Empresas brasileiras estão aproveitando a melhora no mercado de capitais, no Brasil e no exterior, para começar captações que devem chegar a um total de R$ 40 bilhões por meio de ofertas de ações na Bolsa de Valores (B3) e emissões de títulos de dívida no mercado local e externo.
A maior parte desses recursos está sendo usada pelas companhias para pagar dívidas, mas empresas como Suzano, CSN, Localiza e Direcional planejam levantar dinheiro para investimentos e planos de expansão.
Nesta segunda, a Petrobras emitiu US$ 1,25 bilhão (R$ 5,95 bilhões) em bonds de 10 anos, pagando ao investidor taxa de 6,625%. A operação sucede a da Cosan, que captou US$ 550 milhões em bonds de 7 anos. As empresas brasileiras ficaram vários meses sem acessar recursos no exterior por causa de fatores externos e internos.
A reabertura da janela no mercado de capitais acelerou uma agenda de operações que era esperada para o segundo semestre. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) resolveu pausar as altas de juros e, no setor financeiro, as quebras de bancos americanos ou europeus, que assustaram investidores, pararam de acontecer.
No mercado doméstico, a surpresa com a mudança de perspectiva da classificação de risco do Brasil pela Standard & Poor’s (S&P), a inflação cedendo, a aprovação do arcabouço fiscal na Câmara e a expectativa de queda dos juros - que fazem as taxas futuras caírem - estão entre os fatores que estimularam a melhora do mercado, que patinou nos primeiros meses de 2023, abalado pelo escândalo da Americanas.
Esta semana, devem ser fechadas três ofertas de ações (follow-on), da Localiza, Vamos e Direcional. Só a primeira, pode captar R$ 4,5 bilhões. Na semana passada, duas ofertas tiveram excesso de demanda, a da CVC e a da Oncoclínicas. As duas empresas usaram parte dos recursos para pagar dívidas. Nas debêntures, a Cemig, estatal mineira de energia elétrica, captou R$ 2 bilhões, a Iguá, do setor de saneamento, está captando R$ 3,8 bilhões e a Suzano planeja levantar R$ 1,5 bilhão.
Felipe Thut, diretor-geral do Bradesco BBI, diz que o total de follow-ons este ano pode superar os R$ 24 bilhões de 2022. "A nuvem de incerteza começou a se dissipar", disse. Em evento realizado em Londres para investidores internacionais, a mensagem foi a de que estão prontos para voltar a participar das operações em Bolsa, afirmou.
O diretor sênior da Fitch Ratings, Mauro Storino, afirma que o curso normal das empresas é estarem sempre captando, para investimento ou rolagem de dívida. No entanto, ele diz que, o evento de Americanas e Light acabaram represando uma série de operações previstas para acontecer no primeiro semestre.
"Não dá para aguardar o ano inteiro e em algum momento as companhias têm de tomar recursos, por mais que ainda o custo de captação esteja mais caro. Por isso vemos empresas voltando a acessar o mercado", diz o diretor Fitch.
Storino afirma ainda que o fato de algumas companhias estarem rodando operações no mercado local e externo ao mesmo tempo, como a Cosan - que emitiu títulos no exterior e vai levantar debêntures no Brasil - ou no mercado de dívida e ações, como Vamos, reflete estratégias de diversificação de "bolsos" ou de estrutura de capital mais adequada para que a companhia não se alavanque demais em dívida.
O executivo de um banco estrangeiro que preferiu não se identificar, afirma que várias das ofertas de ações refletem rolagens ou pré-pagamento de dívidas tomadas pelas companhias durante a pandemia ou em rolagens posteriores a 2020.