACSP, a decisão do Copom de manter a taxa SELIC em 13,75% ao ano veio em linha com as expectativas de mercado, pois, a inflação, apesar de mostrar desaceleração, continua elevada, e, em termos anuais, bem acima do “teto” da meta perseguida pela autoridade monetária.
”A manutenção da Selic também se justifica pelo fato de o Banco Central norte-americano (FED) ter aumentado em 0,25% a taxa de juros básica, e pela incerteza externa gerada pela quebra de alguns bancos nos Estados Unidos e na Europa. Para o economista, os dois fatores tendem a elevar a cotação do dólar no Brasil, gerando pressão adicional nos preços internos. Em todo caso, se aguarda a definição de um novo arcabouço fiscal que, ao restabelecer a solvência das contas públicas, gere redução nas expectativas de inflação, e, com isso viabilize a diminuição da taxa Selic, permitindo maior geração de empregos e de atividade econômica.