A inflação voltou a desacelerar em maio, desta vez sob influência da queda nos preços das passagens aéreas e dos combustíveis, e levou o mercado a refazer suas projeções para os próximos meses. Alguns analistas passaram a considerar a possibilidade de deflação neste mês e de uma inflação abaixo de 5% no acumulado do ano.
Pelos dados divulgados ontem pelo IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,23% no mês passado, ante 0,61% em abril. Foi a menor variação mensal desde setembro de 2022.
O resultado surpreendeu até mesmo os analistas mais otimistas consultados pelo Projeções Broadcast, que esperavam inflação entre 0,24% e 0,45%. O desempenho reduziu a taxa acumulada em 12 meses, que passou de 4,18%, em abril, para 3,94% até maio. Como comparação, a meta de inflação para este ano perseguida pelo Banco Central é de 3,25%, com tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos - ou seja, entre 1,75% e 4,75%.
"Se pegarmos o IPCA-15 e o (IPCA) cheio, não tínhamos uma surpresa acumulada tão grande desde 2005 na série histórica", diz o economista Luís Menon, da Garde Asset. Segundo ele, após esse resultado, as chances de uma deflação em junho voltaram a aparecer.
Para o ano, a projeção de alta de 5,1% do IPCA ganhou viés de baixa, e Menon diz não ser improvável a inflação fechar o ano abaixo de 5%. "É impressionante a velocidade dessa queda, que é muito puxada por alimentos."
Já a estrategista de inflação da corretora Warren Rena, Andréa Angelo, projeta uma deflação de 0,09% para o IPCA de junho. Para o mês seguinte, a expectativa é de variação positiva entre 0,20% e 0,24%. As projeções da Warren para o IPCA de 2023 (de alta de 4,8%) e 2024 (4,2%).
O resultado também deve aumentar a pressão para que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC retome a trajetória de corte da Selic, que hoje está em 13,75%.
A próxima reunião do colegiado está marcada para os dias 20 e 21 deste mês. Por ora, a maioria dos analistas trabalha com um cenário de redução da taxa básica de juros só a partir de agosto.
"Caso a evolução dos dados continue nessa trajetória, a janela para cortes na taxa de juros começa a se abrir", disse Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
Para o economista André Perfeito, o IPCA de maio "sacramenta" o corte na Selic, embora ele também não espere uma redução na reunião deste mês.
Os preços das passagens aéreas caíram 17,73%. Houve recuo também no óleo diesel (-5,96%), gasolina (-1,93%) e gás veicular (-1,01%) apesar de o etanol ter subido (0,38%). As famílias pagaram mais pelo tomate (6,65%), leite longa-vida (2,37%) e pão francês (1,40%). Por outro lado, houve queda nas frutas.